Roqueiros contam por que odeiam o Carnaval
Imagem principal: Isabela Johansen. Foto por Felipe Larozza/ VICE

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Roqueiros contam por que odeiam o Carnaval

"Meu plano pro Carnaval é não ir pro Carnaval."

Na imagem, Isabela Johansen. Foto: Felipe Larozza/ VICE

O espírito soturno e nefasto do rock permanece em alguns corações jovens que não sucumbem à multidão suada e feliz, tampouco ao glitter corporal durante a festa mais ousadia & alegria do nosso Brasilzêra: o Carnaval. Mesmo na era em que o rock é considerado um defunto para alguns, roupas pretas, cabelos desgrenhados, tatuagens, camisas xadrez, jeans rasgados e Nirvana na vitrola resistem bravamente.

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Para ilustrar melhor o cenário de quem dispensa a festa da carne para grudar no próprio violão e passar longe dos rolês muvuquentos e coloridos, a VICE entrevistou uma turma de amigos roqueiros que moram na cidade de São Paulo. Todos são músicos, já pularam um Carnavalzinho, sim, mas declinam da fantasia de folião. "Como?", você, que aguarda 365 dias no ano para tirar a peruca verde do armário, se jogar nos blocos de rua, se empanturrar de cerveja, engolir confete e beijar muitas bocas, se pergunta.

Eles reclamam de quem fica muito louco causando e mijando pelas calçadas, dos furtos e assaltos que acontecem na multidão e sugerem o que seria um Carnaval ideal. Conservador demais para um verdadeiro espírito roqueiro? Paira no ar a interrogação. Leia abaixo as entrevistas que foram editadas para melhor compreensão.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Vinnie Martins, 26, estudante de publicidade e propaganda e músico

VICE: O que é que você não gosta do Carnaval?
Vinnie: Acho que o brasileiro é muito preguiçoso. As coisas só começam depois do Carnaval. Vem o ano novo e o brasileiro fica naquela moleza até o Carnaval. A única coisa que gosto no Carnaval é de ver a apuração das escolas de samba. Os caras se matando na porrada. Um vem, rouba o papel, rasga e foda-se.

Você gosta de calor humano e de gente suada com glitter no corpo?
Não gosto muito de muvuca. Até porque é bem perigoso. A galera se aproveita disso.

Qual seria o seu Carnaval ideal?
Seria um festival tipo o Woodstock: sete dias só com banda daora, reggaera, ska. Não precisa ser no lugar do Carnaval, mas em paralelo.

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Se você tivesse obrigatoriamente de escolher uma fantasia hoje, qual seria?
Joey Ramone. Uma perucona e um Ray-ban.

Qual é o hit carnavalesco deste ano: "Me Libera Nega" ou "Deu Onda (Meu pau te ama)"?
Quanto mais lixo, mais o brasileiro gosta. Ano passado era "Baile de Favela". Mas não sei qual é o hit.

Qual é a sua bateria nota 10?
Baterista, uma música, uma banda?

O que você quiser.
John Bonham.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Débora Camiotto, 32, estudante de teatro, vocalista e guitarrista da banda Taberna Escandinava

VICE: Por que você odeia Carnaval?
Débora: Primeiro porque acho que as pessoas ficam muito idiotas nessa época do ano. Babacas mesmo. "Ai, é Carnaval, então vamos todo mundo se pegar, encher a cara e dirigir bêbado." Acho besta. Não curto essa coisa da aglomeração. No ano passado, me aventurei pela primeira vez. Tentei ir no bloco que homenageou o Bowie. Não consegui nem chegar perto pra ouvir a música. Roubaram meu celular. Isso resume tudo. A cidade fica imunda, as pessoas mal educadas, assaltos e acidentes acontecem. A brincadeira, esse lance de se fantasiar eu acho legal, a festa da carne, não.

Você lembra de ter se fantasiado na infância?
Lembro de me fantasiar de bailarina, cheia de lantejoula prateada. Eu adorava confete, serpentina. Era muito legal. Essa coisa de dançar, de se fantasiar era legal.

O que você faz durante o Carnaval?
Uma das únicas coisas que gosto durante o Carnaval é o feriado. No ano retrasado, fiz um retiro de ioga em Minas Gerais. Fiquei longe de tudo, não escutei nada, não vi a cara da Globeleza. E ainda serviu pra pensar em algumas coisas.

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Se você pudesse remodelar o Carnaval, como seria?
Acho que eu ia proibir um monte de coisa e liberar o Carnaval nos salões. Só lá dentro. Talvez eu esteja exagerando… Não sei. Mas acho que ia colocar um monte de blitz pra foder todo mundo.

