Supreme de A a Z

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Supreme de A a Z

Um guia alfabético para entender a marca mais codificada, colecionada e cobiçada do mundo.

Esta matéria foi originalmente publicada na i-D Grã Bretanha.

A é de Arte: A Supreme é parecida com Os Simpsons: os dois são enciclopédias culturais cheias de facetas que absorveram várias inspirações e refletem essas referências através de lentes únicas. Mas o que torna cada uma dessas entidades brilhante é que você não precisa conhecer toda a rede de referências dos Simpsons ou da Supreme para ser fã da marca (em outras palavras: você pode rir do Prefeito Quimby sem saber que ele é uma caricatura do Kennedy, ou se apaixonar por uma camiseta da Supreme sem saber que o desenho é baseado no filme Amadeus). O que é especialmente verdade em se tratando das colaborações artísticas da marca. Artistas já falecidos como Jean-Michel Basquiat, Pablo Picasso e Keith Haring já tiveram obras apresentadas em peças da Supreme; os vivos incluem Jeff Koons, Damien Hirst, Christopher Wool e Urs Fischer, que já ilustraram os shapes da marca, agradando skatistas e colecionadores de arte. "Para nós, o mais importante é o moleque que entra na loja", disse o fundador da Supreme, Glenn O'Brien, sobre os cruzamentos artísticos da marca. "Para nós, um designe só é bom quando um garoto olha para alguma coisa e diz 'Não sei que merda é essa, mas é muito legal'."

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B é de Britânico: Jebbia nasceu nos EUA, mas passou seus primeiros 19 anos na cidade de Crawley, West Sussex, a uma hora de carro de Londres. E apesar de a Supreme ser uma marca iconicamente nova-iorquina, ela tira muita inspiração do antigo país de seu fundador. Ela já teve a Dr. Martens e a lendária marca Aquascutum como colaboradoras, e muitas vezes incorpora uma homenagem à cultura britânica. Trechos de poemas de Philip Larkin apareceram nas camisetas desta temporada; e a Supreme já fez referência a bandas como Siouxsie and the Banshees e The Wedding Present.

Supreme x Aquascutum. Imagem cortesia da Supreme.

C é de cherry: O primeiro longa de skate da Supreme foi lançado 20 anos depois de seu primeiro e único vídeo, o A Love Supreme de 1995. Encabeçado pelo diretor William Strobeck, cherry não foca simplesmente em rostos familiares e lendas vivas (apesar de Mark Gonzales, Jason Dill, Anthony Van Engelen, Paulo Diaz, Alex Olson e o falecido Dylan Rieder fazerem aparições memoráveis). Strobeck focou na nova geração do skate — Sean Pablo Murphy, Aidan Mackey, Tyshawn Jones, Sage Elsesser, Kevin Bradley e Nakel Smith — que mais tarde apareceu num livro de fotos de David Sims para a Supreme, lançado ano passado. Num estilo bem Strobeck, cherry também mostra figuras carimbadas de Nova York. O filme lembra que skate não é um esporte, é um estilo de vida.

D é de Dover Street Market: A Supreme não vende mais seus produtos fora de suas lojas próprias e do site, com exceção dos pontos de venda de Rei Kawakubo de Nova York e Tóquio. Adrian Joffe, presidente da Comme des Garçons e Dover Street Market, disse ao New York Times que a Supreme está entre as três marcas mais vendidas no DSM de Nova York, onde ela fica ao lado da Gucci no sétimo andar. Joffe comentou que a Gucci "insistiu para estar perto da Supreme".

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E é de Erin Magee: Diretora de Produção e Desenvolvimento da Supreme há mais de uma década, Erin também é estilista de uma marca de streetwear própria: a excelente MadeMe. Veja mais da colaboração recente dela com a icônica marca cult dos anos 90 da Kim Gordon, a X-girl, aqui.

F é de Fashion: Hoje em dia, a indústria da moda é obcecada com a cultura do skate. Alguns nomes do mundo do skateboard não curtem esses " malditos palhaços" (nas palavras do editor da Thrasher Jake Phelps), mas Jebbia há tempos abraçou a moda com M maiúsculo. A Supreme já brincou com a Hermès, Louis Vuitton, Gucci, Versace, Vivienne Westwood e DKNY; uma de suas primeiras camisetas apresentava uma reapropriação do logo da Courrèges. Mas para Jebbia, o Kaiser é o rei: "Sou muito influenciado pela Chanel e pelo que Karl Lagerfeld tem feito", ele disse ao New York Time na festa de inauguração da Supreme em Paris em março (com aparições de Rick Owens e Kris Van Assche). "Muitas vezes me perguntam 'por que você fez um extintor de incêndio?' E eu digo 'Bom, se a Chanel pode…'"

