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Música

O Vocalista do Dwarves É um Feminista de Pau Grande

"Se nudez, blasfêmia, obsessão por sexo ou verbalizar pensamentos e ideias proibidos é ruim, então eu sou uma pessoa ruim. Mas eu ainda sou feminista com um pau bem grande!"

Os Dwarves. Autoproclamados lendas do rock. Se você for a um show do Dwarves, com certeza vai ser lembrado disso, não apenas pelo vocalista Blag Dahlia, enquanto ele faz o seu papel em garantir que a sala mantenha a quantidade de energia para que ele se satisfaça, mas também pela própria energia. Desde o primeiro acorde da primeira corda, não há pausa. Não falo de movimentos genéricos de palco ou “presença”, mas da intensidade do grupo como coletivo e a conexão com o público.

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Antes de eu me tornar amigo do Dahlia, eu tinha curiosidade sobre o tipo de cara que ele era. Dos iniciais álbuns pesados, eu supunha que ele apenas queria tocar fogo na sala e roubar minha namorada. Os anos da Epitaph me fizeram sentir como se ele quisesse relaxar em um clube de strip-tease e usar cocaína no quarto dos fundos. Logo após foi quando eu o conheci em um show fechado em São Francisco. Ele não estava lá fazendo nada dessas coisas, estava apenas comendo doces e me contando que deveríamos gravar com ele. Ele não era nada do que achei que seria. E ainda era incrivelmente gentil com as garotas, ele nunca foi desagradável com elas enquanto estive por perto. Na verdade, da forma mais admirável, foi confiante e amável. Eu o tinha julgado totalmente errado. Assim que você acha que entendeu esse cara, ele parece ser capaz de te enganar novamente.

Ele fala sobre estar sempre fora do meio da estrada, porque conforto não é uma parte do Reino do Dwarves. Sempre que eu precisei de conselho durante esses anos, ele atendeu ao telefone. Alguns acham que ele não é do tipo que deveria dar conselhos, mas eu discordo. Eu quero aprender com o cara que sabe como levar algumas pessoas para o mau caminho, e outras para o bom. Um cara que não acredita em zonas de conforto musicais. Um cara totalmente capaz de causar uma grande confusão, bem como silenciar uma sala por completo. Eu quero aprender com alguém com uma carreira. Alguém que não corre ao primeiro sinal de perigo. E se não há nenhum problema, então quero aprender com o cara que sabe quando e como criar um. Garotos nas bandas de punk, você podem definitivamente aprender algumas coisinhas com o cara Blag Dahlia e sua banda Dwarves.

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Leia a nossa entrevista enquanto ouve “Get Up and Get High”, uma música do novo álbum Dwarves Invented Rock and Roll, que será lançado em 19 de setembro pela Recess Records. Embora, a música seja curta e a entrevista longa, então leia rápido.

Noisey: Certo. Vamos falar do Reino dos Dwarves. Vocês se formaram no meio dos anos 80. Desde então, você lançou dúzias de álbuns completos/coletâneas em vários selos. Nada parece capaz de pará-lo. Imagino que parte disso tenha a ver com sua formação rotativa. Você diria que a sua política de membros “aberta a dwarves” desempenhou um grande papel na longevidade da banda?
Blag Dahlia: Nos formamos em um subúrbio de Chicago, chamado Highland Park. Quando você vem do meio oeste e começa uma banda de rock, você é sempre castigado por aqueles que te rodeiam. Decidimos cedo que nunca desistiríamos e nos arrependemos disso muitas vezes desde então. A formação permaneceu a mesma até a mudança para a Califórnia, mas, no final, novas pessoas começaram a chegar quando a realidade de uma vida no rock começou a estragar o sonho original.

Agora, somos como o Wu-Tang Clan das bandas de rock. Temos pessoas novas, mas as velhas sempre reaparecem com uma música nova ou algo do tipo. Saltpeter acabou de escrever um novo single e ele não está na banda há 20 anos. Está tudo em família, o estilo de Illinois transplantado na Califórnia.

