FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Por Trás das Lentes: Com o Fotógrafo Canadense Carl W. Heindl

E ele nos contou algumas histórias por trás de suas fotos favoritas da cena underground de Toronto.

Carl W. Heindl capta a atmosfera de Toronto, mesmo que você nunca tenha estado lá. O fotógrafo canadense (que atualmente segue carreira no corpo dos bombeiros) passou a maior parte da última década armado com uma câmera, fotografando bandas, artistas, paisagens interessantes e fragmentos surreais da cidade que são ao mesmo tempo perturbadores e meio que de outro mundo.

Como já foi dito que ele já fotografou de tudo, de carros explodindo a camas elásticas, Heindl também já registrou muita coisa de moda, paisagens e autorretratos, mas nada se compara à sua fotografia musical. Tudo tem uma sensação caótica, quase cômica nesses momentos, das polaroids de bastidores aos shows suados.

Publicidade

Sejam músicos tocando na esquina da Queen Street ou improvisos de reggae e dub em clubes pequenos, Heindl manteve um diário indie. Em vez de correr atrás de celebridades ou grandes nomes, ele parece capturar a magia do que quer que cruze seu caminho. Isso inclui uma amizade com Fritz Helder do Azari & III, fotos produzidas com bandas de Toronto como Odonis Odonis e The Coast, assim como fotos de shows ao vivo do Benga, USS e Maps & Atlases. Heindl diz usar uma Graflex Century Graphic dos anos 1950, entre outras, e um improvisado feito com um futon reciclado. Grande fã de fotografia analógica, ele aprecia a surpresa da foto não tão instantânea. De calças empoçadas a bandas em cima de um balcão de bar, aqui fazemos um passeio pela rua da memória com a fotografia musical de Heindl.

Fritz Helder do Azari & III. Todas as fotos por Carl W. Heindl.

Noisey: Fritz Helder do Azari & III, este é um retrato muito suave dele. Por que esta série e como ela surgiu?
Carl Heindl: Fritz e eu nos conhecemos há alguns anos. Ele é uma ótima pessoa e amigo, sempre produzo grandes trabalhos quando estamos juntos. Eu o conheci em uma festa da VICE, acho que em 2008. Simplesmente começamos a fotografar, ele gostou do que eu estava fazendo, apesar de que eu estava meio que só começando. Geralmente me levavam a muitos eventos para fotografar a banda dele, a Fritz Helder & The Phantoms, lugares e festas para as quais eu normalmente sequer seria convidado. Pessoas ótimas e aquela época com certeza me ajudou a expandir meu trabalho, tanto artística quanto socialmente. Esta série foi uma das últimas que montei. Usei uma rangefinder médio formato e construí minha própria estrutura de lâmpadas circulares com um futon velho. Eu usava estranhos e usava amigos. Chamava a pessoa, a gente bebia um bocado e falava merda enquanto eu fotografava um rolo de filme. É engraçado, a foto que eu escolhia para usar do rolo quase sempre ou era a primeira ou a última que tinha tirado na noite. Eu deixava a sala esfumaçada e criava um efeito chapado muito legal. Gosto muito desta série e gostaria de tê-la exposto toda em algum lugar.

Publicidade

Festa de reggae Dub Connection.

Onde e quando foi isso?
Isso foi em uma festa Dub Connection em uma masmorra no Rainbow Palace alguns anos atrás. Meu amigo Joda me apresentou à cena do reggae e dub de Toronto. Passei anos só ouvindo isso. Eram festas muito loucas. Você chegava bem tarde e ela estava só começando. Eles vendiam cerveja, ponche alcoólico e cozido caseiro. Todo mundo curtindo boa música, comendo cozido e fumando um beck. Tinha MCs e “toasters” (improvisadores) convidados da Jamaica às vezes. A gente ia em todas, mas infelizmente teve um tiroteio no beco e eles deram uma maneirada por um tempo. Ainda rola, grandes shows. É o mais perto que vou chegar das festas de reggae jamaicanas de verdade até ter a chance de ir a uma.

Por que tem uma banda tocando em cima de um balcão de bar aqui?
Acho que entramos nesse lugar e só tomamos uma bebida. Parece louco com uma banda em cima do balcão, eu sei. Provavelmente foi por isso que me espremi para tirar uma foto. Mas por qualquer motivo, lembro de ter ido embora porque a gente queria um lugar escuro e tranquilo para tomar uma cerveja.

