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Música

O Corrections House Não Quer Agradar Ninguém com o seu Novo Disco

Em 'Know How to Carry a Whip', os integrantes do Neurosis, Eyehategod, Minsk e Yakuza te levam por uma viagem torturante que mistura metal industrial e pós-punk.

Todas as fotos de divulgação

Anunciado oficialmente no final de 2012, o Corrections House chamou a atenção logo de cara por trazer um time de peso do sludge/pós-metal dos EUA, reunindo ninguém menos do que Scott Kelly (Neurosis), Mike IX Williams (Eyehategod), Sanford Parker (Minsk) e Bruce Lamont (Yakuza), o que fez com que a então nova banda recebesse automaticamente a alcunha não muito bem vista de “supergrupo”.

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Mas os dois discos da banda, Last City Zero (2013) e o recém-lançado Know How To Carry a Whip (2015), foram mais do que bem-sucedidos em quebrar a cara (da melhor maneira possível, vale destacar) de quem esperava por uma mistura do Neurosis com o Eyehategod, por exemplo, na música da banda.

Em vez disso, o Corrections House faz um som sufocante e denso com uma pegada industrial/pós-punk, entre outras influências, graças a diferentes elementos, como o inusitado saxofone de Bruce Lamont, que divide os vocais com Mike IX Williams e Scott Kelly, também responsável pelos riffs e microfonias. Tudo isso com as bases barulhentas e a produção sempre competente de Sanford Parker, que já trabalhou com nomes como YOB, Pelican e Indian, entre outros.

Conhecido principalmente por ser o vocalista do Eyehategod, o sempre divertido Mike IX Williams pode mostrar suas outras influências no Corrections House, incluindo sessões de spoken word nas músicas a partir de trechos dos seus livros. Tudo isso sem perder o estilo sarcástico e provocador marcante do EHG, como comprova o título da música “I Was Never Good at Meth”, do novo álbum lançado no final de outubro.

Na entrevista abaixo, feita por telefone na semana passada, Mike falou obviamente sobre o disco novo, mostrou toda a sua insatisfação com o uso do termo supergrupo, riu de quem gosta de chamar o Eyehategod de sludge e o Corrections House de “metal inteligente” e garantiu que não quer agradar ninguém com a música que faz.

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Noisey: Vocês acabam de lançar o disco Know How To Carry a Whip, que me pareceu mais coeso e definido do que o primeiro trabalho da banda, Last City Zero (2013), que soava mais como uma reunião de quatro discos diferentes. O que mudou no processo de composição e gravação do novo disco? Conseguiram ficar juntos no estúdio dessa vez?
Mike IX Williams: Sim, nós todos ficamos no estúdio basicamente. Nós fazemos as coisas sempre que podemos. Não existe nada planejado nesta banda. Nós não sentamos e falamos “vamos escrever um disco mais coeso” ou “vamos escrever músicas desse ou daquele jeito”. Nunca fazemos isso. As coisas acontecem do jeito que acontecem, do jeito que elas evoluem. E a mesma coisa com o primeiro disco. Eu fui até Chicago gravar os vocais e o Scott fez as coisas dele… Eu nem lembro como o Scott gravou as partes dele. Eu já tinha voltado. Gravei os meus vocais e o Scott fez alguns overdubs e o Sanford e o Bruce gravaram as partes deles. É assim que funciona, de forma bem simples.

Apesar de vocês já se conhecerem há bastante tempo, a banda tem cerca de três anos. Pensa que esse período mais próximos, tocando e compondo juntos, fez com que ficassem mais confortáveis de alguma forma com a banda e o som para que isso se refletisse no novo disco?
Ahhh… não. Eu não sei qual a resposta para isso porque é basicamente como você disse, nós nos conhecemos há bastante tempo. Só podemos ficar tão confortáveis como seres humanos juntos, de qualquer maneira. Quero dizer, é isso. Nós somos amigos e vou te dar a mesma resposta [da outra pergunta]. Não sentamos para planejar nada. Quanto a ficar confortável, eu estou confortável. Nós não paramos e falamos: “Vamos fazer um disco desse jeito porque estamos juntos há três anos”. As coisas apenas saem como tem de sair. E é assim que deve ser.

