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Música

17 discos que são muito menos profundos do que você pensa

De Rage Against the Machine a ‘Sgt. Pepper’s’, lá vem o Noisey de novo chutando santa a torto e a direito.

Ninguém curte ser burro. Com exceção das pessoas que compram TruckNutz para seus carros, todos passamos a vida desavergonhadamente tentando lutar acima das nossas categorias de peso intelectual. Por exemplo, você já leu o Noisey? Então: naturalmente, todos nos gabamos de nossos gostos inteligentes e refinados em matéria de filmes, televisão, livros e música. Mas, quando você se distancia um pouco e examina essas coisas que tanto estimamos, coisas que consideramos emblemas de nossos gostos exigentes, às vezes fica claro que filmes como Hora de Voltar e livros como Clube da Luta não são exatamente as realizações mais elevadas do entretenimento que nós enquanto sociedade conseguimos alcançar. Por isso, aqui vão alguns discos que todos gostamos de citar como representações de nossa profundidade intelectual. Não são discos necessariamente ruins, mas, examinando com mais cuidado, eles talvez se revelem muito mais rasos do que achávamos.

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Metallica - Master of Puppets

Master of Puppets é um disco quase perfeito, e qualquer um que diga o contrário claramente está errado. Está lá em cima, ombreando com gigantes como Reign in Blood ou Number of the Beast, e é um disco que adoro de todo coração. Dito isso, metade das resenhas que se lê sobre o negócio invariavelmente o bajulam por seus mordazes "comentários sociopolíticos" e corajoso enfrentamento de temas "tabu", como guerra e vício em drogas, e, vamos falar sério, já chegou a hora de parar com esse papo furado da porra. Embora o Metallica com certeza tivesse algo a dizer nesse disco, e o tenha dito do jeito mais irado possível, todo esse "comentário" não passava de uma interpretação bastante comezinha da angústia adolescente da era Reagan.

Tipo, sério, o que temos aqui? Uma música sobre estar puto e bater nas coisas. Uma música sobre cheirar pó demais. Uma música sobre como as instituições para doentes mentais eram ruins. Uma música sobre como guerra é ruim. Uma música sobre como religião e televangelistas são ruins. Uma música sem palavras. Outra música sobre estar puto da vida e ser violento. Uma música inspirada em Lovecraft. É isso. É só disso que trata Master of Puppets — estar puto, usar drogas, e achar que monstros são um bagulho dahora. O disco é foda, o solo de baixo de Cliff Burton foi uma revelação, e James Hetfield nunca mais cantou tão bem… porém, como acontece com a maioria das bandas de metal "inteligentes", essa parada simplesmente não é tão profunda assim.
Kim Kelly

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The Who – Tommy

Lembra daquela cena em Quase Famosos em que a Zooey Deschanel deixa um bilhete para o Patrick Fugit dizendo: "Ouça Tommy com uma vela acesa e você verá todo o seu futuro"?

Para ser justa, é um bom conselho de uma rebelde de 18 anos para seu irmãozinho nerd no início da década de 70. Ainda mais se com "vela" ela estava se referindo a "drogas", e com "ver todo o seu futuro" ela estava se referindo a, hum… sofrer abusos horríveis nas mãos da sua família, virar um mago do pinball e fundar uma seita?

Certo, Tommy — particularmente sua versão para o cinema — é um barato, ainda mais se você andou acendendo umas "velas". É um ótimo punhado de classic rock visceral. Mais importante, é uma retrato instantâneo de um período próspero da criatividade desabrida no rock e na cultura pop, em que os artistas não tinham medo da bizarrice pela bizarrice, especialmente numa época em que fazer isso era algo bastante revolucionário. Mesmo hoje em dia, ele continua a oferecer a novas gerações de pessoas trancafiadas em dormitórios de faculdades um primeiro gostinho do bizarro. Mas isso não muda o fato de que é um disco conceitual completamente caótico, que não tenta esconder o fato de que, na verdade, não tem um enredo. Ser intencionalmente vago e tempestuoso não confere profundidade a coisa alguma. Então, feche a porta, aumente o volume, e acenda o que der na telha, mas, como no caso da ode de Cameron Crowe ao rock 'n' roll e tudo o mais que você adorava aos 16 anos, por favor, não fique achando significados onde eles não existem.
Andrea Domanick