Uau! O que está acontecendo aqui? Por que a calça dele está molhada?
Haha, esse cara era épico. Minha irmã e eu tínhamos uma banda há alguns anos, a Mean Blood. Nunca fomos muito bons, mas conseguimos tocar nuns shows secretos que acabaram sendo muito loucos. Nessa noite em particular, tocamos com essa banda. Estava chovendo pra cacete e eu lembro que tinha uma bateria em cima de uns pallets, as pernas da bateria ficavam caindo entre as madeiras. Tocamos muito mal e eu ficava caindo enquanto tentava tocar bateria. Esse cara estava muito chapado. Ele está molhado porque isso foi quando ele caiu em uma poça tocando um solo, só passou, mas estava muito envolvido. Eu queria lembrar o nome desse cara ligeiro. Era um amigo do meu amigo Kai, que agora está indo muito bem, cantando com a banda Spectre.

Publicidade

Artistas de rua em Toronto, foto por Carl W. Heindl

Quem é o músico mais famoso que você já fotografou? É diferente de momentos como este?
Essa era uma banda de rua meio bluegrass incrível que tocou em Toronto há alguns anos. Muito bom o som. Para fotografar bandas e tal anos atrás, eu meio que fotografava qualquer pessoa que pedisse e parecesse interessada em me deixar experimentar algumas ideias com ela. Só fui pago um punhado de vezes. Quando comecei com isso, era amigo do David Waldman e ele compartilhou um pouco de sua sabedoria fotográfica comigo. Ele é um mestre do show ao vivo. Muitas vezes eu levava a câmera comigo para os shows que curtia e aproveitava a chance para praticar. Você aprende a trabalhar rápido e desenvolve o olho mais com um assunto dinâmico comparado a trabalhos posados ou produzidos, é um exercício muito bom. Em termos de fotografar gente famosa, não sei. Nunca fiquei prestando atenção para ver quem acabava ficando famoso, ou mesmo quem ainda tem banda. Só fico feliz de ter feito trabalhos ótimos com essas pessoas. Depois de cansar de ser pago em vale-cerveja, comecei a fazer fotos mais sérias, mais pessoais. Entrei de cabeça em trabalhar só com filme 35 mm e 120 mm e fiz retratos e paisagens para mim mesmo, geralmente muitos momentos visuais cotidianos interessantes ou francos. Faz muito tempo que não fotografo bandas ou shows, mas da época do trabalho com música, tenho orgulho dessas fotos.

Publicidade

Bastidores do USS.

Por que você está usando uma máscara de cachorro no camarim do USS?
Um blog de notícias musicais me mandou cobrir um show grande na Kool Haus com eles e o Dragonette e o Down With Webster. Estava cheio de adolescentes e foi muito ruim. Eu estava começando com a fotografia musical e aceitei o trabalho sem remuneração, mas a gente se divertiu e ficou zoando nos bastidores. Eu surrupiei um dos acessórios deles e comecei a fotografar enquanto eles faziam pintura de guerra para o show.

ty segall Carl W. Heindl

Ty Segall em Toronto.

A foto do Ty Segall é bem genuína. É perigoso chegar perto assim durante os shows?
O Pat McGuire (da VICE Canadá) fazia umas festas muito loucas no telhado do prédio para os lançamentos da revista dele. Posso estar enganado se era para isso que o evento era, mas sei que o Ty tocava no telhado do prédio dele há alguns anos. Adoro festas pequenas com shows ao vivo, são os melhores tipos de show. Só tinha um punhado de pessoas

Carl W. Heindl
Carl W. Heindl

XI.

Como você fez essa foto com o XI — é algum truque de mágica? Você me pegou.
O Christian (XI) é um velho amigo que agora está muito bem como produtor, até onde sei. Lembro que conversamos sobre um ensaio promocional e a única informação que ele me deu para trabalhar foi que ele “gostava muito do espaço sideral”. Então fizemos umas fotos divertidas flutuando. A da cabine telefônica foi um truque, mas na do campo, eu literalmente só fiz ele se lançar no ar e estava com o meu strobe armado para ajudar a pegar. Parece mesmo que ele está voando porque ele meio que estava. Devia ter tirado uma foto da aterrissagem, ha.

Publicidade
Carl W. Heindl

Alexandra Mackenzie e Tomas del Balso.

Eu lembro deles. Foi numa festa de ano novo?
Foi numa festa de ano novo. Acredito que seja Alexandra Mackenzie (hoje Petra Glynt) e Tomas Del Balso batendo numa bateria. Não tenho certeza se foi um projeto oficial que eles fizeram ou não. Coincidentemente, eu tinha fotografado os dois antes naquele mesmo ano para uma reportagem da revista Sketch da OCAD.

Jeremy Glenn Carl W. Heindl
DJs Violca and Barletta

Jeremy Glenn (esq.), DJs Violca e Barletta (dir.).

Azari & III
The coast

Fritz Helder do Azari & III. The Coast.

A Nadja é uma escritora incrível que mora em Berlim e está no Twitter - @NadjaSayej.