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O curioso tratamento da Justiça brasileira para filhos de pessoas importantes

Os casos envolvendo Sérgio Orlandini Sirotsky, Breno Borges e Thor Batista esclarecem a questão.
No sentido horário: Sérgio Orlandini Sirotsky, Thor Batista e Breno Borges. Fotos: Divulgação/Facebook/Instagram.

No dia último domingo (6) quatro pessoas tiveram de ser encaminhadas ao hospital após serem atropeladas na rodovia SC-402 em Florianópolis, próxima de Jurerê Internacional. A Polícia Civil informou que dois motoristas foram responsáveis pelos atropelamentos. Ambos fugiram do local. Um foi preso embriagado e disse ter fugido "por medo" e o outro jovem ainda não se apresentou na delegacia. Esse jovem se chama Sérgio Orlandini Sirotsky, um dos herdeiros da RBS Comunicações.

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Sérgio atropelou três pessoas com seu Audi A3. Fugiu sem prestar socorro e abandonou seu carro perto de um motel na rodovia. Foi identificado pelo delegado que está cuidando do caso, requerido para prestar depoimento na delegacia, mas desistiu de se apresentar por decisão dos seus advogados de defesa. O delegado diz "acreditar" na defesa e não vê motivo de decretar prisão preventiva contra o jovem por enquanto.

Não é a primeira vez que Sérgio aparece nos noticiários – e nenhuma delas foi por conta de algum êxito da família. Em 2010, Sérgio foi acusado de ter estuprado uma colega de escola em Florianópolis com mais dois amigos. O caso foi rapidamente abafado, já que o processo corria em segredo de justiça, e não tardou até ele ser engolido e esquecido no mar de informações nas redes sociais. Um polêmico blogueiro do sul conhecido como Mosquito se dedicou a denunciar o caso até se suicidar pouco tempo depois. Em blogs e sites secundários corre a suspeita que a morte do blogueiro está relacionada ao caso, mas nada se comprovou.

Voltando à 2017, com as autoridades aguardando Sérgio Filho se apresentar para prestar depoimento, um mês antes um jovem foi acusado de cometer crimes graves como o de tráfico de drogas e contrabando de armamentos. A prisão aconteceu em flagrante pela Polícia Federal Rodoviária e fazia parte de uma operação ainda maior que envolvia uma facção criminosa especializada em contrabando. No entanto, o jovem passou pouco tempo preso e conseguiu a conversão do cumprimento da sua pena em um hospital psiquiátrico, já que a defesa alegou que ele sofre de Transtorno Borderline. Trata-se de Breno Borges, filho de Tânia Garcia Borges, desembargadora e presidente do TRE-MS.

Breno foi preso no dia 8 de abril ao ser flagrado com 130 quilos de maconha e quase 300 munições de fuzil escondidos em seu carro. Até conseguir permissão para ser internado, recebeu decisões favoráveis de um juiz e um desembargador na sua alegação de insanidade mental. Dias após o caso de Breno conquistar a atenção da mídia foi descoberto que o outro irmão de Breno foi internado após ser condenado por roubo em 2005.

Thor Batista, filho do empresário Eike Batista, também teve acesso à uma justiça mais rápida e eficiente quando foi absolvido por ter atropelado e matado o ciclista Wanderson Pereira dos Santos na Rio-Petrópolis em 2012. A sentença saiu em 2015. A história de Thor também vai de encontro com a de Sérgio, porém crimes de trânsito que envolvem morte são raramente punidos no Brasil.

O tratamento das autoridades - de imprensa - quanto aos crimes cometidos pelos jovens mencionados foi brando em comparação à outras prisões que envolvem pessoas que não podem pagar bons advogados para se defender. Se comparados com a saga de Rafael Braga, o catador de lixo preso em 2013 por causa de um Pinho Sol e depois em janeiro de 2017 por ter sido supostamente flagrado com pequenas quantidades de drogas, as histórias dos bem-nascidos mostra um descaso da justiça brasileira com civis que não possuem pais importantes, dinheiro ou status social. Tanto Thor, Sérgio, Breno e seu irmão conseguiram absolvições ou fugiram de cumprir pena em dos presídios superlotados na cadeia. Já Rafael sequer conseguiu a liberdade ao impetrar seu Habeas Corpus.

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