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The Mars Volta – De-loused in the Comatorium

The Mars Volta foi uma reviravolta com certeza intensa dos ex-membros do At the Drive-In, e eles mandaram espetacularmente bem. Sua estreia, De-loused in the Comatorium, foi um disco doidão e mais ousado, e no geral mais bizarro, do que as coisas que o ATDI vinha fazendo. Dito isso, as letras não fazem absolutamente nenhum sentido. Qualquer coisa pode passar por profunda quando ela é simplesmente não compreensível. "Transient jet lag ecto mimed bison / This is the haunt of roulette dares/ Ruse of metacarpi", por exemplo. Baboseira pura. Como catar a esmo palavras num daqueles conjuntinhos de imãs de geladeira — edição peiote. E isso não é um problema tamb´me. Pode ser uma coisa maneira tratar letras de música como elementos puramente sonoros, mas vamos parar de fingir que essas palavras são qualquer coisa mais do que um nonsense rabiscado durante viagens de opiáceos.
Dan Ozzi

The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

Existem dois tipos de pessoas que usam drogas: as que usam drogas e as que ficam falando sobre como elas usam drogas. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, é basicamente o segundo tipo em forma de som. Não me entendam errado: esses quatro garotos descabelados criaram um dos discos mais fantásticos e progressivos da era da música moderna, e tenho poucas dúvidas de que meu pai me deserdaria por falar mal dele, mas o conteúdo lírico desse disco está no mesmo patamar intelectual das conversas que tive às três da manhã do último sábado, depois de beber umas 37 cervejas. Para começar, há uma música nesse disco chamada "Fixing a Hole", na qual Paul McCartney fica viajando por cerca de dois minutos e meio sobre a glória mental de consertar os problemas da casa. Depois temos uma música sobre um cara chamado Mr. Kite e camas elásticas. E então eles vão fundo mesmo, escrevendo uma música chamada "Lucy in the Sky with Diamonds", que, saca só, é sobre LSD. (Porque Lucy/Sky/Diamonds, rá!) De qualquer modo, esse disco é lindo e "When I'm Sixty-Four" é uma música adorável, que meu pai tocou para minha mãe no casamento deles, mas puta merda, tudo nesse disco é mais ou menos tão profundo quanto a xícara de café vazia que está na minha mesa. Vamos parar de fingir que ele é alguma coisa além de 13 faixas que basicamente dizem "drogas são massa" ininterruptamente. (Mas, não deixemos de dizer: drogas são massa.)
Eric Sundermann

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[N. do E.: Um pequeno adendo da equipe editorial do Noisey Brasil para deixar muito clara nossa diametral e revoltada discordância com a opinião do colega estadunidense. Inclusive, recomendamos que você não seja um babaca que acha os Beatles superestimados.]

The Smashing Pumpkins - Mellon Collie and the Infinite Sadness

Em 1995, o Smashing Pumpkins surfava a crista da onda gerada pelo seu primeiro grande sucesso, Siamese Dream, e nesse disco duplo vimos o quarteto flutuar direto até o cume da Montanha do Rock Alternativo, casando respaldo comercial com aprovação da crítica (um disco que chegou ao primeiro lugar, teve sete indicações ao Grammy, milhões e milhões de cópias vendidas, camisetas "Zero" vendidas em shoppings por toda a América). E é claro que havia o parcialmente careca Billy no comando, exalando um platinado falatório autoelogiativo e ao mesmo tempo vestindo o manto do outsider descontente. "I fear that I am ordinary / Just like everyone", ele grita naqueles tons excepcionalmente anasalados. Em vários sentidos, esse disco — contendo 28 faixas — é a prova prática de que ele é tudo menos isso. Até mesmo os títulos das músicas gemem e desmoronam sob o peso das grandiosas ambições do cantor: "Porcelina of the Vast Oceans", "Where Boys Fear to Tread", "Tales of the Scorched Earth".

