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Música

O Rolê do DJ Craze é o Bom e Velho Hip-Hop

Virtuose do turntablism vai tocar na festa de 7 anos do Só Pedrada Musical.

O Só Pedrada Musical, um dos sites de sons balançantes mais daora do Brasil, comemora 7 anos neste sábado (7) na Clash Club. Para provar que o groove bate forte no peito e na caixa, o boss do blog e também DJ Tamenpi juntou um time massa pra fazer você requebrar: Zegon, Nuts, Marky e o incansável DJ Craze. O virtuose das picapes Craze já possui textos demais pela internet afora citando todos os seus títulos e proezas, então batemos um papo rápido com ele pra saber se existe vida depois do turntablism. Ele ainda fala sobre tédio, mixers e como é importante reconhecer o bom e velho hip hop.

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Quais equipamentos você costuma usar hoje em dia, e como isso mudou suas técnicas de turntablism?
Não mudou muito. Eu ainda uso duas 1200's, a única coisa que tem mudado durante os anos é o mixer. Tudo começou com uma Gemini Scratch Master, e depois veio a Vestax O5, e depois veio o que? Ah sim, a Stanton Craze Mixer. Lembro de ter começado a usar a Pioneer 800, pois foi a que se tornou padrão em muitos clubes. Eu não curtia mais ficar viajando com um mixer, o turntablism começou a perder sua popularidade e as pessoas não se interessavam mais em ficar vendo um monte de scratches. Então comecei a usar a 800. Recentemente, a Traktor lançou o Z2, que possui controlador no mixer, os botões de cue e os decks de sample também no mixer, e eu costumava usar um controlador só pra essas coisas. Agora esse é o meu mixer favorito. Hoje em dia eu uso duas 1200's, o Traktor Z2 e um microfone.

Você provavelmente aprendeu a tocar indo a clubes e vendo seus DJs favoritos tocarem, mas hoje adolescentes aprendem vendo vídeos no Youtube, SEUS vídeos de tutorial, e acho que posso falar isso por mim e outros amigos virtuais (ou não). Como você se sente ao saber que qualquer criança pode ver você tocando de qualquer parte do mundo? Está animado para o que pode sair daí?

Acho isso incrível, impressionante. Quando as pessoas chegam pra mim e dizem "Eu vejo e aprendo com seus vídeos, tá ligado?", eu fico muito feliz. É por isso que eu toco, saca? Para inspirar outras pessoas, e pelo amor à arte. E quando eu comecei, era exatamente isso o que eu amava. Eu assistia fitas VHS de caras como Q-Bert e Roc Raida e eu pensava "Pô, esses caras são incríveis, eu quero ser assim um dia". Eu entrei nesse lance de DJ quando tinha apenas 15 anos e eu não podia entrar nos clubes, mas meu irmão comprava muitos VHS de batalhas de DMC e meus amigos me mostravam outras mais novas, umas batalhas épicas. Tudo o que eu tinha eram essas VHS, já que não podia entrar nos clubes, mas quando eu comecei a ir, eu assistia gente como Coupe de Ville, o DJ Laz de Miami, e Magic Mike. Mas ainda assim grande parte do que aprendi foi em VHS, em slow motion. Então sim, quando algum fala pra mim "Eu aprendo tudo vendo seus viídeos do Youtube", eu me sinto muito emocionado.

Depois de 12 anos, o que fez vocês decidirem produzir outra Scratch Nerds Mixtape? Como foi o processo e qual o conceito por trás da antiga e da nova?
Bem, na verdade não existia o plano de fazê-la de novo. Eu e o Klever não nos falávamos havia dois anos. Decidimos ir a Atlanta, tentar reatar nossa amizade e tipo "O que quer que aconteça, foda-se, vamos só curtir". E quando começamos a falar sobre trabalho de novo, a gente pensou "Foda-se a música, vamos pro que a gente fazia quando ficamos amigos pra começar". E eu e o Klever ficamos amigos por causa do scratch, tá ligado? Eu tinha chegado em Atlanta e alguém me disse "Você tem que ouvir esse branquelo mandando ver no scratch" e eu pensei, vamos lá. Então nos encontramos e eu pensei "Esse cara é incrível, precisamos nos manter em contato". Então pensamos em fazer algo que a gente gostasse, algo que nos juntou pra começo de história, e Scratch Nerds era uma ideia perfeita. Dessa vez queriamos fazer algo diferente. Sabe, turntablism não é tão grande hoje em dia como costumava ser, então pensei em fazer algo em que éramos bons, e somos bons em scratch! Então decidimos fazer o Scratch Nerds. Fomos atrás do Q-Bert, D-Styles, Teeko, os caras que admiramos, e todos toparam fazer uma participação, então fizemos. Quando foi lançada todo mundo ficou animadão, e a gente pensou "Sério? Então ok". Fizemos por amor, e o amor que recebemos de volta foi sensacional, então valeu a pena.

