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Música

O Barney do Napalm Death Usou uma Camiseta do Justin Bieber pra Provar que Odeia Fascistas

"Na Rússia acabaram de passar aquela lei idiota banindo a promoção de práticas sexuais não-tradicionais. É bem besta, e eu queria que eles soubessem o quanto a lei deles é idiota."

Foto cortesia da Century Media

O vocalista do Napalm Death, Barney Greenway, há muito tempo é – e provavelmente sempre será – uma das vozes mais vitais do extreme metal; seu urro cáustico tem um poder sinistro, mas suas mordazes letras sociopolíticas batem ainda mais forte. Desde os primórdios da banda, na encardida Birmingham dos anos 80, até a sua encarnação atual como um dos mais confiáveis defensores do gênero, esses patronos do grind britânico passaram as últimas três décadas disparando extremidade de qualidade – e ainda metralha um cover do Dead Kennedys em todas as paradas de sua exaustiva turnê global. A própria estreia de Greenway no Napalm Death (no clássico Harmony Corruption, de 1990) foi um momento decisivo para a banda, e eles desde então nunca chegaram a olhar para trás.

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Falando em disparar coisas fodas, a banda soltou um novo vídeo para "Smash A Single Digit", tirada do novo disco. Dê um bizoio abaixo:

O décimo quinto disco do Napalm Death, Apex Predator – Easy Meat, acabou de sair na gringa no dia 27/1 pela Century Media, e o Noisey aproveitou a oportunidade para descolar uma entrevista franca com o Barney Greenway sobre a política do metal, manter a união e lidar com skinheads.

Noisey: Então, em primeiro lugar, me disseram que eu precisava perguntar sobre a sua camiseta do Justin Bieber.
Barney Greenway: Sim, eu tenho uma, usei ela na Rússia porque achei que parecia bem afeminada, e queria parecer bem afeminado, porque eles acabaram de passar aquela lei idiota banindo a promoção de práticas sexuais não-tradicionais. É bem besta, e eu queria que eles soubessem o quanto a lei deles é idiota.

Como as pessoas reagiram à camiseta?
É, tipo, pra ser sincero, a maioria ficou rindo só. O que vai se fazer, né?

Pelo menos você se manifestou.
Bom, é claro. Você sabe, eu sempre tento fazer o melhor que eu posso.

Já vi vocês tocarem um monte de vezes, e sempre fazem o discurso antifascista antes de "Nazi Punks Fuck Off", que continua sendo uma mensagem muito importante de se transmitir. Você já teve algum problema por tocar essa música?
Eu realmente acho que, se você desconsiderar a definição cultural ou sei lá de um metaleiro ou um punk, a maioria das pessoas na cena como um todo são mesmo bastante humanitárias. Acho de verdade que elas sabem que dá pra ver nos olhos delas o que elas sentem, a coisa certa ou a coisa errada a se fazer, e elas pensam nesses assuntos de verdade. Tipo, eu viajei por toda a extensão da Grã-Bretanha e para os Estados Unidos. Exceto por alguns incidentes especialmente feios no início dos anos 90 – quando supremacistas brancos faziam parte da última tendência, o que foi muito perturbador – fora isso, houve uma quantidade comparativamente pequena de negatividade desde que saí dos EUA. E tipo, não querendo ser engraçadinho, mas, mesmo tocando nos ambientes mais tipicamente conservadores, mesmo nessas ocasiões, nunca houve muitos problemas.

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Já teve que aguentar merda dos outros em algum outro lugar?
Só algumas encaradas bravas dos fundamentalistas em alguns lugares. Teve um pouquinho disso na Croácia, na verdade; teve um pouquinho de fundamentalismo, só uns garotos do público. A maioria só meio que olhou [durante "Nazi Punks Fuck Off"] e falou "cala a boca!" Também nunca vimos violência, o que é bom. Eles só meio que encaravam. Nem tive que me meter.

Nessa altura do campeonato, se a pessoa vai ver Napalm Death, ela já deve saber o que esperar.
Sim. Tipo, pra ser sincero, algumas dessas pessoas chegam tentando botar um pouco de pilha. Já vi isso milhões de vezes. É feio. É feio mesmo. Você entra em desespero quando vê essas coisas. Alguns deles têm bagos mesmo, sendo que eu não tenho nenhum; nem em sonho que eu iria numa reunião de supremacistas brancos, porque iriam me cobrir de porrada.