Isso é impressionante. Não sei como as coisas eram no punk quando vocês começaram, especialmente em Chicago. Conheço um monte desses caras velhos do punk de Chicago. Eles são muito “excêntricos”. Imagino lá atrás, eles eram jovens excêntricos. Um amigo meu, de uma banda que permanecerá anônima, certa vez sentiu tanta repulsa de suas brincadeiras no palco que desligou o som de vocês (agora é um fã). A sua mudança para a Califórnia teve algo a ver com não encontrar um lugar em Chicago para a selvageria Dwarve?
A Chicago da qual viemos no início dos anos 80 tinha um complexo de inferioridade real sobre as bandas locais. Naquela época Chicago queria ser Nova York e falhou miseravelmente. Cidades do país muito menores que Chicago tinham shows cheios de bandas de punk locais a cinco dólares, mas em Chicago havia casas noturnas cobrando 15 por uma banda principal e três de abertura de fora da cidade, eles não contratavam os locais na maioria das vezes. Nós sabíamos que tínhamos que dar o fora, então nos mudamos para São Francisco, por nenhum motivo especial a não ser pensar que era quente. Acabou sendo a cidade mais fria da Califórnia.

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As outras bandas também nos odiavam porque nem éramos mesmo de Chicago, mas do subúrbio. Nós íamos vestidos com gravatas xadrezes e com namoradas gostosas na caminhonete de nossos pais. Era fácil para as outras bandas nos odiarem. Anos mais tarde, Chicago começou a ter um cenário e as bandas com quem tínhamos amizade como o Urge Overkill , começararam a ganhar atenção, mas a gente já tinha partido nessa época. Ainda assim, o Dwarves sempre será uma banda de Chicago para mim, mesmo estando na Califórnia desde 1986.

Você acha que sua capacidade de evoluir constantemente tem mantido o vento soprando? Poucas bandas podem fazer dar certo o salto de gêneros, especialmente no mesmo álbum.
Começamos como uma banda de garagem dos anos 60, depois nos tornamos mais punk barulhento e naquela época ninguém tinha ouvido falar de nós como se fôssemos um tipo de Misfits do punk. E esses foram apenas os primeiros cinco anos, a coisa mais engraçada sobre essa banda é que as pessoas acham que sabem como soamos, mas a menos que você tenha todos os álbuns, você com certeza não sabe a história toda. É isso que me mantém interessado. De outra forma, estaríamos tão ferrados quanto qualquer outra banda de punk na Califórnia.

Aí está! Pelo que eu sei, você está na ativa desde o meio dos anos 80, com um intervalo de quatro anos de 1993 a 1997. O quanto esse intervalo teve a ver com fingir a morte do guitarrista He Who e a reação do Sub Pop, e eu posso perguntar qual foi a motivação por trás desse movimento?
HeWho morreu e ressuscitou. Ele é um ícone do punk rock, livre do tempo e do espaço. A Sub Pop foi um selo que, apesar dos seus grandes esforços para fazer tudo errado, conseguiu algum dinheiro explorando um vício em heroína. Então eles definiram a irrelevância do rock independente de universidade branca por 20 anos agonizantes. Durante aquele período, no meio dos anos 90, escrevemos e gravamos um EP solo do Blag e um álbum do Earl Lee Grace Blackgrass, mas culminou em Dwarves Are Young & Good Looking, nosso álbum de melhor venda e aquele que convenceu os punks que nós éramos a melhor banda de todas. O ponto de partida – as gravadoras não podem nos parar, ele não podem nem nos compreender. E HeWho vive!

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Você deu uma giro completa e voltou para a Recess Records para lançar suas coisas. Você exigiu controle sobre tudo o que fizer, o que pra mim é ótimo. Me deixe perguntar: Por que a Recess, quando hoje e nessa idade você tem a capacidade de lançar e distribuir diretamente através da sua marca? Menos correria e aborrecimentos?
A Recess é conhecida como um lugar para fazer álbuns de punk legais e é isso o que fazemos, eu gosto de estar associado com doidos que pensam como eu. É por isso que voltamos para a Sympathy (que foi ótimo), Epitaph, Sub Pop e outras que eram mais uma combinação de tudo. Recess é o Todd e o Todd sempre será um roqueiro do punk. O que mais poderíamos pedir?