"I sensed my loss before I even learned to talk", ele mia em "To Forgive", e em outra ele uiva: "GOD IS EMPTY/JUST LIKE ME!". E você sabe que já arranhou a garganta se lamuriando junto com ele — Billy está falando diretamente com a minha alma. É um virtuose! Ouve só esse rugido! Mas também dá um tempinho, parça. Esse disco não chega nem perto de ser tão sábio quanto você na adolescência achou que era, ou quanto o ego artístico de Billy pretendia. Mellon Collie… é, contudo, audacioso e ousado, várias vezes exagerado e ocasionalmente piegas ("Only Come Out at Night"), e uma trilha sonora deveras excelente para sair destruindo as coisas (X.Y.U.). Quando ele não está fazendo esse esforço todo, Corgan comunica ternura com uma delicadeza que perdura, músicas destinadas a lhe trazer muito mais conforto do que esse travesseiro com o qual você está de conchinha. E é claro que a joia que coroa o terceiro disco deles é um dos maiores singles do indie rock jamais feitos: "1979". Poucas faixas capturam de modo mais elegante o sentimento de impetuosidade e de desprezo pelas consequências típico da juventude. Não há nada de muito profundo nisso, o que não significa que você não o sinta lá mesmo, bem onde deveria sentir.
Kim Taylor Bennett

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Green Day – American Idiot

American Idiot é um disco conceitual de punk opera rock, e todo esse conceito poderia ser resumido em duas palavras: "governo = ruim". E isso não necessariamente é uma crítica. O governo é, afinal, ruim, e toda nova geração deve ter esse fato marcado a fogo em suas mentes desde a infância. Mas, como adultos crescidos, podemos olhar para American Idiot e concordar que o Green Day não estava exatamente sendo vanguardista com suas mensagens políticas amplas e generalizadas, e nós com certeza não precisávamos de um musical da Broadway sobre alguém se dando conta de que a mídia tem lá seus interesses escusos e de que George Bush não presta.
Dan Ozzi

Neutral Milk Hotel - In the Aeroplane Over the Sea

A história de como In the Aeroplane Over the Sea adquiriu suas inclinações temáticas é, hoje, bem conhecida: Jeff Mangum pegou um exemplar do diário de Anne Frank, leu, e ficou devastado, contando à revista Puncture (em uma entrevista depois publicada sem cortes pela Pitchfork): "Toda noite eu ia pra cama e sonhava que tinha uma máquina do tempo, e de algum modo conseguia navegar livremente pelo espaço e pelo tempo, e salvava a Anne Frank." Só essa narrativa já deu origem a um bom tanto de hiperanálises — um thread de zoeria no 4chan construiu uma teoria da conspiração segundo a qual Mangum teria de fato conseguido — mas ela provavelmente explica mais do elemento literal presente no disco do que a maioria dos fãs gostaria de admitir (não é preciso ser um neurocirurgião para decifrar o significado de letras como "then they buried her alive / One evening 1945" de "Holland, 1945". Embora muitas das letras sejam tortuosas e impenetráveis e — por estarem recheadas de imagética sexual e religiosa — pareçam requerer uma dissecção meticulosa, explicá-las parece ser uma tarefa bem simples: basicamente, não passam de imagens oníricas que renderam versos cativantes. Sexo e religião são tipo Surrealismo Nível Básico. Dê uma olhada num quadro de Salvador Dali e depois nos versos de Jeff Mangum, e veja se as palavras dele são excepcionalmente inescrutáveis mesmo. Como disse Mangum na mesma entrevista, seu processo de escrita não foi especialmente cerebral, e a mente dele é predisposta a se refestelar em seus próprios sonhos, o que naturalmente traz à tona sexo e religião. Ficar fixado no arco temático da mensagem das letras de In the Aeroplane Over the Sea, pedir a Mangum que explique a mensagem, é deixar a mensagem passar totalmente em branco.

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O que significa dizer: não é que o disco não tenha profundidade. Pelo contrário! É que a explicação do disco é bastante simples, e na verdade suas implicações é que são profundas. Aeroplane é um disco conceitual, é claro, mas o maior de seus conceitos é a empatia radical, a ideia de que a história e a humanidade talvez sejam melhor compreendidos quando se mergulha fundo na psique de alguém. Não é tão profundo assim escrever versos que são não muito secretamente sobre a Segunda Guerra Mundial, e tampouco é muito profundo sugerir que a realidade não passa de um imenso sonho acordado — não é sem razão que alguns professores de filosofia criam a regra de que é proibido colocar Matrix em discussão — mas há bastante profundidade emocional a ser encontrada ao se percorrer o sonho de outra pessoa, quando ele é transcrito de maneira tão vívida. Só não cometa o erro de transformar o seu sentimento de conexão pessoal em uma necessidade de escrever notas explicatórias sobre os versos no Rap Genius.
Kyle Kramer

The War On Drugs – Lost in the Dream

The War on Drugs é tão aclamado pela crítica que Adam Granduciel bem que poderia tatuar "Cinco estrelas. Magnífico." no próprio períneo. Críticos afirmam que este foi um disco profundo, cheio de camadas — "assombroso e profundo", como disse a Pitchfork — porque escrito após a separação de Granduciel, com várias hábeis referências a uma vida de vacuidade eterna ocultas nas letras.