Carnaval de roqueiro é triste?
Não necessariamente. É feriado. A gente arruma alguma coisa pra fazer.

Grande hit do Carnas 2017: "Me Libera Nega" ou "Deu Onda (Meu pau te ama)?
Só conheço "Meu pau te ama" e odeio essa merda. Até já acostumei um pouco, mas, no começo, eu queria morrer.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Isabela Johansen, 31, escritora, vocalista e guitarrista da banda Taberna Escandinava

VICE: Por que você odeia Carnaval?
Isabela: Porque acho que é uma festa muito cheia de vazios. Você está no meio de muitas pessoas que não te dizem nada, que estão muito dentro do próprio mundo.

Você pulava Carnaval na infância?
Sim, já me fantasiei de tudo. Uma vez, eu e meus primos nos fantasiamos de Bananas de Pijamas.

O que você sente quando vê todo mundo fantasiado, suado, cheio de glitter e bêbado nas suas redes sociais?
O meio que eu convivo, que são as pessoas que gostam de rock, estão sempre meio fantasiadas, bêbadas. Então, não tem muita diferença.

Se você pudesse fazer o Carnaval do Brasil, como seria?
Eu deixaria as pessoas mudas, surdas e tudo bem, pode beber, mas em silêncio.

Qual seria sua fantasia de Carnas hoje?
A que eu tô, de roqueira. Já estou pronta.

Qual será sua trilha sonora pro Carnaval?
"The end", do The Doors.

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Carnaval de roqueiro é triste?
Acho que Carnaval é triste. O rock'n'roll é diversão também, é chutar o balde. Acho que, às vezes, é muito mais feliz do que samba. Roqueiro bebe sozinho porque se beber junto, fodeu. Roqueiro no Carnaval é foda porque roqueiro não tem limite. Fui num bloco de uns amigos e saí de lá sem chave do carro, sem celular, fui esmagada. Mas as pessoas estavam se divertindo. As pessoas acham legal. Eu acho legal que as pessoas achem legal. Mas eu percebi que me sinto muito mais sozinha lá [no bloco], do que em casa.

Você tem planos pro Carnaval?
Meu plano pro Carnaval é não ir pro Carnaval.

Qual é a sua bateria nota 10?
Gaviões da Fiel. [risos]

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Raul de Paula, 29, baterista das bandas Supercombo e Zukangor

VICE: O que você odeia no Carnaval?
Raul: Não odeio. Acho uma coisa legal. De certa forma, é alegria pro povo, que merece. Mas acho que a galera não sabe se comportar. Na Copa do Mundo, um dia normal na Vila Madalena, bairro [paulistano] onde eu moro, é tranquilo. No Carnaval ou na Copa, a Vila Madalena vira um tumulto e um chiqueiro. E nós sofremos com isso. Nem saímos de casa porque é xixi pra todo lado e cocaína comprada no cartão.

Mas isso não tem a ver com o rock?
Não acho. Acho que é uma questão de postura de quem tem consciência com relação à sociedade. Você não precisa ser roqueiro pra ser respeitoso com a cidade e com o próximo. Tive a infelicidade de sair durante a Copa do Mundo e ver muitas gurias sendo atacadas por estrangeiros e brasileiros. E é nojento. Não é roqueiro, pagodeiro… é questão do ser humano mesmo.

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Você lembra de ter pulado Carnaval alguma vez?
Eu fumei muita maconha, então não lembro bem da minha infância. Morei em Salvador, na Bahia, e participei de muitos batuques, tipo Olodum, que é do caralho. Mas já desfilei pela Pérola Negra.

Como seria o seu Carnaval?
Eu não mudaria o Carnaval no Brasil, eu mudaria a mente das pessoas. Bebe tua cerveja, tua vodca, usa o que quiser usar. Mas não interfira na vida dos outros. Não faça cagada.

O que você costuma fazer durante o Carnaval?
Atualmente, não saio da frente do computador. Fico compondo ou no estúdio, tocando. Porque é minha vida. Rock. Então, lá da minha casa, nem vou ouvir o que vai acontecer durante o Carnaval.

Qual é a trilha sonora do seu Carnaval?
Lá em casa vai tocar muito In Utero, do Nirvana, e pau no cu das batidas do Carnaval.

Qual é sua bateria nota 10?
Porra, hein… Vamos de clássico: John Bonham. Já falaram John Bonham? Então, com certeza o Júnior, irmão da Sandy.

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