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Música

O Inquisition Traz Êxtase para suas Orelhas e Satã para seu Coração

Uma entrevista sobre as coisas do espírito, da escuridão e da violência na Colômbia com o Dagon.

O black metal é famoso pela sua querida legião de marrentos, misantropos e criminais seguidores, mas ocasionalmente é possível encontrar alguém com senso de humor (como o Fenriz do Darkthrone), ou com um carisma genuíno (Erik do Watain) ou com uma perspectiva filosófica única –como o Dagon, a mente por trás do Inquisition, a dupla cósmica de corpse paint. Dagon fundou o Inquisition quando ainda era adolescente, vivendo no cenário psicótico/paramilitar da Colômbia dos anos 80/90. Ao se mudar para Seattle em 1996, Dagon se juntou a Thomas “Incubus” Stevens para criar uma das bandas de black metal mais impressionantes e convincentes da história. Inspirados pela cosmologia, astrobiologia e também por Satã –o tradicional mestre do black metal- o último álbum da dupla, Obscure Verses for the Multiverse, foi reverenciado na revista Decibel como o disco de black metal do ano. Recentemente conversei com o Dagon sobre seus anos de formação e as forças que levam o Inquisition ao infinito e além.

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Como você acha que as origens colombianas do Inquisition afetaram a trajetória da banda?
Bom, eu sou americano, mas também colombiano de um lado da minha família e viver lá por 13 anos me ensinou mais coisas que muita gente daqui nunca vai ver na vida. Eu cresci lá nos anos 80 até os anos 90 e testemunhei todo tipo de violência que você pode imaginar. Ser um metaleiro naquela época foi realmente o melhor cenário para aquele tipo de vida. Escutar em 1986 álbuns como o The Return do Bathory, Reign in Blood do Slayer ou Sacrilegio do Parabellum era muito mais inspirador do que escutar esses álbuns nos EUA, ou sei lá, na Europa. Eu tinha uns amigos bem interessantes, fiz coisas interessantes e eu tinha ainda 14 anos. Com isso, meu caráter foi moldado como o de um adulto até um certo ponto. Tocar guitarra com essa idade era minha válvula de escape e escrever letras de música se tornou uma necessidade que era alimentada pela vida em geral e pelo o que eu estava vendo.

Como que era crescer lá?
Ser metaleiro naquela época significava tomar muito cuidado. A polícia estava dando tiro em alguns de nós por pensarem que éramos terroristas ligados à grupos paramilitares ou carteis. Eu vivi na cidade de Cali e isso era um problema. A cidade de Medelin era uma zona tensa também –eu lembro de ir para lá para dar um rolê com o Victor Jaramillo do Reincarnation e com o Alex Oquendo do Masacre, foi uma visita bem tensa. Eram ameaças toda hora, a polícia ficava cara-a-cara com a gente e mandava a gente sair da área ou seriamos baleados quando eles voltassem lá. Os metaleiros e punks formavam gangues violentas que portavam armas, facas e até mesmo granadas. É uma longa história, mas aqueles que sabem sabem. Tenho certeza que tem alguém lendo isso e sacando tudo que eu estou falando.

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Como você compararia o Inquisition de hoje com o Inquisition do final dos anos 80/começo dos anos 90?
São bandas completamente diferentes, mas no cerne as semelhanças estão mesmo nos arranjos musicais, escalas e algumas cordas. O capítulo dois do Inquisition é obscuro, melancólico e místico, porém muito violento…é um pouco de tudo. O capítulo um do Inquisition era um thrash metal violento escrito por um adolescente que estava aprendendo a tocar sua guitarra, inspirado pelo velho Kreator, sem assuntos sobre o ocultismo e sem nenhum satanismo envolvido.

