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Por que essa mãe refez os passos do filho desaparecido no Peru

Jesse Galganov foi visto pela última vez num mochilão pelos Andes em outubro de 2017. Mais de um milhão de dólares foram gastos procurando por ele desde então.
Alisa Clamen (esquerda) na trilha de Santa Cruz no Peru; Jesse Galganov (direita) com sua mochila logo antes de sair para a viagem. Todas as fotos cortesia de Clamen.

Matéria originalmente publicada pela VICE Canadá.

Jesse Galganov deveria voltar para casa em Montreal, no Canadá, depois de um mochilão de oito meses. Em vez disso, sua mãe teve de fazer o caminho inverso: saiu da América do Norte para refazer os passos do filho de 23 anos desaparecido por uma trilha de quatro dias, três noites e 50 quilômetros.

Galganov desapareceu enquanto fazia a famosa trilha Santa Cruz nos Andes no outono. Os últimos a verem ele, segundo a mãe, eram de um grupo de turistas tchecos na trilha. Eles perguntaram onde conseguir água na tarde de 1º de outubro.

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“Passamos quase o verão todo juntos planejando a rota que ele seguiria e comprando coisas para a viagem”, disse Alisa Clamen, a mãe de Galganov, a VICE. Eles planejaram a viagem até os acampamentos específicos onde ele ficaria.

Alisa Clamen (esquerda) e seu filho Jesse.

Desde que ele desapareceu, os custos da busca por Jesse chegam a quase US$ 1,5 milhão, disse Clamen. Parte disso foi financiado por uma conta no GoFundMe chamada “Nos Ajude a Encontrar Jesse”, que levantou mais de US$200 mil até o momento.

O filho de Clamen tinha acabado de se formar, em maio de 2017, na Wesleyan University em Connecticut, onde ele estudava matemática e completou as exigências para fazer medicina. Ele foi aceito na escola de medicina Sidney Kimmel Medical College da Universidade Thomas Jefferson na Filadélfia, onde deveria começar a estudar quando voltasse. Um estudo em que Galganov é creditado como autor foi publicado num jornal científico depois que ele partiu. Seu objetivo, disse Clamen, era trabalhar com os Médicos Sem Fronteiras. Ela o descreve como tendo “um grande coração” e “muita empatia”, além de um grande grupo de amigos.

“Ele adorava aprender sobre culturas novas e conhecer novos lugares, e ele sabia que tinha um longo caminho pela frente na escola de medicina”, disse Clamen sobre a decisão do filho de fazer a viagem. “Ele queria usar este ano para explorar, imergir em culturas e ver uma parte do mundo.”

Galganov passou um semestre do primeiro ano da faculdade em Praga e sete semanas mochilando pela Europa. Apesar de planejar fazer boa parte de sua jornada pela América do Sul e Sudeste Asiático sozinho, Galganov tinha combinado encontrar amigos durante a viagem. Sua mãe diz que o propósito da viagem era, em parte, uma autodescoberta.

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Galganov fez, desfez e refez sua mochila com perfeição logo antes de pegar o voo em Montreal em 24 de setembro. O plano era, depois de viajar pela América do Sul, pegar um voo para a Ásia em dezembro, terminando sua viagem em Bangkok em 15 de maio. Alguns dos itens que ele levou eram calçados de trilha, uma barraca para uma pessoa, um colchão, um pequeno fogão, utensílios, roupas, uma lanterna de cabeça, medicamentos, seu Kindle e um diário. No total, sua mochila pesava 10 quilos.

Jesse logo antes de partir para o Peru.

Mas dias depois que pousou em Lima, Galganov desapareceu. A última mensagem que ele mandou foi para a mãe, com quem ele se comunicava com frequência. No dia 28 de setembro, ele escreveu: “Te amo… provavelmente vou ficar sem comunicação até a tarde/noite de segunda. Partindo para uma trilha de quatro dias.”

Clamen acabou de completar a trilha da qual Galganov falou em sua última mensagem, a Santa Cruz na Cordillera Blanca nos Andes. Ela descreveu a trilha como “incrivelmente desafiadora”, notando que o caminho era muito íngreme, sob grandes altitudes, e não muito bem sinalizado ou patrulhado.

Clamen, que trabalha como advogada, nunca tinha feito trilhas antes e disse que nem acampava desde que tinha 17 anos.

“Foi poderoso. Eu conseguia imaginá-lo andando na minha frente”, disse Clamen. “Eu precisava ver o que ele viu. Eu precisava que aqueles nomes não fossem só palavras num mapa – eu precisava entender como era o lugar e onde ele estava.”

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Apesar de Clamen ter completado uma caminhada em terreno difícil na mesma trilha onde seu filho foi visto pela última vez, os meses desde que Galganov desapareceu apresentaram outros desafios únicos e difíceis para ela.

Parte desses desafios foi lidar com as autoridades peruanas que, segundo ela, têm pouco profissionalismo e experiência. “É uma cultura diferente – não é como o Canadá”, disse Clamen, se referindo aos padrões de conduta diferentes.

Clamen acabou contratando uma equipe de elite israelense, a Magnus International Search & Rescue, para ajudar a encontrar seu filho. Durante a investigação, eles usaram drones para vasculhar a área onde Galganov desapareceu e conduziram entrevistas, além de apontar as autoridades locais para a direção certa. Recentemente, a Magnus incluiu lagos em sua área de busca.

Nenhum dos itens que Galganov levou na viagem foram encontrados até agora.

Clamen na frente de um lago na trilha Santa Cruz com uma amiga.

Clamen acredita que o filho não estava acostumado com a altitude quando desapareceu. Ela diz que ele pegou um ônibus noturno de Lima no dia 27 de setembro, chegando em Huaraz, Peru, no dia seguinte. “Ele saiu do ônibus, passou um dia juntando suprimentos, e passou a noite num hostel”, disse Clamen. Aí, segundo ela, ele partiu cedo na manhã seguinte, apontando que ele não dormiu muito considerando essa linha do tempo.

“As teorias são de que ele não estava em boa forma ou uma coisa natural aconteceu ou alguém apareceu e ajudou no processo”, ela explicou. “Acho que é possível que ele tenha caído em algum lago, ou alguém o jogou na água, ou, claro, alguém pode ter enterrado ele em algum lugar.”

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Investigadores estão analisando teorias de que “tropeiros”, pessoas que guiam mulas na área, possam ter algum papel em mover Galganov, se acharam o corpo dele.

Clamen disse que a história de seu filho é “um pesadelo do pior tipo possível para pais”.

“A história de Jesse tem uma moral – as pessoas precisam aconselhar os filhos a terem cuidado e consciência, e perceber que isso pode acontecer com qualquer um”, ela disse.

Ela se recusa a desistir de procurar o filho. Mas sua viagem mais recente ao Peru para refazer os passos dele trouxe “um pouco de paz”. Essa foi a terceira viagem dela ao país desde que o filho desapareceu.

A busca por Galganov continua.

“Jesse é meu filho, meu melhor amigo, meu confidente, meu companheiro de esqui, meu tudo. Então não posso desistir”, disse Clamen. “Quando o encontrar… preciso honrá-lo. Não posso desistir da vida porque isso é algo que ele nunca, nunca ia querer que eu fizesse.”

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