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Como funciona o processo de composição na banda com vocês todos morando em cidades diferentes e tendo outras bandas? Conseguem se encontrar para tocar juntos ou é tudo mais na base de trocar arquivos e ideias pela internet?
Da mesma forma que qualquer outra banda faz hoje em dia. Com a tecnologia e tudo mais, ficou super fácil fazer isso. Mandamos as coisas pelo computador. O Sanford nos envia os sons eletrônicos e as linhas de baterias e então ouvimos o material e sentimos melhor aquilo. Mas é, quero dizer, muitas bandas fazem isso hoje em dia.

E como é ter um membro da banda produzindo o disco, como é o caso do Sanford, que trabalha na área há muito tempo? Deixa o processo mais confortável? No Eyehategod, vocês costumam trabalhar com uma pessoa diferente a cada álbum, por exemplo.
Bom, no Eyehategod todos eles são amigos nossos. Todo mundo que trabalhou no último disco do Eyehategod são pessoas que conhecemos já há algum tempo e elas disseram: “Sim, eu quero fazer parte disso. Quero ajudar vocês. Adoro a sua banda”. Apenas querem fazer parte disso, sabe? Mas não entendi muito bem a ligação da sua pergunta com o Corrections House.

Por ter o Sanford tocando na banda e produzindo o disco, pensa que ele e/ou vocês possam ficar muito próximos do material, de maneira que talvez não vejam coisas que uma pessoa de fora conseguiria enxergar?
Ah, não sei, não tenho ideia. E nem me importo com isso. No meu mundo, as coisas acontecem do jeito que elas acontecem. Apenas deixo as coisas seguirem, fluírem, seguirem seu caminho. Se o Sanford vai ser o cara no estúdio mixando e cuidando da gravação do disco, isso está ótimo para mim. Eu preferia ter isso, acho. Mas mesmo que fosse alguém diferente, não iria realmente importar. Desde que essa pessoa entendesse a música.

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Falando em produtores, você já trabalhou com o Billy Anderson no Eyehategod e com o Sanford no Corrections House, como falamos agora. Tem outros nomes com quem gostaria de trabalhar, uma lista ou algo assim?
Nem saberia te dizer alguns nomes [risos]. Nem conheço nenhum produtor. Não me mantenho informado sobre coisas desse tipo. Não há nenhuma lista desse tipo porque não conheço nenhum produtor no momento. Quem seria um produtor conhecido hoje? Eu não tenho ideia.

Alguém como o Steve Albini? Não sei.
Nós gravamos o primeiro disco do Corrections House no estúdio dele, em Chicago. Então já trabalhamos com o Steve Albini. Quer dizer, na verdade ele não chegou a sentar na mesa ou fazer qualquer tipo de mixagem ou coisa do tipo, mas nos deixou usar seu estúdio. Mas quem é ele? Também nem ligo para o Steve Albini. Isso não me interessa. Já passei disso. Estou nessa para fazer música e não para dizer algo como “veja quem nós conseguimos” ou “advinhe quem vai produzir o nosso disco”. Isso não interessa. Penso que, desde que a música fique boa, então eu estou feliz. Se o disco soar bem, então eu fico feliz. Mesmo que seja um produtor totalmente desconhecido, está tudo bem.

Algumas pessoas… muitas pessoas, na verdade, gostam de chamar bandas como o Corrections House de “supergrupos”. Vocês alguma vez sentiram algum tipo de pressão para soar desse ou daquele jeito por conta das suas outras bandas, como Neurosis, Eyehategod, Minsk e Yakuza?
Não. Cara, eu não ligo para quem esteja nos pressionando. Eles podem nos pressionar o quanto quiserem para que a gente soe desse ou daquele jeito, mas não vai acontecer. A palavra supergrupo é estúpida, para começo de conversa. E é mesmo, é besta, é idiota. Apenas por que somos quatro pessoas de quatro bandas diferentes, então alguém vai nos rotular como um “supergrupo”? Isso não faz nenhum sentido para mim.

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E sobre o nosso som… as pessoas chegam e dizem [faz uma voz engraçada]: “Mas como vocês não soam como o Eyehategod? Por que? Por que não soam igual ao Neurosis?”. E nós apenas pensamos “vai se foder”. Nós fazemos isso porque queremos fazer música. É por isso que estamos nessa, porque queremos fazer música. Não estou aqui para agradar ninguém ou fazer um disco que… Se alguém nos pressionasse a fazer algo assim, acho que iríamos totalmente para a direção oposta. Já disse que o Corrections House pode fazer um disco totalmente acústico. Ou um álbum bem barulhento/noise. Não vejo razões para seguir qualquer tipo de regra nesse mundo.