O que fez vocês trocarem para o black metal?
Em 1993 eu me envolvi muito no underground e soube que era hora de levar as coisas muito, muito mais adiante e transformar o Inquisition em uma força negra da música, ainda mais após de ser tão influenciado pelos mestres da época. Eu queria me tornar parte daquele aspecto da cena e contribuir com os meus talentos trazendo minhas raízes do black metal ao tocar guitarra e fundi-lo na escuridão que o black metal deveria se misturar.

A banda significa algo diferente para você hoje do que significava antigamente?
Nos velhos tempos, significava aprender tocar meu instrumento e escrever músicas. Hoje, é mais uma jornada espiritual onde o tempo não existe –significa então que o Inquisition soará sempre do mesmo jeito que era em 1996. Cada álbum tem leves diferenças na produção, mas nosso estilo é esse mesmo. A banda também representa meu universo subconsciente que mantém a música no seu mais alto poder e o Inquisition é o veiculo para invocar esses poderes e mover mentes. É o caminho do oculto.

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Qual é o significado do título do álbum Obscure Verses for the Multiverse [Versos Obscuros do Multiverso]?
Os versos obscuros são as leis da mecânica quântica, física quântica ou da física em geral. Versos obscuros são basicamente as leis de tudo que é cientifico e que prova ser responsável pelo funcionamento e existência do nosso universo e de outros universos que nós podemos explicar, criados por um deus ou deuses, mas ao mesmo tempo continuamos a procurar respostas através do método cientifico. Esses versos são conhecidos como “os deuses” –e esses deuses podem ser qualquer coisa responsável pela criação de tudo, inclusive nós, a espécie humana e que podem possivelmente ser de outros universos que eles deram um jeito de transcender por conta de motivos que nós possivelmente nunca saberemos. Então, a razão para que esses versos sejam obscuros e escondidos da humanidade, deixando religiões para justificar nossa existência, é porque nós precisamos buscar os versos e leis por conta própria. Esses versos ou leis vão explicar de uma vez por todas qual é o propósito de tudo isso.

A cosmologia é um importante fator nas suas letras. Você sente que o interesse por esse assunto acabou sincronizando com o Inquisition, ou os dois apenas se juntam quando você está escrevendo as letras?
Eu sou conectado com os assuntos em um nível pessoal, lógico. Eu tenho uma visão profunda de tudo que eu escrevo. Eu não sou mestre em nenhum assunto e nunca serei. Mas eu definitivamente tenho uma paixão pelas coisas que eu escrevo sobre e sou incisivo no que eu sobre elas.

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Você consegue ter uma noção se os seus fãs entendem suas letras ou isso realmente não importa no final?
Eu acho que eles tentam entender, mas nunca irão compreendê-las plenamente. De um certo modo, elas foram feitas para ser assim. Minhas letras não são complexas de ler, mas também não são fáceis de compreender. Eu gosto de letras claras e que vão direto ao ponto. Gosto de letras enigmáticas, mas não curto colocar muito disso nelas. Afinal, o que você está tentando esconder? Possivelmente alguns escritores tentam esconder o fato que eles não tem significado algum. O que importa para mim no final é fazer as palavras trabalharem com a música, que elas soem bem e reforcem o som que está sendo executado. Eu sou dessa escola. Eu gosto de frases simples e memoráveis, um soco denso e um corte afiado –as complexidades eu deixo para a música. Isso não é uma ópera de black metal: Eu não tenho uma história longa e sofisticada para contar. Os fãs ou os “não-fãs” que pensam que falta alguma coisa nas letras podem achar esse conteúdo em outras bandas que possuem uma filosofia diferente.