G é de deu Galho: Você não consegue milhões de fãs sem pisar em alguns calos pelo caminho. Muito antes de Morrissey criticar a Supreme por colaborar com "o faraó do sanduíche de carne conhecido como White Castle", e a foto "fraca" dele que a Supreme usou numa camiseta de sua série com celebridades, Calvin Klein era o principal inimigo da marca. Em 1994, Kate Moss participou de uma campanha publicitária do império minimalista americano; e como a Complex conta, a recém-nascida Supreme tinha começado a produzir adesivos, e muitos deles acabaram nas publicidades de Moss em Nova York. Em resposta, Calvin processou a Supreme (dez anos depois, as propagandas adesivadas virariam uma camiseta da Supreme). Falando em quem ri por último, talvez a treta mais notável da Supreme tenha sido com a própria artista que inspirou seu logo icônico, Barbara Kruger. Ao saber que a Supreme estava tomando medidas legais contra as camisetas "Supreme Bitch" da Married to the Mob, a artista americana disse: "que palhaçada desses babacas sem graça. Fazer meu trabalho ser sobre essa farsa idiota. Estou esperando que todos eles me processem por quebra de copyright".

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H é de Humor: Outros podem argumentar que esses babacas têm um senso de humor afiado. Para a Edição de 35 anos da i-D impressa, pedimos que 11 estilistas criassem capas para a edição limitada de aniversário. J.W. Anderson usou um consolo, Jeremy Scott posou com o Pernalonga. A Supreme escolheu interpretar a piscadinha da i-D com uma imagem de Slick Rick, um rapper cuja marca registrada é um tapa-olho. Bem legal.

I é de i-D: "Para mim e a minha geração, a i-D foi parte da nossa formação", Jebbia contou pra gente numa entrevista para a edição de 35 anos. "Foi uma das primeiras revistas que misturou a alta e a baixa moda; você lia sobre Rei Kawakubo ou Katherine Hamnett pela primeira vez, depois sobre a Chanel, depois uma matéria sobre uma mina fazendo vestidos no Kensington Market. Falando sobre música ou moda, eles estavam realmente envolvidos e você acreditava. Era onde eu descobria as coisas; a i-D foi muito importante".

Supreme x Undercover. Foto por Harley Weir, styling Max Pearmain. Imagem cortesia da Supreme.

J é de Japão: Por volta de 1998, a base de fãs da Supreme estava explodindo do outro lado do mundo. Então Jebbia fez uma parceria com Ken Omura, um amigo japonês, para abrir a primeira loja internacional da Supreme, no bairro de Daikanyama em Tóquio. Agora a marca tem mais dois postos avançados em Tóquio (Harajuku e Shibuya), além de lojas em Osaka, Nagoia e Fukuoka. A Supreme está sempre colaborando com marcas japonesas (Undercover, Sasquarchfabrix e, claro, Comme des Garçons). Talvez o mais interessante é que a marca só trabalha em editoriais com revistas japonesas. Gosha Rubchinskiy fotografou recentemente uma participação da Supreme para a revista Popeyee outra para a GRIND. Essas publicações, mais a WARP, SENSE, Lightning e Clutch, contam com a maioria dos editoriais da Supreme. O site Complex analisou o motivo disso, e perguntou a W. David Marx, autor de Ametora: How Japan Saved American Style, o que ele achava. "No mesmo dia que a revista sai, as lojas recebem um monte de ligações tipo 'Na página 20 da Popeye, essa camiseta, vocês têm em estoque?'", ele disse. "Isso dispara as vendas diretamente, sem fricção."

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K é de Kaleidoscópio: Apesar da forma mais icônica da box logo da Supreme ser o texto em Futura Heavy Oblique num fundo vermelho, o "bogo" já teve muitas formas criativas nos últimos 22 anos. Algumas homenagearam The Sopranos, Jackson Pollack, Burberry, a bandeira americana no 11 de Setembro e os buracos de bala de Nate Lowman.

L é de Lafayette Street: Depois de passar pelas Parachute, Union e Stüssy da Prince Street, Jebbia abriu uma loja a três quarteirões dali, na 274 Lafayette. "Custou uns $12 mil para abrir a loja. O aluguel era 2 mil", Jebbia disse ao O'Brien. "E eu pensei 'Ei, se fizermos cinco mil por semana, ótimo!' Não vendemos nada no começo, mas acabamos nos saindo bem." Parece que sim, né?

