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Música

O novo EP do Crusader de Deus traz mais faixas sobre taxas de juros e economês

O trio de post-punk carioca liderado pelo Gabriel Guerra (Séculos Apaixonados) continua fazendo do dinheiro algo bonito em 'Juros Perfeitos'.

O ex-Dorgas Gabriel Guerra — no caso, o Guerrinha do Séculos Apaixonados/40% Foda Maneiríssimo/Repetentes 2008 — tá curtindo falar sobre dinheiro. Dá pra sacar isso desde o primeiro EP do seu trio de post-rock Crusader de Deus, Relações Públicas, em que o carioca de 23 anos disse que tava tentando "transformar grana, algo aparentemente chato de se falar, em uma coisa bonita". E, quem foi em algum show dos Séculos a partir de outubro de 2015 se deparou com "Taxa de Juros", música nova deles que vai estar no segundo álbum da banda e também fala sobre economia, taxa selic e outras fitas meio Valor Econômico.

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Agora, sete meses depois do EP de estreia, o Crusader, que também conta com Thiago Rebello (baixo) e Clara Zettel (bateria), lança o seu segundo disco, Juros Perfeitos — o que significa que a temática econômica segue firme e forte nos trampos do Guerrinha. "Na época do Dorgas, a gente tinha muita música sobre a Hortência. Sei lá, eu sou bem flexível com temas", explicou. "Só tenho que me entusiasmar com algum".

Pro lançamento do disco, o Crusader vai fazer show com o Vitreaux e com Vitor Brauer (Lupe de Lupe) neste sábado (23) na Neu, em São Paulo. Confirme presença no evento aqui. Ouça Juros Perfeitos, que tá saindo sob o selo da Balaclava Records, e leia a entrevista com o Guerrinha abaixo:

NOISEY: Me fala sobre o EP, Guerrinha. Ele praticamente manteve o tema do Relações Públicas, né?
Gabriel Guerra: De certa forma sim, mas só para as duas últimas músicas.

Como assim?
Na primeira, foi um caso muito específico. É que "Concessões Intermediárias" é uma pequena alusão ao caso da CCR-Barcas, que rolou durante grande parte do ano passado no estado do Rio de Janeiro. A CCR — empresa de transporte aquiviário do Rio — tinha um pré-acordo desde 1998 quando foi dado o primeiro contrato de concessão, mas ela só assumiu administrativamente em 2012. Enfim, foi um acordo milionário. E, no passado, eles queriam refazer o cálculo da tarifa: então a tarifa das barcas aumentaria de R$5,00
pra R$,8,00. Eles assumiram que o valor devia ser R$8,00, por causa de um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ), e admitiram sair da concessão caso isso não acontecesse. O problema é que eles têm contrato com o governo estadual até 2023.

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Bem, o ponto da música não é necessariamente reclamar sobre o cálculo e sobre o aumento da tarifa. Eu jamais iria me botar numa situação de ficar revogando cálculos de especialistas. O que me instigou é como uma concessão foi abandonada de uma forma tão simples. A CCR simplesmente falou que"não estava mais a fim", o que me parece um absurdo porque a multa para esse tipo de coisa deveria ser grotesca. E nós vivemos no Rio, mesmo lugar onde ainda se espere a abertura das planilhas da Fetranspor pelo TCE (aquelas mesmas que causaram o alvoroço em 2013).

Enfim, haha. É só uma música sobre um caso específico.

E as outras, são sobre o quê?
A segunda, "Limites de Renda Nunca Foram Modernos", trata sobre reações emocionais de "intelectuais" acerca da queda ou aumento de preços. A terceira, "O Dicionário começa com D de Direito", é uma jovem brincadeira a ideia de que se é possivel existir juros perfeitos. Veja bem, eu não sou especialista — nem um pouco. Existem milhões de pessoas que falam melhor sobre esse assunto,
mas ainda sou bastante contundente com essas coisas, porque não acho justo tratar questões econômicas apenas como meros números. A real é que perdemos um vocabulário inteiro evitando falar sobre economia, então fico feliz quando vejo pessoas dispostas a aprender ou que tem conhecimento sobre isso.

Mas você acha que o Crusaders vai falar só de dinheiro ou é uma fase sua ou é porque você gosta de falar de dinheiro mesmo?
Até o Séculos tem música sobre dinheiro no disco novo [risos].

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"Taxa de juros […]"?
"[…]Taxa selic, Contas Internacionais". Você acertou 1/3 da letra.

Hahaha. É que já vi vocês a tocando duas vezes, eu acho.
A gente toca ela desde… outubro? Enfim. Eu acho bacana falar dessas coisas de dinheiro, mas com certeza uma hora esgota, né? Lembro que com os Dorgas existiam letras sobre a jogadora Hortência. Sou muito flexível com assuntos. Só preciso me entusiasmar com eles. Mas, veja bem, (economia e política) são temas chatissimos de primeira instância, mas nós nunca estaríamos passando, por exemplo, pela novela deste domingo (17) — no caso, a votação na Câmara dos Deputados pela abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff — se a taxa de juros brasileira não fosse tão esquisita.

Quando vocês fizeram o Juros Perfeitos?
Essas músicas, na verdade, foram feitas em janeiro de 2014 A ideia original pra esse segundo EP era gravar quatro músicas que a gente já toca ao vivo, mas a Zettel não podia. Aí, eu tive uma crise de ansiedade, peguei essas demos e reformulei elas todas em um ou dois dias e gravei no terceiro. Foi isso. Mas já tamo trabalhando no terceiro EP.

E por que vocês tão fazendo só EPs e não tão granvando álbuns inteiros?
Boa pergunta. Gravar álbuns demora muito tempo. Você perde o tesão e o foco nesse meio tempo. E, até hoje em dia pra mim hoje, a ideia de ouvir um EP é bem mais tesuda do que a de ouvir um álbum inteiro.

Com o Séculos, a gente se comprometeu a fazer álbuns curtos, de 8 faixas, mas até 8 isso já requer um tempo suficiente pra te deixar meio maluco. Quando você gasta muito tempo fazendo essas coisas você começa a entrar nuns conflitos meio "por que eu tô fazendo isso?" e isso vai tirando um pouco do tesão da coisa toda.

Mas, com o Crusader, pelo fato de ser sempre um EP e de que nenhuma música passa geralmente dos dois minutos, ainda dá tesão de ouvir o disco quando a quando a gente lança. Resumindo, o formato do Crusader pra mim é o perfeito: rápido e gostoso de se fazer.

E esses manequins na arte da capa?
Uma amiga minha, Madalena Pessanha, postou essa foto no Instagram dela. E eu achei demais um anúncio de 50% de desconto em manequins. Dá pra imaginar a galera indo atrás de comprar manequins que nem louco. "Na loja x, estão vendendo manequins a 50% de desconto!!!! Corram antes que acabe". Siga o Noisey nas redes: Facebook | Soundcloud | Twitter