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Noisey

Um caloroso adeus à versão impressa da NME

Por mais polêmica e por mais defeitos que tivesse, a edição física da revista inspirou toda uma geração de roqueiros presos entre a imprensa tradicional e as inovações da internet.
Foto por Noisey.

Matéria originalmente publicada no Noisey UK.

Nesta quarta (7) foi anunciado que a versão impressa da NME deixaria de circular em favor de uma estratégia mais voltada ao digital, o que é muito triste e reflete bem o estado da imprensa em 2018. Por mais inevitável que tal acontecimento fosse, o fim deste ciclo parece ser uma boa hora para refletir sobre seu impacto em leitores e redatores da geração millennial, bem como na imprensa musical britânica no geral.

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Como muitos adolescentes que viveram entre os primórdios e meados do ano 2000, variando entre 12 e 14 anos, eu comprava a NME toda semana. Lê-la de ponta à ponta no meu quarto era certamente um dos pontos altos de minha existência, devorando cada nova banda encontrada em suas páginas. Provavelmente não sou a única na casa dos 20 e poucos anos que tem uma história parecida, porque pra gente como eu, a NME era uma ponte que ligava dois mundos diferentes: havíamos perdido o auge do jornalismo musical impresso e a internet ainda não havia se tornado o gigante que molda nossos gostos como hoje — assim como eu, você provavelmente tinha que se contentar com o que achava pra ouvir no LimeWire ou Kazaa.

A imprensa musical britânica já foi bastante próspera, mas com o passar dos anos e a mudança e expansão das preferências do público, a NME seguia como a única publicação de rock voltada ao público jovem a se manter de pé (apesar de títulos voltados ao som pesado como Kerrang! e Metal Hammer coexistirem com ela, o que permitia a você ser meio emo ou indie tudo ao mesmo tempo se quisesse), cuja influência foi gigantesca durante certo tempo. Por mais que os millennials tenham perdido o auge do Britpop nos anos 90, ainda assim pudemos ver alguns de seus grandes momentos: a cena indie do começo dos anos 2000, e mais adiante sua criança-problema, o New Rave. Ao nos apresentar bandas como The Strokes, The Libertines, e eventualmente nomes como Arctic Monkeys, Klaxons e The Gossip (por mais que sua cobertura de artistas mulheres pudesse ser melhorada), a NME sozinha ajudou a moldar o gosto de toda uma geração de jovens fãs de rock britânicos. Um legado e tanto, não?

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E por falar em legado, o efeito da NME impressa no estilo do jornalismo musical britânico que veio depois deve ser considerado. Por mais que mesmo em seu auge a revista fosse um tanto quanto polêmica, e muitos (até mesmo as bandas presentes) considerassem em alguns momentos a sua cobertura problemática, era uma voz única que ajudou a moldar as vozes de muitos dos atuais jornalistas e veículos musicais britânicos. Lembro de lê-la e adorar sua irreverência (não imaginava que alguém podia falar palavrão numa revista, sendo bem sincera) e seu tom despojado era diferente de tudo que já tinha lido. Folheá-la era como receber indicações de um amigo mais velho e meio sarcástico, fazendo questão de prestar atenção em cada palavra.

Claro, como tudo na vida, minha adoração pela revista passou assim que a internet começou a ganhar força (não que o jornalismo impresso tenha morrido: novas publicações como Crack e So Young preenchem o papel da NME de outrora). Há três anos, a versão impressa da NME tornou-se gratuita , e seu posicionamento mudou, passando a tratar de artistas mais pop como Taylor Swift e Justin Bieber — tentativas de apelar à masa mais abrangente e também pelo fato de que as tecnologias de streaming acabaram por mudar os hábitos de consumo de música — o que levou muitos a acreditarem que a revista havia perdido parte de seu caráter. Falando de forma bem realista, talvez isso seja verdade, mas a influência exercida durante seu auge segue firme e forte no jornalismo musical britânico de hoje, mesmo que muito deste seja baseado na internet, por bem ou mal.

Descanse em paz NME impressa. Nos resta esperar que seu espírito — em seus melhores momentos emputecendo a todos de forma inteligente — resista ao tempo.

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