M é de Mais Cinema: Além da música, a Supreme já fez muitas referências ao cinema. Filmes de máfia ( O Poderoso Chefão , Os Bons Companheiros, Scarface) e kung fu já eram esperados, mas outras fontes de inspiração são menos óbvias: O Mágico de Oz , Silêncio dos Inocentes, Amadeus e Les Misérables. Mas o filme mais influente para a Supreme provavelmente é aquele que apresentou a marca em siKids. A Supreme é inseparável do retrato da juventude que Larry Clark fez em 1995; seus amigos e família são o elenco do filme (pense em Justin Pierce, Harold Hunter, Leo Fitzpatrick e Chloë Sevigny), e o diretor já fez várias colaborações com a marca, inclusive uma especial para os 20 anos do filme.

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Os shapes comemorativos de 20 anos de Kids. Imagem cortesia da Supreme.

N é de Números: O Reddit destrinchou os números numa tentativa de calcular quanto custaria construir uma casa com os notórios tijolos da Supreme. A resposta: $40.704.000 (sem a mão de obra, der).

O é de Objetos: O tal tijolo é um dos muitos objetos que a Supreme lançou junto com as roupas e acessórios de skate. Extintores de incêndio, organizadores de remédios, nunchakus, boias, buzinas de ar comprimido — todas em vermelho e branco. Para os fãs mais dedicados, a Supreme é realmente um estilo de vida, então faz sentido que até os produtos domésticos mais básicos carreguem o logo. Alguns desses objetos, apesar de mundanos, podem ser considerados instrumentos de rebelião (martelo, pé de cabra, alicate) alinhados com o etos skatista da marca. Isso é uma meditação sobre o consumismo? Só uma piada? Não sei, mas quero muito dar esta tigela pro meu cachorro.

P é de Política: Além da cultura popular, a Supreme também envolve temas históricos e sociopolíticos em suas peças. Malcolm X e JFK são figuras recorrentes; e o design já abordou coisas como a campanha Rock the Vote, a Guerra do Vietnã e a Segunda Guerra Mundial. Agora a Supreme bem que poderia voltar sua atenção para o Trump.

Q é de Que Puta Fila!: Depois do logotipo, um dos sinônimos da marca são as filas virando o quarteirão da loja, que começam na Lafayette de madrugada toda quinta-feira. O lugar já virou um point para fazer entrevistas zoadas e para a polícia de Nova York, que já fechou a loja com medo de que a multidão saísse do controle (no dia do lançamento deste tênis em colaboração com a Nike). Jebbia não gosta muito de como os revendedores acabam dificultando o acesso dos principais clientes — os skatistas de Nova York — aos seus produtos. Mas as filas são uma representação do etos da marca. A Supreme e seus fãs respeitam um certo corre, e as filas gigantes significam que os produtos oferecidos continuam relevantes. "Tentamos fazer as coisas o melhor possível, mas nunca dou isso por garantido. Então, quando vejo uma fila se formando na frente da loja, penso 'Legal, parece que as pessoas ainda gostam das nossas coisas'", disse Jebbia.

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R é de Ralph Lauren: Uma das grandes influências da Supreme é um colega nova-iorquino com uma abordagem distinta da moda que inspirou seu próprio culto em NY: Ralph Lauren. As incontáveis linhas do cara do Bronx — de designs clássicos a camisas polo esportivas — são uma inspiração perene para o vizinho do centro. Se músicas, filmes, esportes e outras casas de moda são as principais influências da Supreme em se tratando de desenhos e estampas, Lauren aparece nos detalhes. E mesmo que os low lifes do Brooklyn tenham se expandido para uma comunidade global, seus fundadores, os moleques de Brownsville que faziam arrastão nas lojas Ralph nos anos 80, são os pais do culto extremo a uma marca.

S é de Superfã: A Supreme fez nascer um culto global de discípulos dedicados, que dormem na rua para comprar seus produtos, fazem modelos de Lego e sapatinhos de bebê inspirados em seus tênis, transformam seus sacos plásticos em móveis e dissecam meticulosamente sua vasta esfera de influências (um beijo pro pessoal da @supreme-copies, uma projeto trabalhoso e incrivelmente informativo). Um cara chegou a visitar todas as lojas da marca no mundo e escreveu um livro sobre a experiência.

