Desde a última sexta-feira (29), 31 cidades do estado do Rio Grande do Norte foram alvo de ataques atribuídos a facções criminosas — principalmente uma organização local chamada Sindicato do Crime RN. Natal, a capital, foi a cidade mais atingida. Ao todo, foram notificadas até esta quarta-feira (3) um total de mais de 100 ocorrências. Destas, pelo menos 54 foram incêndios, 24 tentativas de incêndio, 29 veículos incendiados, além de disparos contra prédios públicos, depredações e uso de explosivos.
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Tudo começou no dia 29 da semana passada, quando as secretarias de Justiça e Cidadania (Sejuc) e de Segurança e Defesa Social (Sesed) iniciaram a instalação de equipamentos bloqueadores de celulares no Presídio Estadual de Parnamirim, uma das 32 unidades prisionais do estado, que fica na região metropolitana de Natal.
Revoltados, detentos gravaram vídeos e áudios com ameaças, que foram amplamente divulgados nas redes sociais. Neles, os presos afirmavam que fariam uma grande rebelião nas prisões de todo o estado, e que acionariam a "força do Sindicato do Crime" na capital potiguar caso a instalação do equipamento fosse consolidada. Entretanto, mesmo não instalado definitivamente o bloqueador, a promessa dos ataques se concretizou. O que parecia boato se tornou realidade.No mesmo dia, pelo menos 11 veículos foram incendiados e os ônibus foram recolhidos aos terminais. Com as paradas de transporte público lotadas e sem ônibus circulando, a Prefeitura liberou os demais veículos autorizados pelo Departamento Estadual de Trânsito a realizarem serviço de lotação. Os ataques, juntamente com novos vídeos ameaçadores, continuaram no sábado, inclusive viaturas e a Delegacia Geral de Polícia foram incendiadas.
Em função dos atentados, no domingo (31), a cidade praticamente parou. Por decisão do Sindicato dos Rodoviários, nenhum ônibus circulou na cidade. O serviço de limpeza municipal também foi suspenso. Entre vários atentados, uma agência do Banco do Brasil foi metralhada e até mesmo um dos principais cartões postais da capital, o Morro do Careca, foi alvo de incêndio criminoso.
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Nas primeiras horas da segunda-feira (1), o Corpo de Bombeiros de Natal foi a nova instituição pública a sofrer tentativa de incêndio. Em meio ao caos, é registrada a fuga de dez homens do Centro de Detenção Provisória do bairro da Ribeira, também em Natal. Escolas e universidades particulares e públicas suspendem suas aulas, transportes públicos circulam com frotas reduzidas, supermercados e estabelecimentos comerciais fecharam mais cedo.Reforço das Forças Armadas e novas rebeliões
Em coletiva de imprensa, o governador Robinson Faria (PSD) confirmou a autorização do Governo Federal para o envio de tropas do Exército, Marinha e Aeronáutica, que chegaram de Pernambuco e Paraíba na quarta-feira (3). Cerca de 1.200 militares estão compondo a chamada Operação Potiguar, que ocupa pontos estratégicos de Natal, até o dia 16 de agosto.
Isso não impediu um novo motim dos detentos do presídio de Parnamirim, pela noite, queimando colchões e tentando destruir as torres onde os bloqueadores de sinal estão instalados. Após contenção do conflito, como forma de punição, o secretário estadual de Justiça e Cidadania, Wallber Virgolino, afirmou que os colchões não serão repostos e as visitas foram suspensas.Até a última terça-feira (2), segundo a Secretaria Estadual de Segurança e Defesa Social (Sesed), 72 pessoas suspeitas de participação nos ataques haviam sido presas ou apreendidas. Entre elas, Daniel Silva de Carvalho, de 29 anos, tido como o segundo na linha hierárquica da organização criminosa Sindicato do Crime do RN no Estado.As investigações apontam que ele dava suporte às ações da facção, intermediando o contato entre o possível líder, João Maria dos Santos Oliveira, conhecido como João "Mago", que foi preso pela polícia no domingo (31), e outros membros, autores dos atentados.Outros presos que supostamente estariam ordenando os ataques de dentro dos presídios foram identificados e transferidos para a Penitenciária Federal de Mossoró, localizada a três horas de Natal.De acordo com Wallber Virgolino, mais 20 detentos serão transferidos para presídios federais, para que as facções sejam desmontadas. "Todas as providências estão sendo tomadas e logo a paz será restabelecida no Rio Grande do Norte", garantiu ele.ATUALIZAÇÃO: A Folha reporta que, após 72 horas de trégua, o Rio Grande do Norte voltou a ter veículos incendiados na madrugada deste domingo (7).