Histórias de idosos inacreditavelmente chapados na juventude

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Histórias de idosos inacreditavelmente chapados na juventude

Falamos com pessoas mais velhas sobre a época em que LSD, maconha, haxixe e a música colidiam nas suas mentes.
JB
ilustração por Joel Benjamin
SO
Traduzido por Sarah Oliveira

Matéria originalmente publicada no Noisey US.

Cardigans beges surradinhos. Palavras cruzadas de jornal completas e em dia. Um armário cheio de doces. Os clichês sobre como os nossos avós são caretas acabam se sobrepondo totalmente a ao que de fato eles eram na juventude. Eu estou falando do tempo antes de os seus próprios pais existirem na vida deles. Você já parou para pensar como o seu avô era aos 19 anos, saindo de casa e curtindo a noite? Não? Bom, é aí que a gente entra.

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Uma das melhores coisas das pessoas mais velhas é a sabedoria delas. É sempre bom se ligar em como era dar rolê quando elas eram mais jovens e saíam à noite. É mais interessante do que ler matérias de jornal atuais sobre a Geração Z não beber nem se drogar ou se preocupar com o peso esmagador das dívidas de cheque especial e cartão de crédito deles. Isso posto, música e drogas estão em um tipo de relacionamento de longo prazo que não será totalmente destruído por uma geração que escolhe destruir menos neurônios com substâncias ilegais e legais. Então, em vez de ouvir os planos de fumar maconha das pessoas da nossa idade, nós ligamos para alguns aposentados para saber quais foram os momentos mais memoráveis deles quando ficaram doidões ouvindo música.

“O ácido fez efeito o dia todo e nós tiramos a roupa no meio da rua, em pleno dia.”

Foi no começo dos anos 1970 e eu estava tentando formar uma banda. Já tinha encontrado um baterista, que me apresentou pra um cara que sabia tocar baixo. O nosso baixista se revelou um tremendo fã de LSD e logo depois de a gente se conhecer ele nos deu alguns quadradinhos de ácido como presente de boas-vindas, que todos engolimos. Naquele dia, um desfile estava acontecendo na cidade, então as ruas estavam cheias de pessoas bem-humoradas — era um dia quente de verão, também.

O ácido não bateu até a gente chegar no desfile e “Sex Machine”, de Sly and The Family Stone começar a tocar nos alto-falantes. A guitarra nessa música em particular é tão funky que parece estar cantando para você. Só que “Sex Machine” é uma música instrumental de 13 minutos, mas eu estava convencido de que Sly cantava “tira a roupa”. E como soava muito transcendental, parecia que nós deveríamos obedecer aos comandos dele.

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Nós três ficamos dançando juntos na rua, nus. Em seguida, nosso baterista nos disse que ele estava dançando com a Minnie Mouse. E eu também me convenci de que a estava vendo. Então estávamos todos dançando com a Minnie quando um amigo meu nos viu e nos colocou no banco de trás no carro dele.

Éramos três jovens negros dançando nus em um evento público em uma época que a polícia era bem racista. Sinceramente, se o meu amigo não tivesse nos salvado, nós teríamos sido presos por ato obsceno. A experiência foi incrível, mas eu nunca mais tomei ácido de novo. Norman, 64

“Louca de LSD e maconha, uma mulher viu doninhas saindo da capa de um disco do Frank Zappa”

Eu e meus amigos nos reuníamos nas nossas casas para ficar doidões e ouvir música. Era o verão de 1970 e Weasels Ripped My Flesh, de Frank Zappa and the Mothers of Invention tinha acabado de ser lançado. Nós estávamos meio chapados de maconha e também tínhamos LSD, então todo mundo estava muito de boa no meu apartamento.

Uma pessoa no grupo ficou com fome e perguntou se eu tinha uma fruteira. Eu disse a ela que havia laranjas e maçãs na fruteira. Ela quis laranja e eu joguei na direção onde ela estava. A fruta levou um tempão para chegar. Sério, pareceu levar pelo menos um ano. Foi como a cena em 2001: Uma Odisseia no Espaço em que o macaco atira um osso e ele permanece uma eternidade no ar. É, a gente estava viajando.

Estávamos sentados ouvindo “My Guitar Wants to Kill Your Mama”, que é completamente fora de escala. A

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canção

era como uma ascendência incrível, com as drogas e a música elevando uma a outra com perfeição. Alguns de nós estavam chapando com a música, balançando a cabeça, sorrindo, quando ouvimos um grito de repente.

A mesma garota para quem eu tinha jogado a laranja perguntou pra um amigo que música era aquela. Ele passou para ela a capa do disco e ela viu o homem risonho segurando uma doninha rasgando a bochecha dele. A imagem e as quatro palavras — Weasels Ripped My Flesh [doninhas rasgaram minha carne, em tradução livre] — ficaram na cabeça dela. Na viagem, ela se convenceu de que havia doninhas soltas pulando na direção dela. Felizmente, o resto do grupo curtiu bastante. Phil, 62

“Eu comecei a sentir que estava em um manicômio enquanto ouvia Pink Floyd”

Eu sei que é clichê, mas quando eu era mais novo, o Pink Floyd era uma banda cuja música poderia ser incrivelmente melhorada sob o efeito de maconha — em especial o Dark Side of the Moon. Esse disco, em particular, criava um senso aprimorado de euforia que eu achava muito relaxante e inspirador.

É difícil descrever, mas eu ouvia nuances nas músicas que pareciam construídas de propósito para que um ouvinte no mesmo “estado mental” conseguisse ouvi-las. A mais forte fez eu me sentir como se estivesse em algum tipo de manicômio. A parte em "Great Gig in the Sky” com um sample estranho de vocal, em que o homem diz: “Por que eu deveria ter medo de morrer? Não existe razão, você tem que partir em algum momento” fez com que eu sentisse que era um paciente dessas instituições psiquiátricas.

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Também ajudou o fato de que, na época, eu trabalhava como assistente no hospital local e passava muito tempo na ala psiquiátrica. Ouvir o disco sempre me levava de volta para lá. Era fascinante, irresistível, e também me causava alguns sentimentos muito desagradáveis. No geral, porém, eu adorava fumar um baseado e ficar com os fones de ouvido. A aposentadoria logo está por aí, e eu em breve pretendo dar um caldo no Wilie Nelson no quesito maconha.

Randy, 62

“Uma falta de luz fez com que eu sentisse que tinha sido transportado para uma música de Jackson Browne”

Minha mulher e eu fumávamos maconha ouvindo Beatles, como muitos casais da nossa idade faziam. Era uma ótima forma de melhorar a profundidade da experiência musical. Mas eu diria que uma das melhores coisas para se fazer chapado é você mesmo tocar uma música.

Nos anos 1970, eu e ela alugávamos um apartamento. Eu decidi fumar um baseado bem grosso, e depois tocar guitarra e cantar na mesa de jantar, enquanto minha mulher estava em outro cômodo. O apartamento tinha um problema nos fios e a eletricidade acabou, então do nada a sala ficou às escuras.

Instantaneamente, a escuridão fez com que sentisse que eu não existia mais como ser humano e minha consciência tinha sido transportada para dentro da música do Jackson Browne que eu estava tocando. A luz deve ter caído por uns cinco minutos, mas pareceu que eu estava submerso em um “lugar escuro” por muito mais tempo. Enquanto o apagão durou, eu fiquei completamente absorto pela música, que eu de alguma forma ainda estava tocando e cantando com perfeição. Quando a luz voltou, fiquei muito confuso. Colin, 73

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