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Música

Entrevistando o Exhale the Sound: Cätärro

Os mossoroenses estão na estrada desde 2003. Com cinco discos lançados, eles vêm “destruindo o que precisa ser destruído”, contagiando meio mundo com sua moléstia barulhenta.

Catarro é um negócio bem feio. Ele agride, ele ofende. Pior que ranho, o catarro viola seu bem estar, interrompe qualquer sensação de alegria ou segurança. Espere até ficar gripado de novo. Você vai espirrar descontroladamente, e se surpreender com aquela meleca verde que escorre pela camiseta. Isso acaba com o dia de qualquer um. Catarro é um problema.

Cätärro é uma banda que, no mínimo, incomoda. Com esse nome, não é a toa, né? Mas não fica só no nome não. O powerviolence que os caras fazem é um insulto sonoro e carregado, como um espirro de boca aberta na cara de alguém. Muito pior que uma pedrada. Seu vírus, altamente contagioso, é a anti-música. E já que “o terceiro mundo vai explodir”, melhor que seja com uma trilha sonora à altura.

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Os mossoroenses estão na estrada desde 2003. Com cinco discos lançados – sendo dois produzidos pelos famosos estúdios da Läjä Records, que gosta pouco de uma desgraceira – eles vêm “destruindo o que precisa ser destruído”, contagiando meio mundo com sua moléstia barulhenta.

Agora é a vez de Minas Gerais receber a epidemia. Você já deve saber que a banda vai tocar no Exhale the Sound, junto com fortes nomes da cena extrema como Carahter, Herod, ROT e Abske Fides. Só pra reforçar, o festival acontece nos dias 10 e 11 de outubro, no Espaço Centoequatro, em Belo Horizonte.

Me senti honrado quando fui encarregado de entrevistá-los para nossa série de aquecimento para o Exhale. Mandei uns e-mails e fiquei ansioso pelas respostas. No meio do caminho, a banda anunciou no Facebook a Marcha da Má-Vontade: “Estamos,pois, ligados à má-vontade, à preguiça, à falta de qualquer ânimo de produzir o que for externo, uma má-vontade ao cotidiano e todo tipo de vida falsa.” Me dei por vencido e segui em frente.

Mas como uma doença terminal, que sempre dá uns dias de folga antes de derrubar de vez, eles foram ligeiros e me pegaram na curva. Fui contaminado quando já não esperava mais qualquer contato. A má vontade foi só o primeiro sintoma da doença que eles espalharam através da apatia. “Rolé de banda é isso, com o plus de romper a distância com quem pensa semelhante, gente que também desenha pentagrama e cruz pra baixo no meio da aula ou de alguma reunião importante no trabalho.” Pode rodar:

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Noisey: Por que Cätärro? Por que o trema?
Luiz Teotônio: Foi uma decisão meramente estética. A gente e identificou com a utilização ao ver o nome de bandas finlandesas, mas principalmente, pela banda vila velhense, Jäzzus.

Os tremas deixam o nome mais bonito. No início quando perguntavam qual o significado do nome, dizíamos que em finlandês Cätärro significava garotos bonitos, e as vezes inventávamos qualquer outro significado na hora. E funcionava.

Como foi a turnê europeia?
Foi maluca! Para não dizer insana e intergaláctica. A gente tem mais de 10 anos de estrada tocando música ultra-rápida anglo saxônica no interior do nordeste. A aceitação do que fazemos onde fazemos não poderia ser nada melhor do que péssimo. Mas antes de mais nada, a gente curte tocar junto e incomodar, caso contrário a banda não se chamaria Cätärro.

Ao chegar na Europa fomos recebidos por um rebanho de desajustados de todas as partes do planeta. Logo no primeiro show tocamos entre japoneses, ingleses e suecos, fomos brindados por uma gangue de mexicanos e um sudanês maluco que tocava nas ruas de Berlim. Tocamos com bandas doentes de todos os continentes e tocamos em um festival gigantesco chamado Obsceno e Extremo. No norte da Itália alguns malucos sabiam inclusive cantar nossas músicas, o que é um grande desafio até para brasileiros fluentes. Nossa turnê rendeu estórias que daria para encher páginas de livros. Tudo aconteceu graças à amizade, autogestão, solidariedade e internacionalismo. Nos próximos meses vai sair um disco nosso com uma banda de Milão, lançado por bandas italianas e já podemos enxergar no horizonte alguns passeios internacionais. Bicho, foram momentos de pura maluquice.

