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Delatorvi e KK Ousado cantam sobre fazer dinheiro “Honesto” em novo clipe

Conversamos com rapper mineiro sobre o sucesso do trap, privilégio branco e fascismo.

O rolê do Delatorvi por São Paulo rendeu uma par de bons sons. Com três mixtapes na rua e colaborações com grandes nomes da cena como Raffa Moreira, Djonga e Makalister, o rapper mineiro parece estar mais afiado do que nunca.

Um dos resultados da boa fase do auto-entitulado Jovem Prince e da sua passagem por SP é o clipe da plugzada "Honesto", fruto da parceria com o paulista KK Ousado (1Nojo, nêgo) e produção musical do JD On Tha Track.

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O clipe foi produzido pela Guettolifefilms num campão no Jardim Tranquilidade, em Guarulhos, e é uma celebração do crescimento dos artistas, alcançado por meio da originalidade artística e da honestidade. Eles também aproveitam para exaltar a semelhança dos seus trampos com o futebol, esporte onde o protagonismo negro é historicamente comprovado, como os rappers citam dentro da faixa: “K.D. no meu pé, solape né? Swag nojento, igual Ney! Estabilidade, tô sensei”.

Delatorvi trocou uma ideia com a gente sobre o lançamento de "Honesto" e sua visão da cena trap atual e como lutar contra o fascismo e o racismo estrutural é uma questão de saúde mental.

Noisey: Como foi essa parceria com o KK Ousado? Vocês têm mais algum trampo pra sair em colaboração ou planejam algum projeto?
Delatorvi: Minha parceria com o KK foi um processo natural. Me identifico com o trampo dele, tanto esteticamente como na forma que ele se comporta como artista. Acho isso belo e também me preocupo com isso. Eu gravei no Nagali, em SP, e o KK gostou da track e pulou comigo nesse bagulho. Estamos preparando mais um projeto também.

Você vem lançando vários trampos e já está com alguns outros no pente também. Quais são os próximos passos?
Meu próximo passo é criar uma consistência com o meu trampo dentro do mercado, trazendo mais pessoas pras coisas que eu já tô fazendo. Todo mundo depende do público, mas mais ainda de si, então a meta é conseguir fazer isso com mais intensidade e de uma forma mais estratégica. Espero crescer como artista e quero crescer com a minha gang, a Savage Mob e Antehype Music, também. E, consequentemente, crescer com a cena do rap de MG.

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Agora que o seu nome consta no mapa do trap BR, você nota alguma diferença em relação ao início da sua carreira?
Eu não me considero consolidado dentro da cena trap, é um rótulo até perigoso… É difícil se consolidar num país onde quase tudo é difícil. Hoje eu me considero honrado por fazer parte de um seleto grupo de pessoas que são lembradas quando se fala de trap brasileiro. No começo eu acho que me sentia me invisível, meio perdido, mas conforme você vai vivenciando o hip-hop, a cultura te leva pra um mar onde você tem diversas escolhas pra onde mergulhar. Hoje eu tenho mais noção de onde estou e é foda saber que evoluí.

Como você vê a cena do trap hoje?
Eu vejo a cena trap numa ascensão. Hoje ela é a mais relevante esteticamente — a forma como a gente se veste tá chegando até em artistas sertanejos — quem acreditaria nisso uns três anos atrás? Ao mesmo tempo que o trap ainda não deixou ninguém rico aqui, ele vendeu bem. Todos querem ser trapstar, até quem não é. No passado, a gente tinha uma amargura, e hoje — mesmo tendo as mesmas problemáticas, elegendo um presidente fascista e tudo mais — a gente sabe que se não cantar o nosso lazer, a depressão vai engolir.

Sobre fascismo. Tanto no seu trampo quanto nas redes sociais, você sempre alertou sobre o privilégio que branco dentro da cena. Algo mudou?
Eu acho que o Brasil sempre foi igual nessa parte do privilégio branco, desde Roberto Carlos x Tim Maia a Chico Buarque x Cassiano, eles sempre vão ser os mais lembrados, mesmo sendo algo que nós negros criamos. Apesar de eu bater nessa tecla, tem surgido uma diversidade ainda maior — o rap preto sempre se reinventa e isso fica perceptível pra quem quer entender com seriedade. Com o passar do tempo isso vai diminuindo, não porque eles se renderam, mas porque nós nos reinventamos.

O público tem participação nisso?
Na minha opinião o boicote contra o artista negro é maior, sim. É o racismo estrutural enrustido: algumas pessoas têm mais empatia pela estética padrão e isso parece uma sabotagem silenciosa, que não acontece só no rap. É cabuloso que isso role dentro do rap, mas hoje a gente não se espanta com mais nada… Se teve gente que votou em candidato fascista, por que a gente se espantaria com gente falando que não existe privilégio? Brasil, né. KKK.

Você acha que o trap está isento da responsabilidade social dentro da cultura hip-hop?
A informação chega pra todos, então o trap não está isento, nem o funk. A informação chega mais quebrada na perifa, então é foda querer desconstruir tudo de uma vez. Eu espero que a gente se responsabilize mais, não só pelas palavras, mas pelo nosso comportamento, não só pelas nossas letras, mas pelo comportamento também.

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