A maioria das bandas se contenta em subir no palco, tocar e dar o fora, mas o Napalm Death sempre fez questão de subir no palco com uma mensagem de verdade.
Não desperdice suas oportunidades, né? No final das contas, não estou tentando bater em ninguém com um porretão, porque acho que, se você forçar as pessoas, a psicologia é que você vai totalmente se voltar contra as coisas que gosta muito de examinar e considerar. Então eu sempre tento colocar as cartas na mesa, entende? Sempre tento dizer a eles: "olha, pessoal, tá acontecendo o seguinte, vejam, pensem sobre isso, considerem, e formem suas próprias opiniões". Nos EUA é sempre um pouco mais agressivo, você está no calor do momento, então está sempre metido numa discussão. Eu só quero que as pessoas saibam que se pode gostar desse tipo de música e continuar sendo um ser humano. As duas coisas não se excluem. Somos um veículo com dois assentos. Não vamos esquecer: a música é importante. A gente não está só subindo num caixote pra discursar, entende? É claro que ainda existe um valor de entretenimento na coisa. Mas há um ímpeto específico da banda em termos líricos e, para mim, isso sempre foi o principal. Também não se reduz a usar a coisa como um gancho conveniente, um modo de arranjar assunto sobre o qual cantar – é uma declaração genuína de análise, crítica e denúncia.

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Foto cortesia da Century Media

Deve ser engraçado ver gente reclamando que a polícia do politicamente correto está tomando conta do metal, só porque mais bandas estão tomando consciência de certas questões, e ficaram mais dispostas a colocar a boca no trombone.

Eu acho que esse termo mesmo, "politicamente correto", sempre foi muito conveniente para atacar as pessoas que realmente se importam com os outros, e se importam com tratar os outros de maneira digna, sabe? É um absurdo! Não me entenda mal, acho que todo mundo tem direito à sua opinião; todo mundo que quer ter uma opinião deve ter a sua. Não me incomodo muito com isso, não, mas a verdade é que eu rio, porque é tão estranho que as pessoas defendam essas opiniões. Até no heavy metal, por exemplo, você pode encontrar metáforas e imagens extremamente homoeróticas, e a gente imagina que essa questão seria essencial para muitas daquelas pessoas. Vai entender, né?

Vocês também nunca tiraram o pé do acelerador; nos últimos poucos anos vimos muitas reuniões e retornos de grandes nomes, mas o Napalm Death sempre esteve lá, mandando ver.
A gente sempre teve um problema com a espontaneidade em termos de escrever música, e sempre damos valor ao que é ruidoso e caótico. E isso nos ajuda; se a gente gravar alguma coisa e ela parecer pomposa demais, a gente só larga ela pra lá e encontra alguma outra coisa que seja um pouquinho mais caótica. A gente adora, a gente gosta dessa liberdade, de quase cair do palco.

Nós amadurecemos durante os anos 90, quando, se você tocava música extrema, não podia ser preso nem nada assim [risos]. Você aparecia em alguns dos lugares da Alemanha e lá via tipo umas quinze, vinte pessoas, mas, mesmo assim, a gente tocava para os quinze ou vinte meninos que não tinham que gastar o próprio dinheiro para entrar naqueles shows, e então eles recebiam o mesmo que recebem hoje em dia – um show 100%. Nada mais, nada menos que isso. Não dá pra você fazer uma coisa simplesmente nas coxas, tem que fazer do jeito certo. Isso é o básico pra gente, falando a verdade.

Depois desse tempo todo, você ainda sente que são uma banda faça-você-mesmo?
Nós temos essa mentalidade. É claro, a gente tem uma gravadora, a gente tem até mesmo um empresário, mas burro a gente não é; a gente não fica aqui sentado dizendo amém pra tudo que os outros falam. A gente põe a mão na massa; as decisões que tomamos são tudo pra gente, sabe? É bom ter isso, esse tipo de controle. Se você se distrai e perde o controle, vai sofrer por causa disso, é o que eu acho. Porque é aí que tudo começa a degringolar, quando as pessoas perdem o controle.

Kim Kelly está revisitando 'Scum' no Twitter.__

Tradução: Marcio Stockler