Os dois discos da banda claramente tem um som mais direcionado para o industrial, que até compartilham algumas características com o seu projeto mais experimental Guilt Of. Queria saber se isso é algo que você sempre quis fazer, ter talvez uma banda mais aberta do que o Eyehategod, que é seu grupo principal, em que você possa fazer spoken words, gritar, fazer todo tipo de vocal. Você estava atrás disso?
Bom, sou fã desse tipo de música, industrial e pós-punk. Quero dizer, curto essas bandas desde os anos 1980. Coisas como SPK, Throbbing Gristle, Killing Joke, Test Dept, etc. Para mim, isso eram coisas interessantes e fascinantes. Mas, novamente, nunca paramos e falamos “vamos fazer um disco que pareça com essa banda ou algo do tipo”. Foi algo que aconteceu totalmente por acidente. Era apenas algo sobre o que falávamos, como “é, eu gosto do Killing Joke” ou “gosto do SPK”. E a próxima coisa que aconteceu é que estávamos escrevendo músicas que seguem por essas linhas.

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Aliás, queria saber sobre a dinâmica da banda. Vocês tem três pessoas que fazem vocais: você, o Scott e o Bruce. Como isso funciona na hora de composição? É algo mais difícil de lidar? Ter três vocalistas em uma banda em vez de apenas um, por exemplo? Ainda mais uma banda um pouco mais experimental.
Não, nem um pouco. Esse parece um tema recorrente em todas as perguntas [risos]. É apenas uma questão de quem quer colocar suas letras aqui ou quem quer cantar naquele trecho. Não existe uma pré-disposição na coisa toda. Não existe uma linha de pensamento do tipo “bom, o Scott tem que cantar aqui” ou “o Scott não canta aqui, o que vamos fazer?”. Não, se o Scott não puder cantar, então eu ou o Bruce cantamos. É muito tranquila e livre a forma como as coisas são criadas.

Voltando um pouco para algo na mesma linha da coisa do supergrupo e tudo mais. Algumas pessoas, talvez as mesmas que falam do Corrections House como um supergrupo, costumam se referir a bandas como vocês, Isis e Neurosis, por exemplo, como “metal inteligente” (“intelligent metal”, em inglês). Isso te incomoda de alguma maneira?
É apenas mais um rótulo, cara. Eu entendo que você é um jornalista e precisa descrever as coisas de uma determinada maneira. E eu já passei pela mesma coisa. Eu fui um jornalista de rock [Mike escreveu para a revista Metal Maniacs] e você precisa descrever música, o que é algo difícil de fazer. Mas as pessoas criam muitos gêneros e rótulos. Honestamente, eu nunca ouvi isso. Metal inteligente [risos]. Se as pessoas querem nos chamar assim, está tudo bem. Isso não me importa. É a mesma coisa com as pessoas chamando o Eyehategod de sludge. Nós achamos que isso é a coisa mais estúpida do mundo. É algo bobo. É apenas uma coisa que alguém inventou. E agora chegou ao ponto em que as pessoas me perguntam “ei, qual a sua banda favorita de sludge?” e eu apenas penso “eu nem sei do que você está falando”. O Eyehategod toca o seu som. Nós nunca colocamos nenhum rótulo nisso. Se é algo, é uma banda de blues. E é a mesma coisa com o Corrections House, mas quebrando em ainda mais estilos. Para mim, isso representa algo que você não consegue rotular. Então eu nem sei o que isso significa, metal inteligente. Não sei o que eles querem dizer com isso. Quero dizer, eu entendo o conceito, mas não sei por que alguém chamaria algo assim.

