Música

Hype Williams mudou o hip hop pra sempre com esses 10 clipes

Megan Thee Stallion alistou o lendário diretor Hype Williams para 'Fever: Thee Movie', mas as impressões digitais dele estão nos visuais do rap desde os anos 90.
KC
Queens, US
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Missy Elliott
Screenshot de "The Rain" de Missy Elliott.

Recentemente, Megan Thee Stallion anunciou Fever: Thee Movie. Parece que é inspirado nos filmes de ação blaxploitation dos anos 1970, que também inspiraram o tratamento de seu clipe mais recente, “Realer”. O trecho inclui aparições das colaboradoras de Fever, DaBaby e Juicy J, mas é a mensagem que aparece no final que deixou os fãs esperando ansiosos por mais detalhes: “A Hype Williams Film”.

Hype Williams vem traduzindo o rap em seus visuais distintos desde os anos 90. Desde a estreia dele em 1994 com “Can It Be All So Simple” do Wu-Tang Clan, o diretor do Queens emprestou sua genialidade para gente de Missy Elliott a Beyoncé. Williams já se envolveu na criação de grandes personas do rap, e quando se trata de clipes de hip hop, Hype Williams não segue tendências – ele as define. Ele trouxe técnicas de filmagem vanguardistas para os clipes de rap, como distorção olho de peixe que era sua marca registrada nos anos 90, e o formato de tela dividida que ele popularizou no começo dos 00. É difícil imaginar os truques visuais de Tierra Whack, por exemplo, sem as fundações que Hype Williams construiu.

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Hype desacelerou um pouco seu trabalho desde seu auge, mas ainda fez clipes sensacionais como “Rock the Boat” de Aaliyah, “Diamonds from Sierra Leone” de Kanye West, e “Check on It” e “Blow” da Beyoncé. Então, enquanto nos preparamos para Fever: Thee Movie, aqui vão 10 dos clipes mais memoráveis do diretor dos anos 90 para mostrar que, 25 anos depois, Hype Williams está impregnado no DNA do rap.

The Notorious B.I.G - "Mo Money, Mo Problems" (1997)

“Mo Money, Mo Problems” começa num cenário improvável: um campo de golfe. Lá Puff Daddy ganha um torneio, meses depois da primeira grande vitória de Tiger Woods no 61º Masters do Golfe. Puff agradece seu sucesso a um amigo especial. “Eu estava tendo problemas no buraco 17, mas meu amigo B.I. desceu aqui e conversou comigo para me acalmar…” Lançado alguns meses depois da morte de Notorious B.I.G., “Mo Money, Mo Problems” mostra Puff Daddy e Mase carregando a tocha. O visual vida após a morte celebra o legado de Biggie olhando para o futuro, enquanto a dupla usa trajes cintilantes e relógios Rolex. “Quanto mais dinheiro você ganha, mais problemas você tem”, diz Biggie numa filmagem de arquivo dividida entre cenas.

Missy Elliott - "Sock It 2 Me" (1997)

Missy Elliott canta coisas bem safadas em “Sock It 2 Me”, mas um clipe super sexy seria fácil demais. Em vez disso, Missy optou por um tratamento de outro mundo que deixaria Buzz Lightyear orgulhoso. Da Brat e Timbaland se juntam ao cosplay, surfando pelo planeta estilo Marte que Missy habita.

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Missy Elliott - "The Rain" (1997)

Vinte anos depois e ninguém conseguiu fazer dançar na chuva algo tão ousado quanto Missy. “The Rain” tem momentos icônicos: o traje de Boneco da Michelin, aparições de Total e Lil Kim, o Hummer – e isso foi totalmente de propósito. “Quando estávamos criando o clipe, o objetivo era fazer algo tão polarizado que ficaria cimentado no cérebro de quem consumisse pra sempre”, disse a stylist June Ambrose numa entrevista de 2017 para a Elle. A parceria de Hype e Missy continuou a desafiar as expectativas de como uma mulher podia ser retratada no hip hop.

