Depois da decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) pela reintegração de posse do enorme terreno onde foram erguidas as cinco mil moradias da Izidora, os moradores da maior ocupação urbana da América Latina continuam organizados na tentativa de reverter a decisão judicial de despejo.Durante duas noites, os moradores das ocupações da Izidora permaneceram acampados na porta da Prefeitura de Santa Luzia. Desde a tarde da última segunda (3), depois de percorrer 13 quilômetros, os moradores esperavam por uma reunião com a prefeita do município nos arredores de Belo Horizonte, Roseli Pimentel (PSB).Foto: Gustavo Miranda/Sô Fotocoletivo/VICEA reunião, previamente marcada para às 15h30 daquela segunda feira, não aconteceu. "Após chegarmos aqui, o procurador municipal disse que tínhamos que protocolar um documento requerendo o diálogo com a prefeita", afirmou Charlene Cristiane, moradora da Izidora.Em assembleia popular com os moradores, os manifestantes decidiram iniciar acampamento na porta da Prefeitura de Santa Luzia.Na terça (4), líderes e representantes da Izidora, Movimento de Luta nos Bairros (MLB), Vilas e Favelas, das Brigadas Populares e da Comissão Pastoral da Terra, protocolaram o documento junto à Prefeitura de Santa Luzia. "Tivemos que protocolar do lado de fora da prefeitura, através da grade", disse uma das moradoras da ocupação. "Eles não deixaram a gente entrar no prédio para protocolar o documento. Inclusive, eu me prontifiquei em ir sozinha com o documento em mãos e protocolar, mas a guarda municipal e funcionários da prefeitura não permitiram."Foto: Gustavo Miranda/Sô Fotocoletivo/VICECom um espaço territorial que equivale ao de uma pequena cidade, parte da Izidora pertence a prefeitura de Santa Luzia e outra parte a Belo Horizonte.Já no final da tarde chuvosa de terça, por volta das 17h30, um documento foi entregue pela guarda municipal a dois representantes da Izidora. Frei Gilvander, representante da Comissão Pastoral da Terra, leu o documento no qual a prefeitura prometia uma "resposta em até 15 dias sobre a situação das terras da Izidora que pertencem a Santa Luzia e sobre o iminente despejo das pessoas que moram ali."Para Frei Gilvander, assinar o documento da prefeitura equivaleria a aceitar o despejo que pode acontecer a qualquer momento, assim que a decisão for publicada em Diário Oficial do Estado. "Ela [a prefeita] lavará as mãos, pois ainda estará dentro do prazo", disse o Frei.Após leitura do documento, no fim da tarde de terça, os moradores das ocupações decidiram manter o acampamento e realizar uma contraproposta à prefeita Roseli Pimentel, pedindo que a prefeita antecipasse o prazo para sua resposta. "Nossa proposta é ficarmos aqui acampados até ela nos receber para uma reunião. Caso não nos receba, nós vamos para a casa dela", afirmou Charlene.Na noite da terça-feira, as pessoas carregavam seus cobertores e procuravam não se molhar na fina chuva que caía. Apoiadores da causa da Izidora trouxeram janta, feijão tropeiro, arroz e suco, para todos que acampavam em frente à prefeitura.Foto: Gustavo Miranda/Sô Fotocoletivo/VICENesta quarta (5), em assembleia às 9h da manhã, os moradores decidiram suspender o acampamento. "Devido a insensibilidade da prefeita Roseli Pimentel, e já há três dias acampados, decidimos suspender o acampamento", disse o Frei Gilvander. "Hoje pela manhã entregamos à prefeita o estudo técnico dos Arquitetos Sem Fronteira sobre as ocupações da Izidora. Nele, foi demonstrada a inviabilidade de despejar 8000 famílias e destruir mais de cinco mil casas de alvenaria."Também na quarta (5), houve reunião na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com as coordenações da Izidora, representante da Secretaria de Planejamento do Estado de Minas Gerais e a deputada Marília Campos (PT), como tentativa de reabrir as negociações com o Governo do Estado para rever o despejo.Foto: Gustavo Miranda/Sô Fotocoletivo/VICEPara Frei Gilvander, a reunião foi razoável. "Durante o encontro, foi colocado novamente ao Estado de Minas Gerais, à pessoa da funcionária da Secretaria de Planejamento do Estado, Ligia Maria Alves Pereira, que a situação na Izidora está muita tensa", disse o militante da Pastoral da Terra. "Deixamos claro e alertamos pela milésima vez para o massacre inimaginável que o despejo das ocupações pode ocasionar."Segundo Isabela Miranda, das Brigadas Populares, além de apresentar o desejo de retomada da mesa de negociação e a não realização de despejo forçado, durante a reunião foi também exigido do Governo do Estado mineiro a realização de cadastro prévio socioeconômico das famílias da Izidora, por parte do poder público. Ao final da reunião, já foi acordado um novo encontro marcado para o dia 18 de outubro.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.
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