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Música

Uma noite de Dancehall no Morro

Com a ideia de trazer pro lado de cá da ponte as boas vibrações e o calor humano cena reggae/dub paulistana, a festa é tipo o clipe de “Work” da Rihanna, mas com cerveja de latinha.

Todas as fotos por Jardiel Carvalho do R.U.A Foto Coletivo

Há muitos e muitos anos, nos grandes centros urbanos do mundo uma panela de pressão cultural vem cozinhando os ritmos, ideias e costumes emprestados do Caribe, então não é bem novidade a existência de circuito reggae/dub/dancehall em São Paulo. Mas, como era de se esperar, muitas das atividades desse circuito acontecem dentro do raio do centro expandido da cidade, o tal “da ponte pra lá”. Mas faz uns anos que uma rapaziada que é assídua frequentadora dessa cena tem se coçado na intenção de espalhar a cultura do sound system para as vilas onde não têm metrô e os fluxos ainda estão fervendo, e esse movimento aí rendeu o Dancehall no Morro.

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O Dancehall no Morro começou meio sem querer, assim como tudo que é genuinamente bom. “No final de 2013 realizamos um baile na casa/ateliê de um dos manos, o Esbomgaroto, que além de artista de rua também integra o Quilombo Hi Fi”, conta Marcelo Gregório, o Jah kNomoh, 32, um dos organizadores da festa e que também faz parte do Quilombo Hi Fi. “Despretensiosa nossa ideia, apenas queríamos iniciar um ciclo fora das casas noturnas, que quase sempre dão o calote nos sound systems”, conta. “E também pra trazer para a periferia algo que estávamos acostumados a atravessar a ponte pra ver: bailes noturnos com som de qualidade e de preferência gratuitos”.

Da festa na casa do Esbomgaroto, ficou a lembrança de que o evento foi “uma das inesquecíveis vibrações ocorridas naquele ano”, mas o Dancehall no Morro só tomou corpo mesmo em 2015, depois que kNomoh e outros três manos conseguiram reunir “maturidade suficiente pra colocar adiante diversas ideias”. E foi certeiro o timing dos caras, casou com a rápida e forte cena globalizada que tem rolado com o dancehall graças à nomes fortíssimos e antenados da indústria (tem 91% de chance de você ter ouvido querendo ou não “Hotline Bling” ou “Work”, certo?).

A ideia começou na Favela do Sapo, nas redondezas da Água Branca, Zona Norte, e a festa ainda rola lá mensalmente. Mas os caras conseguiram por em pé o dancehall em vários morros também, tipo no Jardim Pery, ali pela região do Cachoerinha, na Zona Norte. Lá rola o Reggae Hour, toda quarta, das 18h à meia-noite.

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Já foram mais de dez edições na Favela do Sapo, e, apesar de uma treta que falamos sobre outro dia, a recepção só melhora, segundo Marcelo: “Temos 99% de adesão dos moradores — 1% ainda não se manifestou, tipo aquela tia de cara feia na janela — mas hoje, depois de várias edições, ela já não sai mais, acho que acostumou ou percebeu que o som é outro. A comunidade tem trauma do funk, que é caminho de via única pra molecada. E eles são bem fechados, têm pouco acesso e vontade de buscar outros ritmos. Não somos contra o funk, nós compreendemos o seu fenômeno, mas achamos um desperdício que muita gente ouça só funk, com tanta diversidade de gênero por aí. Mas bem, basta empilhar as caixas na rua que já rola aquela curiosidade.”

Tem uma regra geral para verificar se um fenômeno cultural tem chance de vingar mesmo ou não: caso o objeto analisado costume se materializar como uma reunião de pessoas com música alta e consumo de substâncias psicoativas (vulgo FESTA), e essa mesma instância se mostra conflituosa com o próprio tecido social — o principal sintoma disso é a tal intervenção do Estado, a repressão policial —, então tem grande chance de você ter identificado uma tendência cultural jovem. Algo cujos ecos muita gente estará ouvindo daqui um tempo, provavelmente sem fazer a mínima ideia do que seja ou de onde veio etc. Mais ou menos por isso (a verdade é que a ideia era curtir e dançar mesmo), colamos em dezembro em uma edição da Dancehall no Morro na Favela do Sapo para fazer um registro fotográfico das boas vibrações e do calor humano da sua próxima festa preferida.

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Veja mais fotos:

Curtiu? Se liga na agenda dos próximos eventos do coletivo:

05/03 Dancehall no Morro 13: Especial - Mês das Mulheres @Rua São Miguel do Tapuio ,12 - Jardim Pery. Convidados: DJ Stranjah e Rude Sistah

11/03 Skanking Reggae Music: @Favela da Vila Prudente - Av. Divinópolis S/N

26/03 Skanking Reggae Music: (Local a confirmar)

09/04 Dancehall no Morro 14: @Rua São Miguel do Tapuio , 12 - Jardim Pery. Convidado Funk: Buia e DJ Wojtila

15/04 Skanking Reggae Music: (Local a confirmar)

29/04 Skanking Reggae Music: (Local a confirmar)

07/05 Dancehall no Morro 15: @Rua São Miguel do Tapuio , 12 - Jardim Pery. Convidado: Victor Bhing I (RJ)

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