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Música

Banks e sua Caixa Mágica: "Estou me Sentindo Poderosa"

Desde que Banks virou assunto dos blogs, ela é o sonho de todo remixador.

Estamos em Chelsea, na cidade de Nova York, e Banks está em pé, dentro de uma caixa. Na verdade, está mais para uma cápsula que, a um primeiro olhar, parece um provador gigante de uma loja de departamentos, mas, quando você entra, o bagulho é louco. Quem está dentro da caixa pode ser visto de fora, mas quando se está lá dentro, tudo o que se pode ver são espelhos refletindo a sua imagem ad infinitum, antes de se transformarem em luzes zigue-zagueantes. Essa foi a instalação que Banks criou para a sua apresentação no Late Show With David Letterman. Ela é uma das últimas artistas a se apresentar no palco dele antes que o pano caia pela última vez, em maio. Nesse momento, ela está do lado de fora da caixa, no SIR Studios, no meio de um ensaio e parecendo perplexa. Está preocupada com os ângulos das câmeras, querendo que cada coisa aconteça no momento certo. Se tudo for conforme o esperado, vai parecer uma Matrix, mas se os ângulos estiverem errados, o efeito desejado será perdido. O objetivo é utilizar a casa de espelhos nos próximos shows da turnê, mas, nesse momento, o foco é sobre a apresentação no Letterman.

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"No Letterman os artistas ficam incríveis", um figurão de gravadora opina, sentado no sofá do estúdio. Banks tem contrato com a Harvest Records, selo adquirido pela Capitol Records, e lar de artistas como Matt and Kim, TV On The Radio, e Death Grips. "Toda vez que vejo alguém se apresentar no Letterman, fica uma coisa incrível", ele reitera.

"Bom, certo, agora estou empolgada", diz Banks. Esse evento não é pouca coisa para Banks, talvez mais importante para ela do que para outros artistas. Desde que a nativa de Orange County começou a aparecer nos blogs, em 2013, ela tem obtido destaque, mas não uma visibilidade esmagadora. (O Noisey foi atrás dela no verão daquele ano, patrocinando seu primeiro clipe a cores, da música “This Is What it Feels Like”. Assista abaixo.) É claro que ela já lotou casas (tanto sozinha quanto abrindo para o The Weeknd) e nós vimos o lançamento dos cativantes clipes de "Brain", "Drowning" e o mais recente, de "Beggin For Thread" – todos do disco de estreia do ano passado, Goddess, mas, mesmo que o número de seu celular ainda esteja em sua página oficial do Facebook, Banks controla de perto sua própria imagem e suas interações públicas, e está altamente focada na música.

Goddess chegou ao top 20 nos EUA, e em vários outros lugares, incluindo a Inglaterra, um ponto específico do mapa que é dono do coração de Banks. Ela chegou até a dar o título de London ao seu primeiro EP, em homenagem à cidade que a inspirou a gravá-lo, sagazmente se juntando com grandes músicos da capital inglesa, incluindo Lil Silva e Jamie Woon. (O LP teve colaborações com os artistas britânicos do Totally Enormous Extinct Dinosaurs e com o Sohn.) O disco de remix do Goddess acabou de ser lançado, contendo remixes feitos por produtores como Chainsmokers, Salva e Lido. Desde que Banks virou assunto dos blogs, ela é o sonho de todo remixador. Banks adora remixes, e apesar de ser uma das estrelas de maior brilho do ano passado, considera uma honra que alguém tenha sequer vontade de remixar sua música.

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Tímida não é a palavra certa para descrever a mulher nascida Jillian Rose Banks, e "reservada" tampouco. Resguardada talvez seja a mais apropriada, considerando que a cantora não abre mão de nenhum fragmento de uma vida privada que ela consiga agarrar. Isso parece impossível quando se é uma artista procurada, onde todo mundo está clamando por um pedacinho de você. Mas Banks se esforça de verdade. Mesmo estando em um estúdio lotado para seu próprio ensaio, ela se aconchega no sofá de couro sempre que não precisa estar presente. Ainda assim, quando aparece para ensaiar sua apresentação, é uma leoa. De pé, usando um vestido preto Thierry Mugler, calçando botas anabela e sem maquiagem – nem o característico "delineador de gatinho" com o qual ela normalmente decora os olhos nos shows – Banks, de 26 anos, é naturalmente deslumbrante. Depois de retornar ao seu castelo elétrico para ensaiar "Beggin For Thread" mais uma vez, ela aumenta a intensidade dos vocais, acompanhada por um baterista e um tecladista posicionados um de cada lado da cápsula, do lado de fora. Toda vez que ela ergue os braços enquanto canta, os espelhos os multiplicam: ela fica parecendo uma divindade hindu. Considerando bom esse último take, Banks comemora fazendo um intervalo e tirando suas roupas de show – colocando uma calça e uma blusa, os dois pretos, é claro.