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Isso, é claro, é um puta de um factóide gigantesco, quando a verdade é que os críticos roqueirões que cresceram numa saudável dieta consistindo de Bruce Springsteen, filé bem passado, uísque barato e maratonas de Magnum P.I. tiveram que passar a última década fingindo que achavam a Beyoncé genial e que Lil Wayne compusera a música do ano, enquanto negavam sua verdadeira vocação, que é correr pelas ruas de uma cidade operária usando um colete de brim e cantando os grandes hinos do rock americano.

É por isso que eles amam esse disco, não porque lhes passe uma sensação de solidão — mas sim porque lhes passa uma sensação de conforto. Esse é um disco tão satisfeito com a profundidade de sua própria introspecção que várias vezes as músicas mal chegam a se concluir — só acabam em prolixas jams sem sentido, como se Anton Newcombe estivesse circulando sonambulicamente por um Guitar Center. Até mesmo as faixas mais animadinhas têm um som de música de espera de telefone dos anos 80. Contudo, como há a constante promessa de que por trás existe algo de mais sombrio, e como não se consegue entender nada do que está sendo dito, os críticos podem afirmar que é uma obra sobre a condição humana, mesmo que, na verdade, só adorem o disco porque se parece com a música que seus pais os colocavam para ouvir, na época em que os futuros críticos ainda os amavam. Basicamente esse disco todo não passa de um Dire Straits dopado de soníferos. Parem de fingir.
Sam Wolfson

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Muse – Black Holes and Revelations

Se você está à procura de evidências de que Muse é a trilha sonora de pseudointelectuais radicais, não é preciso ir além do seguinte fato: Muse é a banda favorita do Glenn Beck.
Dan Ozzi

Joey Bada$$ - B4da$$

Olha, ninguém está dizendo que o Joey Bada$$ não é um bom rapper. Claramente ele tem destreza com as palavras, e, especialmente em alguns dos seus versos recentes como convidado, demonstrou que é capaz de elasticidade artística, de adotar novas maneiras de cantar. Mas a ideia arrogante de que ninguém está mandando a real e metendo o dedo na cara do sistema como faz Joey Bada$$ é um pouco exagerada, quando os maiores rappers do país — Kendrick Lamar e Kanye West, por exemplo — também estão produzindo discussões ponderadas sobre raça, identidade, e a política da América corporativa. Várias das letras de Joey Bada$$ que se apresentam como inteligentes não passam muito de simples associações de palavras: como foi que ele pensou em usar a palavra cattle ("gado") ao falar de beef ("rixa", mas também "bife")?! Talvez porque haja uma conexão inextrincável entre uma coisa e outra! Não finjamos que o Young Thug está arruinando o rap por disparar metáforas sobre os diferentes vegetais com que seus bolsos se parecem, e que o Joey Bada$$ o está salvando por rimar "lyrical fajitas" com "Vegeta". Não é nada realista enxergar uma pauta tão grandiosa nas coisas que ele anda fazendo. O jogo de palavras de Joey pode ser divertido, mas muitas vezes o assunto de seus raps é, bem, o próprio rap. Não o tornem menos agradável fazendo essas intelectualizações.