Depois de todos esses anos, prêmios e títulos, quanto tempo você reserva para treinar? Você tem praticado menos, mais, ou algo que você tem que fazer todo dia? Como você divide o tempo entre turntablism e produção?
Eu não treino mais como antes. Quando eu estou um pouco estressado ou entediado, eu vou e treino uns scratchs por 30 minutos ou uma hora, mas não é a mesma coisa de quando eu era mais jovem. Eu acordava, fumava um cigarro e fazia scratch o dia inteiro. Só por diversão. Nem era algo como "Preciso fazer um show ou uma tape com vários scratchs pra ganhar dinheiro" ou algo do tipo. Era como andar de skate. Eu apenas acordava e tocava porque eu gostava. Hoje em dia não pratico tanto porque estou focado na minha carreira de produção, tocando a gravadora Slow Roast, lidando com coisas como família e tal, sabe? Então, eu ainda faço por diversão, apenas não tanto como antes, o que sobra tempo pra focar na parte de produção. Isso é parte da minha carreira também, e hoje em dia o que te faz ser grande é a pegada da produção. Então acabo não praticando muito o turntablism. Mas quando o Klever chegou e trabalhamos no Scratch Nerds, caralho, como aquilo foi bom, porque me fez sentir de novo o sentimento de "Puta merda, tenho que acordar e fazer o máximo de scratch possível porque eu preciso ser melhor que todo mundo", e esse senso de competição apareceu de novo. Eu gostaria de praticar mais, mas é impossível.

Você muda bastante entre gêneros, ao contrário de outros DJs mais seguros que focam em apenas um pelo resto da carreira. Você tem mexido bastante com trap, e no seu Diplo & Friends dá pra ouvir um monte de future bass. Esse é um território novo que você tem explorado ultimamente? Como você definiria esse som?
O motivo pelo qual mudo de gêneros é porque eu fico entediado. Não tem nada a ver se eu acho popular ou não. Eu comecei com hip-hop, e quando cansei de hip-hop e fui praticar turntablism. Cansei de turntablism e depois passei pelo drum'n'bass, depois voltei para o Miami bass. Após o Miami, fui mais pro lado da club music, como Baltimore e um pouco de house também. Cansei de tudo. Toquei dubstep, não esse que ficou popular agora, o original. Depois é que fui tocar moombahton e em seguida trap. Pra mim é sempre uma questão de que a música tem que ser excitante para eu querer tocar. Se eu me canso de tal gênero ou não gosto mais, então não toco mais. Não existe um plano por trás disso tudo, eu só acordo e penso "O que tá rolando de novo?". E para o Diplo & Friends, eu não diria que eu toquei future bass, diria mais que estava tocando o passado, o presente e o futuro do hip-hop, ao menos o que acho que seria isso. Na mesma tape eu mixava Carmack com Dead Prez, e depois mandava um Drake com Wu-Tang, e então Tropikillaz com Fat Joe. Eu só quero mostrar às pessoas que tudo isso é hip hop e música boa ao mesmo tempo. Não importa a qual era pertence, no final é sobre o bom e velho hip hop. Quero mostrar que o antigo mixa bem com o novo, entende? No final o que importa é a qualidade da música, não sua popularidade. Eu não toquei "Started From The Bottom", mas sim um instrumental de "Pound Cake" com uma acapella de "C.R.E.A.M." por cima, porque faz total sentido. E para essa mix, eles me pediram para fazer um “mix de hip hop”. Acho que as pessoas esperavam um "hip hop dos anos 90, golden era", e eu não queria isso, porque no final é tudo sobre bom hip-hop, não importa de qual era ou se você cresceu com ele, é tudo sobre bom hip-hop. E no final eu toquei uns sons pesados do sul. É o que a molecada gosta hoje em dia, e é o que eu tenho gostado de tocar nos clubes porque deixa todo mundo fritando demais.