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Vocês vêm "destruindo o que precisa ser destruído desde 2003". O que precisa ser destruído? Tá funcionando?
Neste momento os presidenciáveis seguem suas campanhas milionárias para dominar nossas almas, a marcha de Deus pela pátria foi articulada em todo o território nacional e vozes de comando com cunho opressor contaminam a boca de nossas crianças se espalhando rápido como o ebola. Em contrapartida os ratos fazem a festa no esgoto, coletivos autônomos e organizações populares seguram a queda de braço do lado oposto da corrente. A gente sempre prefere estar do lado oposto ao que domina. Destruindo sempre o que oprime. Neste panorama seguimos assim, nossa Marcha da má-vontade. Eu te diria que funcionar ou não, a gente não se importa.

Eu adoro ouvir o Pena de Morte no percurso trampo-faculdade com volume máximo. Isso aumenta meu senso de direção e isola todos os sons externos, me deixando muito mais atento aos meus pensamentos. Vocês pensam nisso na hora de compor?
Na verdade, não. Temos uma ideia do que queremos fazer com a música e tentamos aproximar ao máximo disso. Já quanto a percepção dela, vai depender do ouvinte, muito mais do estado cerebral da pessoa no momento. Nossas músicas são demônios que não se exorcizam. Perturbações que sempre queremos vomitar, senão a gente explode.

De onde vem as citações? A minha preferida é "tá pensando que minha bunda é a buceta da tua mãe?".
As citações vêm do nosso cotidiano, de coisas que assistimos ou escutamos. Coisas que nos influenciam na hora de fazer uma letra, ou a dar um sentido maior à música. Normalmente as tiramos de filmes, desenhos, ou até de trechos de shows.

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A vinheta em questão, assim como algumas outras que estão no Dance Império, Dance (2007) são do filme do Claudio Assis, Amarelo Manga (2002). A música já estava na demo e iríamos regravá-la. Tínhamos escolhido o filme pra extrairmos alguns diálogos. A música “O Poder do Pênis” versa sobre o efeito de torpor que uma piroca causa na mente de quem a possui. O ser acha-se possuidor de todas as coisas e criaturas, mal sabe ele que nada pode ser dominado. Este trecho que você mencionou como o seu preferido foi escolhido por reforçar exatamente este sintoma, onde a cabeça humana funciona sem que se dê conta.

Aliás, vocês gostam de filmes nacionais? O terceiro mundo vai explodir?
Sim, gostamos muito. Tem muita coisa boa sendo produzida longe aos olhos da grande mídia. Não só o terceiro, o mundo todo vai explodir. Aguarde e confie.

Como foi gravar o Insônia pela Läjä Records?
Já havíamos feito essa parceria no Dance Império, Dance, onde o Mozine também entrou no esquema e ficou com a distribuição de algumas cópias. Desde então meio que a parceria se manteve, então quando finalizamos o disco, entramos em contato com ele, mostramos como tinha ficado, e voilá, ele topou.

Se liga na série:

Entrevistando o Exhale The Sound: Carahter

Entrevistando o Exhale The Sound: Ereção de Elefante

Entrevistando o Exhale The Sound: Herod

Entrevistando o Exhale The Sound: Chakal

Entrevistando o Exhale The Sound: ROT

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Entrevistando o Exhale The Sound: Abske Fides

Entrevistando o Exhale The Sound: Expurgo

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Exhale The Sound 2014

Dia 10/10, a partir das 19h; 11/10, a partir das 15h.

Espaço CentoeQuatro. Pça Ruy Barbosa, 104, Centro, Belo Horizonte/MG.

Ingressos: R$ 20, para o dia 10; R$ 35, para o dia 11; R$ 45, para os dois dias.

À venda no Espaço Veg: R. Fernandes Tourinho, 441, Savassi, Belo Horizonte.

Pela internet: Sympla / Noise Stuff