Tenho tentando fazer as pessoas gostarem das coisas que o Todd faz, então não posso estar mais de acordo. Você retornou com Young and Good Looking, estou curioso sobre o título. Nas minhas viagens, conheci o cara de “You gotta keep’em separated”. Ele disse que trabalhava para a Nitro Records em 1990. Ele me contou uma história sobre como estava tentando fazer a Nitro assinar com os Dwarves, mas o Dexter disse que vocês eram muito velhos. Ele queria bandas mais novas, bandas de gente bonita. Você pode confirmar ou negar que isso foi a inspiração por trás de The Dwarves Are Young and Good Looking?
O Dexter é um grande amigo e até aparece nos últimos álbuns do Dwarves como cantor. Quanto eu trouxe a ele o Young and Good Looking, ele realmente disse que tinha assinado com algumas bandas mais velhas que ele gostava muito e queria arranjar algumas bandas mais novas dessa vez. Eu disse: “Mas os Dwarves são jovens e bonitos”. E acabou se tornando um grande título, um grande álbum e uma grande quantidade dinheiro da Epitaph, antes que ela implodisse sobre as drogas. Você está começando a ver um padrão aqui?

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[Risos] Sem comentários. Por anos, você tem sido um trabalhador do rock and roll. O que eu quero dizer com isso é que parece que você está metido em algumas coisas diferentes ao mesmo tempo. Você produz, escreve livros, escreve músicas para outras pessoas… Todo mundo na indústria sentiu o baque do declínio nas vendas de álbuns. O que aconteceu com a indústria da música foi algo para o qual você estava um passo a frente?
Acho que foi o Pharrel que disse: “Eu sou um trabalhador, querida, eu só quero que você saiba, não é onde eu estive, é onde eu estou prestes a ir”. Eu sempre tive interesses diferentes, escrever, música e televisão. Então fiz tudo, de maneira ruim, consegui algum dinheiro e apenas tentei viver uma vida interessante no processo. Se você quer ser pago, a melhor forma de conseguir é ficar no meio da estrada e fazer a mesma coisa repetidamente, para sempre. Funcionou para o Pearl Jam e Bruce Springsteen e pode funcionar pra você também. A menos que você seja eu!

Li tantas entrevistas com você em que parece que o repórter está sendo indulgente a uma determinada personalidade, que seria aquela que nós vemos no palco. Aquele Blag que vemos no palco é o mesmo em casa? Qual é a proximidade entre os personagens que vemos no show e as pessoas reais?
Eu gostaria de pensar que aquele cara, o Blag, é alguém que não sou eu. Mas em qualquer sentido real, ele é. Para o Rex Everything, o real e falso dele eram quase intercambiáveis. Para HeWho, não existe quase ponto de contato entre os dois. (Então, em algum momento, ele se fundiu consigo mesmo e se tornou uma supernova). O Vadge Moore real, ele era ainda pior que o falso Vadge Moore, se você é capaz de acreditar que seja possível. O Dwarves são um grupo muito estranho de pessoas, é isso que estou tentando dizer.

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Na música, “ser real” é uma construção, assim como ser falso é. Os rapazes do hip hop apenas podem ser reais se tiverem sido traficantes de drogas e matado pessoas, e ainda assim eles desperdiçam a oportunidade para viver com suas mães e terem obsessão por joias feias. Espera-se que os punks sejam exatamente como seus fãs, este é o apelo às vezes, mas é uma simulação. Todos os astros do punk que eu conheço são ricos e não se parecem com seus fãs de jeito nenhum. Os que parecem são ainda piores.

Nunca iria querer pertencer a um clube que me tivesse como membro. Sinceridade e rock são mutuamente exclusivos.

HeWho no Punk Rock Bowling, foto de Chase Stevens

Considero você um provocador. Você desenhou uma linha na areia tão longe quanto as pessoas que serão capazes de engolir o que você faz liricamente. Rock and Roll em algum momento foi assustador e perigoso para as massas. Ainda é possível alcançar isso?
Acho que os humanos gastam a maioria do seu tempo pensando em sexo, violência, abuso de drogas e mau comportamento. Mas ao invés de escrever sobre isso como eu faço, a maioria dos “artistas”, especialmente músicos, censuram a si mesmos e criam uma merda derivativa e insossa que eles acham que as pessoas vão gostar e que pode se tornar comercialmente bem sucedida. Quem em sã consciência escreve uma música com “foda-se” no título que não pode ser tocada no rádio? Por que você colocaria uma mulher nua na capa de um álbum que assim não poderia ser exibido? Quem escreve músicas de amor para a Anne Frank? Esse é o meu trabalho, isso é o que eu faço.