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Capa de Know How to Carry a Whip

No final do ano passado, vocês precisaram cancelar alguns shows da turnê porque o seu médico recomendou que você simplesmente parasse por algum tempo. Desde então, precisou mudar a sua rotina e/ou sua preparação para os shows?
Cancelamos apenas uma semana, já tínhamos feito umas três semanas de shows antes. Foi apenas uma questão de exaustão, na verdade. Fiz uma turnê com o Eyehategod, fui para casa, depois voltei para a estrada com o Corrections House, aí fiz outra turnê com o EHG, entrei em estúdio com o Corrections House, e continuei entrando e saindo de turnês. Fui para Chicago gravar com o Corrections House, gravei com o Eyehategod, fiz as turnês. Em algum momento, você não consegue fazer isso todos os dias. E sou um cara mais velho, toco em bandas desde os 16 anos. Bandas punk, apenas bandas de garagem, qualquer coisa desse tipo.

E como é o seu sentimento no palco com o Corrections House, que é algo talvez menos direto e agressivo do que o Eyehategod? Vi um show do Eyehategod recentemente na Califórnia e me pareceu algo talvez mais provocador, tenso. Pensa que são duas coisas realmente diferentes? Como é isso para você?
Não, para mim é a mesma coisa. Os dois são catárticos, uma forma de retirar agressividade e outros sentimentos no palco. E é uma forma de se divertir também, a gente se diverte no palco. Para mim, não existe diferença em nenhuma das bandas que eu toco. Sou em lá cima gritando ou fazendo qualquer outra coisa. O sentimento costuma ser o mesmo: agressividade.

Aliás, como vocês se sentem agora no Eyehategod podendo finalmente fazer turnês com um disco novo (não mais tão novo, na verdade) debaixo do braço? Pergunto porque ficaram quase 15 anos sem lançar nada, tocando basicamente material dos mesmos álbuns.
É algo ótimo, obviamente. Mas as pessoas precisam entender que se você entrar no YouTube vai poder ver que já tocávamos muitas dessas músicas mais novas ao vivo anos antes do disco sair. Algumas delas até dois ou três anos antes. Além disso, nós temos muitos discos lançados. Então sempre mudávamos o setlist. Mas sempre tem as pessoas que querem ouvir as “músicas básicas”, coisas como “Sister Fucker, “30$ Bag”, as mesmas coisas. É isso que os fãs querem ouvir. E o lance é que eles reclamam, ficam bravos com você se não tem um disco novo. Só que assim você lança um álbum e vai tocar as músicas dele ao vivo, eles falam: “Não, nós queremos ouvir as coisas antigas” [risos]. Você realmente não pode ganhar. Mas temos muitas músicas que sempre pudemos tocar e as pessoas sempre pareceram querer ouvir as coisas de sempre. E não há nada de errado com isso.

E depois de lançar um disco após tanto tempo, pensam em voltar logo ao estúdio com o Eyehategod?
Bom, estamos escrevendo as músicas do disco novo agora. Mas é, assim que as músicas estiverem prontas e tudo mais, vamos voltar ao estúdio. E isso é tudo que sabemos. Não sabemos nada além disso. Todos temos bandas diferentes. O Jimmy às vezes sai em turnê com o Down ou o Superjoint, e o nosso baterista [Aaron Hill] também toca com outras bandas.

Você acha que esse estilo de música, com o Eyehategod, Down, a cena de Nova Orleans em geral, além do Neurosis, Melvins e tudo mais, está tendo um maior reconhecimento ultimamente? Temos visto alguns documentários sobre o assunto, como a série do Noisey, além de cada vez mais festivais com essas bandas, entre outras coisas. Acha que talvez as pessoas estejam dando mais valor, reconhecendo mais essas bandas, após tanto tempo?
Sim, elas estão. Isso já vem acontecendo há algum tempo. Não é algo que aconteceu agora. Muitas pessoas agora sabem sobre essas bandas. Elas finalmente tiveram o seu reconhecimento.

Essa é a última. Como você quer ser lembrado?
Como eu pessoalmente quero ser lembrado? Ah, merda, não pensei sobre isso, cara [risos]. Não sei, como alguém que foi criativo, eu acho. Cara, essa é uma pergunta difícil. Acho que prefiro que os discos que gravei falem por si só. As pessoas podem se lembrar de mim pela música que eu fiz. E os meus amigos que me conhecem, conhecem um lado diferente. Teria que ser algo assim. Não poderia dizer algo como “eu quero ser lembrado por isso”. Vou dizer apenas que a música fala por si só e os meus amigos que me conhecem de outra maneira vão me conhecer por isso.