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Kyle Kramer

Coheed and Cambria - Good Apollo, I'm Burning Star IV, Volume One: From Fear Through the Eyes of Madness

Se você já ficou zapeando pelos canais na televisão e topou com um filme de ficção científica que ia pelo meio e não entendeu nada do que estava acontecendo, teve a mesma sensação de ouvir esse disco — e os discos conceituais subsequentes do Coheed and Cambria que também se baseavam no enredo de uma série de histórias em quadrinhos. Talvez seja injusto dizer que não é "profundo", já que, talvez, o problema tenha sido a banda se deixar levar longe demais dentro de seu próprio mundo nerd espacial bizarro para que qualquer pessoa do mundo real consiga compreender de que raios eles estão falando. Só o título do disco já representa um claro desligamento da realidade. E depois, eles só foram ficando cada vez mais esotéricos. Good Apollo, I'm Burning Star IV, Volume Two: No World for Tomorrow; In Keeping Secrets of Silent Earth: 3; In Blowing a Robot on Silent Age Prophecy XXVI: Thee Earthening 8 (Starship X).
Dan Ozzi

Lupe Fiasco - The Cool

A melhor música no disco de estreia do Lupe Fiasco é "The Cool", que conta a história do renascimento de Michael Young History, um homem que morrera perseguindo seus sonhos bem de rua. A música era uma das faixas que se destacavam em Food & Liquor, que era estilisticamente todo caótico. Por essa música ser boa, Lupe decidiu continuar cavalgando esse pônei, fazendo todo um disco girando torno do mesmo conceito, ao mesmo tempo introduzindo dois novos personagens conceituais: The Streets e The Game. The Cool (o disco) foi musicalmente superior à estreia de Lupe, e muitos logo correram para classificá-lo de inteligente porque girava em torno dos três personagens temáticos, apesar do fato de que só um punhado de músicas no disco de 19 faixas chegava sequer a mencionar os tais personagens. Na verdade, as melhores músicas do disco foram as que não se prendiam ao roteiro, como "Hip-Hop Saved My Life" e "Dumb It Down". Embora The Cool tenha sido elogiado por ser "inteligente", não era mais inteligente do que qualquer outro bom disco de rap em que o autor lidava com os próprios demônios.
Slava Pastuk

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The Smiths - The Queen Is Dead

The Queen is Dead é um dos discos mais maravilhosos já criados. É deprimente e hilário, e um ousado soco no ar em apoio às classes trabalhadoras britânicas cujos meios de subsistência foram prejudicados pelo thatcherismo. E é também totalmente ridículo.

O fato de ser amplamente citado como um dos maiores discos dos últimos trinta anos não é prova de nada além do fascínio global pela autoindulgência. O título pode muito bem ser uma referência simultânea a Noites Violentas no Brooklyn, Macbeth e Cimbelino, mas — como costuma acontecer com Morrissey — esses floreios literários ocultam o verdadeiro objetivo do disco, que é basicamente sobre Steven dando uma boa e gostosa choramingada.

Entre versos como "to die by your side is such a heavenly way to die" e "sometimes I’d feel more fulfilled making Christmas cards with the mentally ill" ninguém na história do pop nunca sentiu tanta pena de si mesmo quanto Morrissey em The Queen Is Dead. Se você fizesse uma festinha para ouvir o disco e tomasse uma dose para cada verso sobre se sentir sozinho ou mal compreendido, o seu corpo entraria em colapso mais rápido do que um carrinho de kebab durante um dos shows de Morrissey em festivais. Obviamente, o sorrisinho sardônico e evasivo que acompanha tudo que foi mencionado acima é exatamente o que faz The Smiths uma banda tão brilhante, mas, por favor, não achemos que The Queen Is Dead é outra coisa que não aquilo que os diários de adolescentes aspiram a ser.
Emma Garland

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Pink Floyd – Dark Side of the Moon

Pink Floyd é música de luxo para drogados e você sabe muito bem disso. E, como acontece com todas as músicas de luxo para drogados, o passar do tempo atribuiu grande importância filosófica ao disco Dark Side of the Moon. Mas, quando você pode comprar camisetas e pôsteres de Dark Side of The Moon às pencas numa loja da Target, e quando sua principal atração cultural é uma porrada de raios laser, é hora de perguntar: será mesmo tão profundo assim? Ou você só está com a cachola cheia de drogas nesse momento?