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Eu tenho muitos amigos de Chicago que costumavam vê-lo no final dos anos 80. Alguns deles disseram que eles tinham medo de você. Ainda existe uma razão para temer o Blag ou qualquer outro Dwarves em 2014? Como os shows mudaram durante os anos? Parece que a energia está mais concentrada em um conjunto matador do que, na verdade, em matar pessoas.
Eu já fui muito assustador, mas acredito que é porque eu costumava estar mais assustado. Agora, estou aproveitando a mim mesmo e só quero mover a multidão do jeito que conseguir. Se sexo e violência é a única forma, nós podemos fazer isso, se músicas que balançam o esqueleto é chave, nós cobrimos isso também.

Sei que nos anos de 1990 você cruzou o caminho do Nirvana. Parece quase impossível não ter cruzado o caminho da Courtney Love. Deixando de lado toda a minha curiosidade sobre como ela deveria ser terrível, estou curioso para saber sobre o que você acha dela ter encontrado o avião MH370 da Malaysia Airlines? Caso você não saiba, ela basicamente usou imagens do Google para encontrar o que ela acreditou ser o avião submerso e disse (muito presunçosamente): “caso encerrado”.
Eu me lembro de um dia por volta de 1987, quando a Courtney, a Kat Jelland (Babes in Toyland] e a Jen Finch (L7) apareceram no porão da casa que eu morava. Elas estavam na cidade tirando a roupa e ao menos uma delas estava procurando por drogas. Era uma cena bem mais aberta naquela época, o medo da heterossexualidade das garotas revoltadas não tinha entrado no rock. Eu respeitava essas garotas porque elas faziam o que queriam fazer e não se importavam com o que a sociedade pensava.

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Quanto fui assistir ao Hole no CW Saloon em São Francisco, fui chutado do camarim, mas eu acho que foi minha culpa. Não foi por ser tão agressivo a ponto de quebrar coisas e precisar ser contido. Courtney é uma daquelas celebridades do rock das quais eu gosto de tudo, exceto ouvir sua música.

Então, ela o matou?
De uma forma metafórica sim. Ele estava tão pirado de que ela estava perdendo tempo com ele que isso ferrou com a sua cabeça. Rock, às vezes, não é lugar para os sensíveis.

Atualmente, há um grande movimento feminista surgindo online. Uma que se auto-define feminista com quem tenho amizade é a Stacey Dee, que faz backing vocal no seu novíssimo álbum Invented Rock and Roll. A minha pergunta para você é: É possível para uma feminista também ser fã dos Dwarves?
Stacey Dee é uma grande cantora e uma grande amiga minha. Ela sempre foi uma fã dos Dwarves e, também, uma feminista.

O que eu sei é que eu me considero feminista. Acredito em salários iguais para trabalhos iguais, direitos iguais sob a lei, participação igualitária das mulheres nos esportes, ciência, negócios … Dou crédito para qualquer preocupação feminista razoável. Mas, muitos dos chamados de esquerda ou feministas são tão politicamente corretos que são piores do que os conservadores nesse ponto.

Se nudez, blasfêmia, obsessão por sexo ou verbalizar pensamentos e ideias proibidos é ruim, então eu sou uma pessoa ruim. Mas eu ainda sou feminista com um pau bem grande!

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Esse é um ótimo jeito de dizer. Enquanto eu, pessoalmente, tenho pouco interesse no seu pênis, eu adoraria ouvir você sentar e conversar com uma dessas mulheres, apesar de achar que elas não fariam isso.
As pessoas precisam de mais leveza e de senso de humor. Música independente não é lugar para reforçar seus dogmas cansados – liberal, conservador, libertário.

Passei um bom tempo com o Invented Rock and Roll. Eu já tenho as minhas favoritas. O que esse álbum traz de novo para os fãs dos Dwarves de longa data?
Esse é bem vivo e direto, foi feito basicamente em um final de semana. Daí, mandei ele à merda por um ano, porque eu sou assim, mas nem eu poderia arruinar esse aqui. Ele também tem um monte de músicas ótimas dos outros caras da banda. Além das minhas coisas e o arranjo usual do HeWho e Rex.Músicas sobre tudo, ele tem harmonias do Fresh Prince of Darkness, Josh Freese, Chip Fracture, Gregory Pecker. Até o primeiro single, “Trailer Trash” vem de um Dwarf original, Saltpeter.

As cabeças parecem já estar pirando nesse aqui, então planejamos levar nosso show para todo o país e ter algumas calcinhas caindo no teatro perto de você!

Ryan Young é vocalista da banda Off With Their Heads e também faz um podcast matador chamado Anxious and Angry, em que desperdiça o tempo dos nossos heróis do punk rock. Siga-o no Twitter - @owth

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Tradução: Samantha Abreu