Saímos para o saguão do estúdio, onde Carly Rae Jepsen está sorrindo para fotos com engenheiros aleatórios. Os olhos de Jepsen se fixam em Banks, que não parece perceber. Banks está puxando a própria camiseta: "Será que posso usar isso aqui no Letterman?", pergunta. Enquanto isso, Carly Rae parece estar prestes a gritar "Call me! Maybe?" para ela. Isso é o que Banks tem de melhor. Ela é incrível e não faz a menor ideia disso. Quando ela fala, suas respostas são bem elaboradas, às vezes profundas, em sua maioria abstratas, contudo não inacessíveis – muito como a sua música.

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"Você achava que ia ficar tão famosa assim?", pergunto a ela. "Nãããão", ela diz, negando com a cabeça. "De jeito nenhum". O Noisey colou na Banks depois de sua apresentação no Letterman para conversar sobre as transições da vida, privacidade, sobre como ela luta contra o frio na barriga antes de subir ao palco, e sobre o que podemos esperar para o futuro.

Noisey: Como o conceito da cápsula apareceu na sua cabeça?
Banks: Não tenho muita experiência com TV, e quando faço alguma coisa a minha vontade é sentir que estou sendo 100% eu, mesmo que não esteja no meu elemento, então quis trazer o meu mundo para um cenário ao vivo, e queria que fosse uma coisa especial. Estava pensando muito no que desejava fazer, e acabei topando com essa ideia.

Ficou contente com o resultado final?
Fiquei! Nunca tinha feito algo desse tipo antes. Num certo ponto você se preocupa tanto com a sua arte, e com o que você faz, e aí, quando ensaia e chega aonde queria, é tanto sentimento e raciocínio que você dedicou a tudo, e quando a coisa finalmente acontece, precisa se divertir com ela. Uma vez que você está lá, está lá e pronto.

Como foi, internamente, saber que tinha todo um público lá fora que você não conseguia ver?
Foi bem doido. Na verdade gostei, porque consegui estar no meu mundinho. Foi um negócio especial para mim. Fazer isso foi um marco para mim.

Como foi o mundo de Banks durante os últimos 12 meses?
Muito louco. Muitos shows de turnê, turnê ininterrupta. Crescendo mesmo. Você é colocada nessas situações que não são naturais, especialmente para uma criatura que sou eu. Sou uma pessoa muito reservada, e não estou muito acostumada a ser vista tanto assim, e essa foi uma transição imensa para mim. É por isso que acho essa apresentação muito interessante, porque não tinha como eu me esconder. Estou numa caixa espelhada, e lá, à mostra, estão todas as partes de mim, todos os ângulos possíveis. Às vezes as pessoas se enxergam de um jeito diferente de como são enxergadas pelos outros, e para mim foi meio que isso também: eu não consigo enxergar através desse pentágono espelhado dentro do qual estou, e todo mundo consegue me enxergar lá dentro. Então, eu talvez esteja me vendo de um jeito totalmente distinto do que as outras pessoas estão me vendo.

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Cada experiência que uma pessoa tem se dá em relação ao que ela está pensando, ao que ela está sentindo, e às coisas pelas quais está passando. Então, às vezes a pessoa pode passar por um período em que se sente horrível, e triste, e daí ela revê aquele momento e fala: "Meu Deus, eu estava realmente parecendo poderosa e bonita". Em alguns momentos foi assim que me senti nesse processo.

Você ouve suas músicas e se lembra do lugar sombrio e fundo em que estava e pensa: "Caralho, mas isso aqui é poderoso de verdade"?
Mas eu gosto desse lugar.

É de lá o seu CEP?
Não, meu CEP é de todos os lugares, estou em todos os lugares, mas esse lugar – não se pode ter medo dele, pois para mim, se eu não fosse àquele lugar, então eu literalmente seria uma corcunda, a gravidade seria pesada demais. Então é para lá que vou, e quando você canta, tem esse jeito foda de botar para fora, porque está cantando músicas como "Before I Ever Met You" e músicas que vêm do mesmo lugar, desse CEP que você dizia. Você canta essas músicas e se sente fodona enquanto está cantando. Você, tipo, superou alguma coisa.

Como você chega a esse estado de espírito, a esse lugar a partir do qual a criação acontece?
Não preciso ir até esse estado de espírito, a vida me leva até ele, e aí tenho que criar música para sair dele, se é que isso faz sentido.

Você é uma das poucas artistas que conseguiu se manter discreta, preservar um espaço de privacidade na sua vida. Isso foi algo que você decidiu fazer ao entrar nesse universo, tipo "tenho que preservar a minha humanidade acima de tudo"?
Meu Deus, sim. Quando digo que foi uma transição, é que foi difícil para mim… Não sei de onde isso vem, na verdade. Sou uma pessoa muito reservada, bem, talvez reservada nem seja a palavra. Às vezes não gosto que me vejam. Tem vezes que eu queria ser invisível. Às vezes só quero sentir e respirar, mas não ser vista, e apenas observar. Mas, perto do meu núcleo, pessoas com as quais me sinto realmente à vontade, sinto como se pudesse existir sem ser vista, mas também de uma maneira mais ruidosa, se é que isso faz algum sentido. Mas foi uma transição imensa, em especial esse negócio de sair em turnê, fazer shows sem parar. Em alguns shows você se sente muito forte antes, e vai lá e se sente ótima, e em outros shows simplesmente não tem vontade de ser vista, e aí sobre no palco. Lembro de um show meu, nunca antes de um show eu tinha me sentido tão mal. Simplesmente tinha ido para aquele lugar em que eu precisava escrever. É aquele estado de espírito no qual entro, e aí subi no palco, e senti que todos os meus poros estavam sendo feridos pelos olhos. Mas foi incrível, porque eu consegui chegar até o fim. Quando acabou, tive vontade de chorar, porque estava tipo "consegui!". É por isso que digo que estou aprendendo muita coisa, porque você precisa ser vista.