Lembra de quando o John Waters disse: "se você vai com uma pessoa para a casa dela e lá não há livros, não transe com ela"? O mesmo deveria ser dito de qualquer pessoa cheia de parafernálias de Dark Side of the Moon. Por favor, me digam o que há de tão devastadoramente profundo em tocar o som de caixa registradora em um loop da fita? Se você está interessado em capitalismo subversivo, é melhor assistir Zoolander.
Bryn Lovitt

Rage Against the Machine - Rage Against the Machine

Eu cresci ouvindo Rage Against the Machine. Foi deles o primeiro show a que fui na vida, era deles minha primeira camiseta de banda. A gente achava mesmo que a música tinha o poder de nos ajudar a mudar o mundo. Tive vinte anos para pensar no assunto, contudo, para ver o que acontece com a rebelião da juventude, e coisa bonita não é. Décadas depois do histórico disco homônimo do RATM, os fanáticos estão mais fanáticos ainda, as guerras ainda grassam, e os policiais ainda acham um barato apertar o gatilho. Os direitos ainda não são iguais para todos. Mumia continua preso. Rebelião juvenil, quando sem foco, sem organização, se dispersa, se desintegra. Nós conseguimos, aí eles comeram nosso rabo, e aí perdemos.

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Rage Against the Machine é um monumento ao rebelde político que se acha mais inteligente do que todo mundo, e que não tem plano nenhum a não ser rasgar os planos que estão aí; cheio de slogans agressivos, mas incapaz de ação construtiva. "Fuck you, I won't do what you tell me!", "Wake up! We gotta take the power back!", "We'll settle for nothing now, and we'll settle for nothing later!". A sensação é boa, mas não concretiza bem algum. Ainda amo esse disco com todo o meu coração, mas é inútil gritar na cara das pessoas dizendo que elas devem acordar, se você não faz ideia do que devem fazer quando estiverem despertas.
Craig Jenkins

Kanye West – Yeezus

Os críticos adoraram Yeezus, e por que não adorariam? Era, afinal, um disco de hip hop incrivelmente não-tradicional (se é que jogar alguns elementos industriais reciclados dos anos 90 conta como não-tradicional). Com muitos elementos musicais nunca antes vistos num disco de hip hop, os críticos estavam livres para vasculhar uma seção completamente nova do dicionário de sinônimos de modo a elogiá-lo. Mas, embora muitos o atribuam ao alvorecer de uma nova e radical era do hip hop, na verdade o que temos aqui nesse gênio revolucionário, o Kanye West, era um milionário que estava fazendo comerciais da Pepsi poucos anos antes. E o que temos na "música manifesto punk rap" chamada "Black Skinhead" era um homem com um equivocado complexo de Deus, que escreveu uma música inspirada por ter se sentido ofendido por um designer de moda na Fashion Week. Kanye muitas vezes aponta para a segunda estrofe de "New Slaves" como uma das melhores que já escreveu, e certamente são versos fortes sobre o complexo industrial das prisões, e neles Kanye ainda está eras à frente da maioria dos seus pares, mas, se tirarmos os elementos sonoros e olharmos especificamente para a letra, na verdade, é só a mesma coisa que Kanye vinha dizendo em todos os seus discos, só que dessa vez ele ouviu um Nine Inch Nails antes de dizer. É tentador olhar para Kanye e dizer que Yeezus é um caso de um imperador sem roupas, mas isso seria enganoso, já que roupas são a única coisa que Kanye tem.
Dan Ozzi

[Leia a nossa matéria sobre como o Late Registration é, esse sim, o melhor álbum do Kanye]

Radiohead - Kid A

Esse disco é o equivalente sonoro de acordar na manhã do prazo final de um trabalho e se dar conta de que você não fez nada, então você enche umas linguiças filosóficas na página e reza para dar certo, e quando recebe o trabalho de volta ele vem junto com um pedido de publicação na imprensa especializada, porque é um texto "revolucionário" pra caralho.

Ninguém menciona o fato de que esse disco não é sobre coisa nenhuma. Não tem absolutamente nenhum propósito, nenhum sentido. É resultado de o Thom Yorke estar com bloqueio criativo e todo mundo dizer: "claro, faz o que você quiser, a gente não liga; você é o Radiohead!"

Kid A é um longo ataque de pânico, um longo e desconjuntado poema de Myspace escrito por aquele garoto esquisito do colégio, que curtia assustar todo mundo "porque ele gostava" e agora frequenta uma faculdade de segunda em outro estado e compartilha memes racistas no Facebook. É uma longa carta de amor, induzida por um episódio maníaco, escrita para uma ex por aquele cara que é parte de uma banda de Warped Tour-core e que não consegue esquecê-la, mesmo que tudo tenha rolado cinco anos atrás, quando eles estavam na oitava série.

Esse disco é foda, mas que caralhos está rolando aqui galera?
Annalise Domenighini

Tradução: Marcio Stockler