Imagem: Square Enix/Reprodução
Esta matéria foi originalmente publicada no Waypoint.Tenho que confessar uma parada. É uma das minhas memórias mais antigas, quando eu tinha uns oito ou nove anos. Também não é um momento do qual eu me orgulho muito, apesar das consequências incríveis que acontecimento teve na minha vida.A minha escola primária era um lugar horrível na cidade de Northumberland. Uns meses depois de ter entrado, fiz amizade com um moleque que parecia decente – ou, pelo menos, o mais decente que uma criança de nove anos de idade possa parecer. Um dia estávamos trocando uma ideia sobre videogame, como sempre, quando o cara tirou um jogo da mochila e disse que eu poderia pegar emprestado. Eu ainda era muito criança – não recebia uma grana com frequência, então não rolava comprar um monte de jogo. Então, obviamente eu aceitei o convite. O game, no caso, era Final Fantasy VII e, de lá pra cá, já foi documentado algumas vezes que esse jogo é bomzão demais.A escola, horrível do jeito que era, acabou tendo que mudar de local logo depois desse incrível ato de generosidade, e tudo aconteceu muito rápido. E eu fiquei com o jogo – e nunca mais vi o moleque de novo. Quase 20 anos depois e olha só pra mim – um jornalista de games com uma tatuagem do meteoro do Final Fantasy VII cravada no meu peito.É mais que justo dizer que esse jogo teve um impacto profundo na minha vida – mas já chegou a hora de eu admitir publicamente que, apesar de não ter sido intencional, eu roubei o jogo que mais influenciou a minha infância. Mais ainda do que o fato que eu roubei um game, o que mais me incomoda é que talvez eu tenha roubado a influência que esse jogo poderia ter na vida de outra pessoa – mais precisamente, de um moleque da minha escola que eu nem mesmo lembro como se chama.Quero me desculpar pra esse cara – mas, mais importante que isso, eu quero agradece-lo. É raro você conseguir apontar para alguém em específico que afetou tanto a sua vida num curto período de tempo, mas ato de bondade que ele fez ao me emprestar o jogo sem dúvidas teve esse efeito. Eu já jogava antes, claro, mas Final Fantasy VII foi o primeiro game que me arrastou para dentro desse universo. Era mais do que luzes piscantes e a oportunidade de dar uns tiros – era a primeira vez que fiz um jogo contar uma história.Todo mundo já teve alguma coisa roubada, e me perturba pensar que eu possa ter sido a pessoa horrível na vida de alguém que perdeu um jogo. Eu já emprestei jogos para outras pessoas também e nunca mais as vi depois. Quem sabe? Talvez os jogos que nunca voltaram pra minha prateleira influenciaram profundamente a vida de outra pessoa tanto quanto esse velho Final Fantasy VII influenciou a minha.Então, mal aí, cara. Mal aí, e muito obrigadoSiga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.
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