Quais são algumas das inspirações por trás do Obscure Verses for the Multiverse?
Tudo que é que magnificente, obscuro, vasto e imenso. Entretanto, é musicalmente inspirado pela guitarra em todo aspecto imaginável quando se pensa no desempenho e atitude desse instrumento no heavy metal. E quando eu digo heavy metal eu digo que é uma generalização da essência a partir do ponto de vista de um músico –na sua execução, atitude nos riffs e tudo mais. Se eu fosse explicar isso precisaria de outra entrevista, mas resumindo: Digamos que eu queria trazer o ouvinte para um mundo que eu sinto que se perdeu substancialmente na performance das guitarras de metal. E quis também contribuir para a cena adicionando a minha parte que eu senti que se separou um pouco dela. De nenhum modo eu estou criticando todos os guitarristas, quase todo mundo é muito bom ultimamente e todos contribuem com algo valioso. Entretanto, estou falando de venerar um tom de guitarra, escrever letras de música baseadas nesse tom, fazendo riffs que funcionam com o amplificador certo para uma fórmula que trabalha com a harmonia e as frequências de um jeito que os riffs e melodias, sejam eles brutais, bonitos ou macabros e negativos, consigam funcionar juntos como um todo, trazendo um certo êxtase para os ouvidos. Isso faz o ouvinte enxergar a guitarra como algo mais do que um pedaço de madeira que está gerando distorção.

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Antes de escrever o álbum eu pensei comigo mesmo que, além do vazio da escuridão e da grandeza que eu quero transmitir com o Inquisition, quero gerar uma harmonia que pode elevar os níveis de prazer do ouvinte enquanto ele é envolto pelos rituais da melodia e ritmo criados para serem uma combinação perversa, é ali que você pode achar a alma viva que faz o riff e a música soarem boas, sendo tonais ou atonais. E com isso que podemos ir para o próximo ponto:

Inspiração da tonalidade musical: O Inquisition sempre foi tonal versus atonal. Isso é arriscado no black metal, que é um gênero onde quanto mais macabro e mais sentimentos negativos se misturarem melhor. Acho desafiador escrever uma música tonal com notas mais altas, mas ainda sim preservando essa essência que é indispensável no black metal. Claro que a maioria das bandas “black metal” usa essa abordagem, criando uma sensação mais sinfônica e animada, mas não é a direção do Inquisition. Senti que nesse álbum eu realmente quis me inspirar nos tons e riffs clássicos de guitarra de metal e escurecê-los, deixá-los mais obscuros e distorcê-los em uma forma de escuridão enquanto viajo através de escalas musicais particulares que trazem o ouvinte a dois mundos fundidos: grandeza e força junto com a escuridão e o juízo final. São altos e baixos muito extremos.

A essência para a inspiração é o mundo fora do nosso mundo. O universo, os cosmos, as forças invisíveis de tudo que nos cerca e conecta o lado espiritual do homem com outro universo negro que constantemente estamos tentando dominar dentro de nossas mentes –a força que carregamos dentro de nós para procurar crenças e deuses com quem possamos nos relacionar. Entretanto, muita gente justifica suas crenças como “verdades” apenas para descobrirem depois que no fim nós não saberemos qual é o caminho certo. Portanto, eu decido continuar a usar o caminho de Satã como o caminho simbólico da “força que se opõe a todas as forças.”

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O que você quer dizer com isso?
A força de Satã é muito incompreendida pela maioria das pessoas que estão tão “ocupadas” sendo rock’n’roll ou da realeza dramática über-underground que não podem nem gastar um tempo para entender porque algumas bandas de black metal realmente usam o caminho de Satã para iluminar o desconhecido. E elas fazem isso mantendo o terceiro olho aberto. Não tem nada a ver com venerar um personagem cartunesco do mal de uma forma infantil. Em vez disso, vá contra TODOS que tentam controlar você. Confie nos seus instintos. Transcenda as massas e não tenha nenhuma consideração com aqueles que cruzam o seu caminho com intenções de te destruir. Assim, o Satã é a força da inspiração. Eu não estou pregando para ninguém –eu simplesmente quero explicar meu caminho espiritual. Combater o fogo com fogo é uma ferramenta muito poderosa nesse mundo que é poluído com uma semente que está nos apodrecendo.

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