T é de Toca aí: A Supreme tem ouvidos e olhos treinados para perceber os diversos estilos musicais e a rica cultura que os cerca. A marca geralmente é mais associada ao hip hop. Baseada em suas colaborações e inspiração em gente como Raekwon, Ghostface, RZA, Dipset, Gucci Mane, Public Enemy e Three 6 Mafia, apenas para citar alguns, a reputação é merecida. Mas a Supreme também ama o pós-punk, o reggae, o jazz e até a música pop. Os artistas como Miles Davis, Bow Wow Wow, Joy Division, Daniel Johnston, Britney Spears, Neil Young, Lou Redd, Curtis Mayfield, Swans, Madonna e Nirvana fazem parte do universo da marca.

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U é de Unânime: A marca já fez colaborações com o New York Yankees, geralmente recontextualizando a paleta de cores do time, e reimaginando a roupa do dia a dia para os torcedores mais obcecados (pense em shorts da Umbro), mas uma das maiores influências da marca não é um esporte ou time, mas um homem – Jebbia é um grande fã de Muhammad Ali. Ele fez uma colaboração com a Andy Warhol Foundation no começo do ano, usando retrato abstrato de Basquiat do boxeador; uma camiseta de um quadrinho de 1978 da DC com Ali e o Superman, e uma camiseta antiga rara de 1997.

V é de Vogue: Acredite ou não (eu não acreditava até escrever esta matéria), mas a Vogue é team Supreme desde bem antes de sua polêmica Semana do Skate. Em 1995, a revista publicou uma matéria comparando as experiências de compra, apelo cult e clientela de uma boutique da Chanel na 57th Street à loja que tinha apenas um ano da Supreme em Lafayette. A matéria se mostrou uma estranha profecia: "As lojas estão a alguns quilômetros de distância e em mundos diferentes, mas no cerne do que elas são e o que significam para seus devotos, elas são fundamentalmente a mesma coisa". Leia o texto na íntegra aqui.

W é de William Strobeck: Um dos maiores cronistas do skate, William Strobeck emprestou seu estilo singular para algumas das imagens mais amados do skateboard. Envolvido em projetos da Alien Workshop como o influente Photosynthesis, há tempos Strobeck colabora com a Supreme, e em 2014 ele dirigiu o filme cherry para a marca. Além desse opus de 40 minutos, Strobeck também filmou vários vídeos mais curtos apresentando antigos e novos amigos da Supreme. O trabalho de Strobeck distila muito do que faz a marca ser tão grande: ele captura a variedade de estilos e personalidades do skate, celebra os maiores picos de Nova York e suas figuras das ruas, tem um ouvido excelente para todo tipo de música (The Cure, Bauhaus, Cypress Hill e "Bette Davis Eyes" de Kim Carnes já apareceram nas trilhas sonoras de Strobeck), e seus filmes são muito legais.

X é de o X marca o lugar: Se você ainda não percebeu, a Supreme adora uma boa colaboração. E mesmo que muito do hype com as coleções venha de esperar para ver com quem a marca vai juntar forças, eles têm muitos projetos de longa data também. Marcas queridas como Clarks, Levis, Nike e North Face sempre aparecem, e a Supreme vem trabalhando com a Vans há mais de dez anos.

Y é de forever Young: Uma das razões para a Supreme (e Raf Simons) terem conseguido uma base de seguidores tão fiel é seu engajamento real com as muitas facetas da cultura jovem. Mas ironicamente, a vida da Supreme começou como uma reação à base de consumidores jovem demais da indústria: "As roupas das outras empresas de skate eram uma merda", disse Jebbia sobre o estilo exagerado que dominava o mercado durante a gênese da Supreme nos anos 90. "Quando as pessoas pensavam em skatistas, elas pensavam em moleques de 12, 13 anos. Mas em Nova York, os skatistas hardcore de 18 a 24 anos não usavam nada das marcas de skate." Então eles começaram a fazer produtos para atender essa faixa de consumidores, e continuam fazendo até hoje.

Z é de Zíper na Boca: Apesar do culto fervoroso seguindo cada movimento da Supreme, todo mundo dentro da marca fala o mínimo necessário. Jebbia é famoso por não gostar de entrevistas, o diretor da marca, Angelo Baque, quase não dá nenhuma e pouco se sabe sobre a pessoa que realmente faz o design das roupas, principalmente agora que o diretor-criativo de longa data Brendon Babenzien partiu para sua própria bandeira, a Noah. "Quanto menos for conhecido, melhor", Jebbia disse uma vez, e Baque acrescentou: "Ralph Lauren tem Ralph Lauren, Tommy Hilfinger tem Tommy Hilfinger. Gostamos que a Supreme seja a fachada quando as pessoas pensarem na Supreme". E apesar do hype, das filas infernais e das referências obscuras, no final das contas, a Supreme simplesmente faz coisas muito legais.

Tradução: Marina Schnoor

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