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O desfecho macabro de Farah Jorge Farah

Ex-médico matou e esquartejou Maria do Carmo Alves em 2003 e tirou sua vida nesta sexta-feira (22) após o STJ ordenar a sua volta à prisão.
Foto via.

Atenção: o texto a seguir contém detalhes e informações que podem disparar gatilhos.

A interrupção brutal da vida de Maria do Carmo Alves seria mais um caso de feminicídio nas páginas policiais de 2003 não fosse por dois detalhes: a profissão de prestígio do seu assassino, o médico cirurgião Farah Jorge Farah, e os requintes de crueldade usados para se livrar do crime. Mais de 10 anos após o crime, o ex-médico condenado a 14 anos de prisão foi encontrado morto em sua casa na Vila Mariana, bairro da zona sul de São Paulo. A suspeita é que o ex-médico teria se suicidado menos de 24 horas depois da sentença do STJ que determinou a sua volta à prisão.

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Uma discussão em seu consultório levou o ex-médico a esfaquear a dona de casa no pescoço. Imediatamente dispensou sua secretária – era uma tarde de sexta-feira do mês de janeiro – e sedou sua ex-amante. Para sumir com as evidências, esquartejou o corpo em nove pedaços e removeu as digitais dos dedos do pé e das mãos, além da pele do rosto e do peito para dificultar a identificação do cadáver. Maria do Carmo foi colocada em sacos de lixo depois que Farah limpou todo seu consultório para se livrar de qualquer evidência.

Estima-se que foram necessárias 10 horas para o médico esquartejar Maria do Carmo, na época com 46 anos. O marido de Mara do Carmo, João Augusto Lima, registrou um boletim de desaparecimento da esposa na madrugada do crime e entrou em contato com Farah, pois sabia que Maria tinha ido ao consultório para conversar sobre uma lipoaspiração. O forte cheiro de água sanitária foi percebido pelo marido.

Maria do Carmo Alves. Foto via.

No domingo após o crime, Farah se internou em uma clínica psiquiátrica e confessou o acontecido à uma sobrinha que foi vistá-lo. O ex-médico entregou as chaves do carro para a sobrinha, que acionou a polícia após sentir o forte cheiro vindo do carro guardado na garagem do prédio onde ele residia. Lá estava o corpo de Maria do Carmo desmembrado em sacos de lixo. O ex-médico confessou o crime alegando legítima defesa: disse que Maria do Carmo o perseguia. A perícia suspeita, pelas marcas de sangue no local, que o coração da vítima ainda batia enquanto foi esquartejada.

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Farah passou por dois tribunais do júri em São Paulo. O primeiro, em 2008, o condenou a 13 anos de prisão, mas foi anulado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Desembargadores que julgaram o recurso entenderam que não foi levado em consideração um laudo que apontava a semi-imputabilidade de Farah, que poderia não ter consciência sobre os próprios atos na época.

A tese não convenceu. Em 2014 o caso voltou ao tribunal do júri que desta vez entendeu que Farah tinha a completa noção do crime que cometeu, acatando a tese da acusação que houve premeditação, motivo torpe e de um modo que impossibilitou a defesa de Maria do Carmo. Foi condenado a 16 anos de prisão, mas teve a pena reduzida para 14 anos e oito meses por ter confessado o crime. Foi concedido à Farah o direito aguardar o trânsito em julgado em liberdade – um direito constitucional que poucos brasileiros conseguem em juízo.

Desde o assassinato, Farah perdeu sua licença para exercer o trabalho de médico e passou a ter seu nome em dezenas de listas de assassinatos brutais no Brasil, sempre chamando a atenção pela profissão de prestígio. Em 2010 deu uma entrevista quando foi descoberto estudando Gerontologia no campus USP Leste e também cursando Direito na Universidade Paulista (Unip).

No dia 21 de setembro, o STJ determinou a execução provisória imediata da pena de Farah, que deveria voltar imediatamente para a prisão e cumprir o restante da sua pena por homicídio triplamente qualificado.

Menos de 24 horas depois, Farah foi encontrado morto em sua casa após organizar um verdadeiro ritual macabro para marcar sua morte. O ex-médico supostamente fez implantes de silicone no próprio corpo (informação ainda não confirmada), vestiu roupas femininas – um top azul e uma legging – e escolheu uma música fúnebre. Foi encontrado pela polícia na cama com um corte profundo na perna. O delegado Osvaldo Nico Gonçalves suspeita que o corte foi preciso na veia femoral para acelerar sua morte. "Ele mesmo sabia o que estava fazendo", alega.

Não há mais informações sobre a música escolhida pelo ex-médico. Farah passou no total quatro anos preso pelo assassinato de Maria do Carmo. Os próprios vizinhos revelaram que ele preferia morrer a ser preso novamente.

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