Busta Rhymes - "Put Your Hands Where My Eyes Can See" (1997)

Do minuto em que Busta Rhymes aparece com duas mulheres escovando seus dentes em “Put Your Hands Where My Eyes Can See”, fica claro que esse não é um vídeo típico de rap barra pesada do final dos anos 90. Depois de mixar o disco assistindo a comédia de Eddie Murphy Um Príncipe em Nova York, de 1988, Busta procurou Hype para atualizar o filme sobre a realeza negra. “Eu disse pro Hype: 'Quero Um Príncipe em Nova York e quero ser o Eddie Murphy”, ele contou numa entrevista para a XXL em 2012. O rapper do Brooklyn estima que o clipe custou cerca de US$ 800 mil – um preço pequeno para correr de um elefante num prédio em Manhattan.

DMX, Nas - Belly (1998)

Belly não é um clipe, mas é evidente que Hype usou a mesma abordagem em seu primeiro longa. A abertura é uma das cenas mais icônicas de todos os tempos, com DMX e Nas entrando num clube de strip-tease iluminado por luz negra usando lentes de contato UV. O filme, que continua sendo um dos dramas policiais com um elenco todo negro mais importantes do cinema, é prova de que Hype não precisa se limitar a videoclipes.

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Missy Elliott - "She's a Bitch" (1999)

Quando achavam que a química de Missy e Hype não podia ficar mais futurista que “Sock It 2 Me” e “The Rain”, a dupla dobrou as apostas com “She's a Bitch”. O visual é monocromático, uma mudança drástica das cores vibrantes que Missy geralmente escolhe. Mas o vídeo não é menos futurista que os anteriores. Ela está com a cabeça raspada no visual Da Real World, no que ela chamou de “sadomasoquismo do gueto”. Ela e suas dançarinas estão militares no clipe, desafiando o que significa uma mulher ser uma “bitch”.

Jay-Z - "Big Pimpin" (1999)

Hype Williams deu ao rap com flautinha divertido de Jay-Z o tratamento Índias Ocidentais, num iate durante o Carnaval de Trinidad e Tobago. O vídeo parece ter sido feito sem esforço, mas Too $hort revelou que teve um certo caos nos bastidores numa entrevista ano passado. Segundo o rapper da Califórnia, Pimp C não conseguiu chegar a Trinidad para filmar com Jay-Z, e a parte dele teve que ser gravada em Miami.

Nas - "Hate Me Now" (1999)

Hype Williams considera a versão original de “Hate Me Now” de Nas e Puff Daddy como a “This Is America” de seu tempo. Segundo o diretor, o clipe, que usa os rappers para encenar a crucificação de Cristo, foi pesadamente editado para poder passar na TV. “A primeira edição desse clipe na época teve que ser a maior coisa que alguém já tinha visto”, Hype disse na Red Bull Festival Director's Series ano passado. “Por causa de quem Puff era e para onde ele estava indo, ele precisou de uma isenção para não ter restrições filmando esse clipe. As coisas que ele fez e as coisas que filmamos ele fazendo eram tão radicais que, quando editamos essa música, nem sei como descrever, mas na época, a maior coisa que já tínhamos visto era o Puff como um efeito especial, algo que sinto que está acontecendo com Childsh.”

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Busta Rhymes - "What's It Gonna Be?" (1999)

Se Busta dizer que custou US$ 800 mil para fazer “Put Your Hands Where My Eyes Can See” não te fez ler a frase de novo, a colaboração dele com Janet Jackson para “What's It Gonna Be?” vai. O vídeo, que casa sexualidade e Afrofuturismo, supostamente custou mais de US$ 2 milhões para os efeitos de CG que fazem a dupla derreter em esperma.

TLC - "No Scrubs" (1999)

Dois anos depois que “Scream” de Michael Jackson e Janet Jackson mostrou os irmãos putos com o mundo, este clipe do TLC é seu próprio “Scream” – só que a frustração delas é com boys lixo. O grupo feminino parece seguro em sua própria zona livre de scrubs, onde elas não aceitam nada menos do que o que desejam. Numa entrevista de 1999, Lisa “Left Eye” Lopes revelou que a visão de Hype era que cada cena representasse a personalidade de uma membro do grupo. “[…] Cada uma de nós tinha partes individuais num cenário individual, para que fosse como nossos mundos individuais”, ela disse.

Kristin Corry é parte da redação do Noisey. Siga a moça no Twitter.

Matéria originalmente publicada na VICE EUA.

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