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Drogas

Apreensões de plantio de maconha no Nordeste não influenciam tráfico na fronteira

Enquanto toneladas são destruídas pela Polícia Federal no Sertão Pernambucano, 80% da cannabis produzida no Paraguai tem como destino o mercado brasileiro.
Operação Macambira II. Foto: divulgação Polícia Federal.

Notáveis operações da Polícia Federam vêm sendo postas em prática nos últimos anos no Nordeste do país. A justificativa é dificultar o comércio ilegal de maconha. Entre os dias 4 e 15 deste mês, para se ter ideia, foram apreendidos 265 mil pés no sertão do Estado do Pernambuco. A ação, nomeada "Macambira II", enquadrou plantações em ilhas do Rio São Francisco e nas regiões de Orocó, Cabobró, Belém do São Francisco, Santa Maria da Boa Vista, e nas áreas de caatinga em Salgueiro, Carnaubeira da Penha, Serra Talhada, Betânia e Floresta. São terras sem dono, posses absolutas do Governo Federal. Ficam em locais de difícil acesso. Só se chega lá de barco.

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“Essas operações são realmente programadas, acompanhando o ciclo produtivo da maconha. Geralmente são três meses, então a gente faz quatro operações anuais. O foco é a não proliferação da maconha aqui no sertão”, disse à VICE o chefe de comunicação da PF Giovani Santoro. “A gente vai direto nos focos do plantio para que a droga não seja colhida, prensada e colocada no mercado consumidor”.

A erva produzida no Sertão Pernambucano, segundo Giovani, não é suspeita de estar sob controle de grupos criminosos. “Não temos conhecimento de um grupo específico que controle as plantações na região, porque são várias cidades ao mesmo tempo. Fica muito difícil pra um único grupo coordenar tudo isso”, afirma o porta-voz da PF. “O que acontece é que são vários traficantes aliciando ex-plantadores pra tomar conta dessas roças. Como os agricultores não têm muito incentivo para migrar a outra cultura de subsistência, eles são tentados a plantar maconha porque recebem dinheiro de várias pessoas”.


Assista ao nosso documentário "A Legalização da Cannabis no Brasil"


Em operações como esta, que contou com um efetivo de mais de 90 policiais federais e militares do Corpo de Bombeiros, uma aeronave do Grupo Tático Aéreo da Secretaria de Defesa Social e duas aeronaves da Coordenação de Aviação Operacional da Polícia Federal, além de dois botes infláveis e uma ambulância dos bombeiros, é difícil a ocorrência de prisões.

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Membros da Polícia Federal na Operação Macambira II. Crédito: divulgação Polícia Federal.

“As pessoas percebem a nossa aproximação e a tendência natural é se afastar. Se tem prisão é ótimo, mas o grande objetivo mesmo é realmente a erradicação do plantio. Veja bem: agora nessa última, foram milhares de pés de maconha que, se fossem transformados em maconha pronta pro consumo, daria 88 toneladas”, calcula Giovani. “Vamos seguir com essas operações periodicamente. A cada ano, com um nome diferente”.

A oferta, no entanto, acaba suprida com maconha que cruza o entreposto Brasil-Paraguai e que abastece também o Cone Sul. Apesar dos números de plantações apreendidas pela PF, as ações não conseguem barrar a continuidade de importação do país vizinho, sendo que a maior parte das apreensões de maconha pronta para consumo em território nacional é vinda de lá. Como mostram reportagens recentes da revista Época e da Folha de S. Paulo, publicada em abril deste ano, facções brasileiras que controlam o tráfico já estabelecem também a própria produção de drogas em solo paraguaio, de modo a baratear os custos.

Dados da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai revelam que o Paraguai tem 4 mil hectares estimados de plantio da droga, sendo cerca de 80% desse montante destinado ao Brasil. No começo deste ano, de acordo com informações divulgadas pela PF, foram apreendidas cerca de 865 toneladas dessa maconha na região de Pedro Juan Cabalero, dentro da operação Nova Aliança, um número histórico. No ano passado, foram apreendidas 354 toneladas no Brasil. Só as polícias estaduais apreenderam 427 toneladas da droga em Mato Grosso do Sul no ano passado. O crescimento foi de 200%, num período de cinco anos.

Assim, por ironia, os números de plantações apreendidas no Brasil acabam estimulando o trâmite criminoso na fronteira, pois esta parece uma causa insolúvel e as facções atuam estrategicamente, prontas para suprir a baixa das grandes apreensões, por maiores que sejam.

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