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É engraçado, porque a sua apresentação no Irving Plaza antes da turnê Goddess estava cheia de caras no público. E eles estavam cantando as suas letras, e pareciam o tipo de pessoa que não é muito de ficar pensando nas coisas durante o dia, mas isso foi prova de que a sua música e suas letras podem levar qualquer pessoa para aquele lugar.
Às vezes sinto que minhas letras são a minha parte mais animalesca. Tipo, nelas eu falo dos podres. Na minha música eu sou quem gostaria de ser em cada instante do dia, mas simplesmente falta a energia para sentir tanto assim. A pessoa ia acabar explodindo.

Você costuma sentir aquele frio na barriga antes de subir no palco?
Sempre. [Risos]

Sério? Não dá para perceber. Como você faz para vencer isso?
Faço várias coisas. Depende de como estou me sentindo. Costumo meditar antes dos shows, gosto de ficar sozinha antes dos shows. Não gosto de ter ninguém perto de mim por tipo uma hora antes dos shows. Preciso respirar.

Fala para mim sobre esse disco de remixes do Goddess. Parece que as pessoas vêm remixando suas músicas desde que você apareceu.
Sim! Acho isso muito legal, ouvir pessoas que admiro me remixando. As pessoas não remixariam uma música se não se sentissem tocadas por ela. É divertido ouvir diferentes versões, mas que mantêm a mesma pulsação da música. Mantêm a mesma mensagem ou o mesmo tom. Dá para transformar uma música pesada e arrastada em algo de ritmo um pouco mais veloz, e o tom continuar o mesmo – isso é muito interessante de ouvir. E os remixes têm sido uma grande parte do meu caminho porque, como você disse, eles simplesmente começaram a aparecer, e foi muito empolgante ouvi-los. E, como eram muitos, decidimos lançar alguns deles.

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Quais são seus planos agora?
Quero gravar, quero trabalhar mais na minha apresentação ao vivo. Estou muito inspirada nesse momento. Quero criar do jeito certo, seja visualmente, seja fazendo música. Com certeza preciso fazer música; sinto que agora preciso disso mais do que qualquer outra coisa. Vou estar no estúdio, e talvez vá a Londres para trabalhar com algumas pessoas que me deixam entusiasmada. Em breve vou participar de um monte de festivais, estou empolgada com isso. E tem uma coisa especial que vai sair nos próximos meses da qual não posso falar, mas nesse momento minha mente não para de girar em torno disso.

Que artistas você está sentindo no momento? Quem está inspirando você?
Tem uma garota chamada Nao. Gosto muito dela. Ela tem uma música que chama "So Good" (acima). Lil Silva sempre, ele é o meu garoto, a música do D'Angelo, "Really Love", no disco dele Black Messiah. Adoro aquela música, é tão linda. Esses são só alguns dos que estou curtindo no momento, mas quando estou criando música não costumo ouvir muita música. Só mergulho naquilo que estou fazendo, com quem estou fazendo junto. Ou então estou fazendo sozinha. De qualquer modo, fico tão concentrada no que estou criando que vou para o estúdio e trabalho, e aí fico ouvindo o que fiz a noite inteira, e fico escrevendo letras para aquela música. É como se eu mergulhasse tão fundo na coisa que nem chego a ter um impulso de ouvir qualquer outra coisa naquele momento. É algo que me toma inteira.

Está lendo algum livro?
Na verdade acabei de comprar um livro que estou muito pilhada para ler. Acabei de ler agora O Livro da Selva, do Rudyard Kipling. Adoro histórias, e acabei de pegar um livro da Clarissa Pinkola Estés, que é uma feminista sensacional, e escreveu um livro chamado Mulheres Que Correm Com os Lobos: Mitos e Histórias do Arquétipo da Mulher Selvagem, é meio que sobre aceitar o seu eu feminino animal interior da maneira mais emancipadora possível. Estou mesmo sentindo isso. Estou me sentindo poderosa agora.

Então, se você não estivesse aqui sendo a Banks, onde acha que estaria?
Em outro planeta…. fazendo a mesma coisa.

Goddess - The Remix, já está disponível.

Kathy Iandoli está começando um clube do livro com Banks. Você pode segui-la no Twitter: @kath3000

Tradução: Marcio Stockler