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Música

Esse Aparelho de Som Russo Transforma Radiação em Música Ambiente

Tinha que ser russo!

Infelizmente, a radiação é um subproduto de praticamente todas as coisas que amamos, desde mandar mensagens pelo iPhone até assistir reprises de Seinfeld, ou mesmo comprar discos feitos com chapas de raio-X; é realmente uma amiga verde fosforescente que não queremos ter de modo algum próxima de nós em grandes quantidades. Agora, graças a um laboratório russo insano, temos mais uma criatura para acrescentar à lista das coisas criadas por ela, junto do Godzilla e do Hulk.

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Conheça a Metaphase Sound Machine, uma máquina de criar música que utiliza um contador Geiger para cuspir a música mais esquisita possível. O contador Geiger é uma ferramenta que pega a radiação e a traduz para um sinal, dependendo da proximidade. O som oscilante é então modulado e se retroalimenta – criando algo que nos torna conscientes de quanta radiação há à nossa volta, ao transformá-la numa trilha sonora composta de sons mais loucos do que um lado-b do Animal Collective.

A máquina foi parte de um projeto cultural chamado Entrelaçamento Quântico, do Laboratório Moscou de Arte e Ciências do Espaço, no festival Future Everything, e foi criada por Dmitriy Morozov (na foto acima), um artista experimental de mídia que já chamou a atenção do Noisey para as tatuagens musicais. Essa nova máquina sonora foi inspirada pelos experimentos quânticos do físico cult Nick Herbert, que resultaram na máquina de escrever metafásica, uma invenção difícil de explicar em uma frase só, mas que inclui: escrever à máquina, física quântica e fantasmas.

Conversei com o Dmitriy, conhecido pelo nome artístico ::vtol::, sobre seu soundsystem de radiação, as teorias insanas de Nick Herbert, e como explicar a física quântica para alguém como eu.

Noisey: Como a sua invenção mais recente, a Máquina Sonora Metafásica (na foto abaixo) funciona?
A radiação detectada pelo contador Geiger controla a velocidade do disco, com microfones e caixas de som que produzem ruídos de feedback, que são usados como geradores para a composição de músicas.

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Não é música no mesmo sentido em que a maioria das pessoas entende a palavra.
Bem, a máquina produz um feedback de assovios quando um dos microfones está próximo à caixa de som das vizinhanças. Esses assovios são usados como gatilhos para um motor sonoro mais complexo, que produz tons elaborados de composições ambientes algorítmicas.

Não exatamente uma fábrica de sucessos, então. De onde surgiu a ideia?
A ideia surgiu da minha pesquisa sobre a história da física quântica, na qual descobri o trabalho de Nick Herbert e a máquina de escrever metafásica. O projeto todo foi comissionado pelo festival Future Everything, que foi uma exposição colaborativa junto com o laboratório Moscou espaço arte e ciência. A exposição se chamava Entrelaçamento Quântico, e achei que essa seria a maneira perfeita de mostrar como a física quântica pode ser interessante.

Conte mais sobre Nick Herbert. Ele parece um sujeito bastante… peculiar?
Nick Herbert é um físico americano que estudava física quântica em meados dos anos 70. Ele também mesclava a física fundamental com ideias não-tradicionais, como drogas psicodélicas, atividade paranormal, a natureza da consciência, e conexões especulativas entre essas áreas e a física quântica. E ele construiu máquinas que tentavam usar ideias da física quântica para contatar espíritos.

Estou certo em acreditar que ele criou uma máquina de escrever para entrar em contato com fantasmas?
Com Richard Shoup, do departamento de pesquisa da Xerox, Herbert construiu uma máquina de escrever metafásica, um aparelho de funcionamento quântico cujo objetivo era entrar em contato com espíritos desencarnados. Apesar dos muitos testes, incluindo uma tentativa de contatar o espírito do ilusionista Harry Houdini, no aniversário de cem anos do seu nascimento, o grupo não relatou nenhum sucesso com o aparelho.

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Então, qual é a ciência por trás da sua máquina de som?
Bom, basicamente fiz a mesma máquina de Herbert, onde o contador Geiger é utilizado como fonte de dados aleatórios para se obter um fluxo de eventos aleatórios e então organizar algum processo com base nesse fluxo. Mas, em vez de letras e números, minha máquina toca música por meio de paisagens sonoras infinitas.

O que ela tem de exclusivo?
O que minha máquina tem de exclusivo é o fato de usar um verdadeiro gerador randômico (partículas caóticas de radiação), em contraste com os geradores randômicos computadorizados, que são sempre finitos enquanto fonte para composição musical infinita. Então, ao ser determinada pela radiação, essa música realmente tem uma quantidade infinita de direções pelas quais pode se embrenhar.

Qual é o caminho pelo qual passa uma pessoa que inventa esse tipo de coisa?
Bom, esse estilo é inspirado por muitas coisas, como filmes antigos de ficção científica, máquinas de testes laboratoriais, protótipos e robôs. Mas estou sempre tentando criar não só mais um hardware, e sim um projeto cheio de diferentes camadas de significado e ideias.

Mas o que motiva você a criar essas coisas?
Tenho uma paixão invencível por construir e encontrar inspirações e conceitos para novas máquinas e projetos. Estou lendo um monte de livros sobre futurologia, tecnologias, ciência, arte de novas mídias e arqueologia de mídias, é uma fonte excelente de ideias e conceitos.

Da última vez que conversamos, foi sobre seu projeto que transformava tatuagens em música. Como foi a reação a esse projeto?
Esse projeto, Reading my Body (no vídeo abaixo) teve uma recepção realmente excepcional! Muitos comentários positivos e muita gente assistindo no Vimeo, e saí na Wired também! E também fui convidado para alguns festivais internacionais.

Tradução: Marcio Stockler