Guia Noisey pra curtir um Superchunk

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Guia Noisey pra curtir um Superchunk

Sugerimos um percurso básico para mergulhar no variado catálogo de uma das bandas seminais do rock alternativo.

Matéria originalmente publicada no Noisey US .

O Superchunk está na ativa há quase 30 anos, mas se levarmos em conta o que seus integrantes revelaram no primeiro capítulo de Our Noise: The Story of Merge Records, de John Cook, o fato de a banda ter passado do primeiro ensaio já é um feito e tanto. De acordo com o relato, a formação da banda (que se chamava Chunk) era um golpe para que Mac McCaughan xavecasse Laura Ballance.

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Laura Ballance (baixo): “Me senti meio forçada àquilo. Música era algo que considerava importante, mas nunca quis tocar ou estar em um palco, a ideia me fazia congelar.”

Jim Wilbur (guitarra): “Não acho que teriam ficado juntos sem a banda. Acho que rolou porque Mac chegou meio “Vou te ensinar a tocar a baixo e vamos montar uma banda. Depois, vamos começar a sair juntos.”

Mac McCaughan (guitarra, vocal): “Esse provavelmente foi o maior motivador, mas também tinha aquele pensamento ‘Eu passo a maior parte do tempo fazendo barulho e tocando em bandas, então a Laura devia fazer o mesmo!’, na minha estreitíssima visão de mundo, não fazia sentido alguém não querer estar numa banda, é algo que parece divertido, não é?”

Ao passo em que o relacionamento entre Balance e McCaughan duraria uns quatro anos, ao longo dos últimos 25 anos estes continuaram como colegas de banda e parceiros de negócios, cuidando de sua própria gravadora, a potência indie Merge Records. O próprio Superchunk acabou perdendo em popularidade para muitos de seus antigos e atuais parceiros de selo (bandas como Spoon, Arcade Fire, Neutral Milk Hotel), mas foi o sucesso da banda durante os anos 90 que manteve a gravadora de pé, permitindo que fizesse mais do que lançar singles em EPs de sete polegadas.

Geralmente o Superchunk é encarado como uma das bandas seminais do indie rock, não só por seu envolvimento na construção de uma cena em sua cidade natal, Chapel Hill, na Carolina do Norte, mas também por seu trabalho com a Merge. No decorrer de todos esses anos, uma discografia sólida como a de qualquer banda da mesma geração foi construída.

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Por mais que o Superchunk tenha começado enérgico e com altas doses de sonoridade punk, com o tempo, eles foram evoluíndo: fosse McCaughan abrindo o coração no devastador Foolish ou ao lado do experimental Jim O’Rourke em Come Pick Me Up de 1999, fato é que o Superchunk foi capaz de amadurecer e expandir sua sonoridade sem afastar seu público.

Acontece que, no caso do Superchunk, não tem lugar errado pra se começar. Conhecer a banda a partir de seu mais novo disco, What a Time to Be Alive , dá tão certo quanto ouvir qualquer outro. Mas caso você queira uma mãozinha, listamos aqui cinco diferentes facetas de sua sonoridade.

PRIMEIRA GRITA QUE HINO DEPOIS OUVE

O Superchunk nunca teve um hit bombadaço, o que não quer dizer que lhe faltem hinos. Desde o início suas músicas tinham surtos frenéticos de guitarrada torta, abrindo caminho para o grasnar de McCaughan. Seu segundo single, “Slack Motherfucker”, de 1990, é uma música tão integral à banda que fica até feio quando não tocam na abertura ou encerramento de um de seus shows. Composta por McCaughan como uma maneira de chamar a atenção de um colega de trabalho preguiçoso, a música em questão é um dos poucos momentos culturais no tempo que ajudou a popularizar a cultura slacker, ou preguiçosa, que viria a ser um estereótipo sem precedentes dentro do indie rock. Ballance afirma já ter “superado essa música”, mas ela seguirá como a mais icônica de todos os tempos da banda.

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Eles quase transformaram um destes hinos em hit em 1995 com “Hyper Enough”, que por sua vez, como explicado por Ballance ao Noisey no ano passado, era tão som pras rádios que eles fizeram questão de contratar um promoter e um mix especial para as rádios mesmo. No final das contas, ela não foi muito além do circuito de rádios universitárias, mas acabou sendo uma de suas faixas mais amadas e características, graças ao seu riff colossal e tempo acelerado.

On The Mouth, terceiro disco da banda e o primeiro com o atual baterista Jon Wurster, é basicamente composto por um hino seguido do outro: a distorção contínua de “Mower”, a pedrada ascendente de “The Question Is How Fast”, os solos malucos de “For Tension” e claro, a eletrizante “Precision Auto”. Mais do que qualquer outro disco na carreira da banda, On The Mouth é representativo do quão capaz a banda é de criar músicas contagiantes. Estranhamente, a faixa-título chegou a ser gravada e não entrou no disco, apesar de bater mais forte que todo o restante.

Mesmo quando a banda retornou às atividades após um longo hiato em 2010, chegaram com pauladas certeiras como “Digging for Something” e “Learned to Surf”, de um disco apropriadamente intitulado Majesty Shredding, bem como um evocativo single chamado “This Summer”, que certamente é a coisa mais ensolarada que já criaram. Ah, o novo disco também não desaponta, com uma faixa-título que faz jus à grande declaração que é What a Time to Be Alive.

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Sem contar “Water Wings” de Foolish, lançado em 1994, que é animal, certo?

Playlist: “Slack Motherfucker” / “Hyper Enough” / “Mower” / “On The Mouth” / “Digging For Something” / “Learned To Surf” / “This Summer” / “What a Time to Be Alive” / “Water Wings”

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SENSÍVEL

Após o término do relacionamento de Balance e McCaughan, ambos concordaram em continuar com a banda e a gravadora. Imagine você o quão esquisito era trabalhar em dois empregos diferentes com o ex todos os dias, só imagine. Mesmo assim, eles deram um jeito, mas aquela tensão toda acabou se manifestando nas composições de McCaughan: em seu quarto disco, Foolish, o que não falta é emoção e também ternura, sendo encarado como um registro do final do namoro. Uma nova camada de profundidade emocional antes inexistente na banda surge em baladas como “Driveway to Driveway” e “In a Stage Whisper”, canções românticas que poderiam ser usadas por seus fãs em mixtapes.

De repente, o Superchunk não se via mais obrigado a só fazer som altão e frenético. Valendo-se da sonoridade mais calma explorada em seu projeto Portastatic, McCaughan começou a incorporar esse tipo de som nos outros lançamentos da banda, fazendo sucesso com fãs e críticos ao ponto de Here’s Where the Strings Come In chegar com mais faixas nessa pegada, caso de "Silverleaf and Snowy Tears” e “Green Flowers, Blue Fish”; Indoor Living, por sua vez, vinha com “Under Our Feet” e “Every Single Instinct”, com uma das performances vocais mais emocionadas de McCaughan; já Come Pick Me Up tem o trio “Smarter Hearts”, “Tiny Bombs” e “You Can Always Count on Me (In the Worst Way)”. Here’s To Shutting Up, por sua vez, foi o primeiro disco da banda a dar mais espaço para esse seu lado mais emotivo no lugar da barulheira. Por mais que nenhuma dessas faixas faça muito sentido em On The Mouth, “Florida´s On Fire” e “Drool Collection” soam quase irreconhecíveis em relação à banda que foram dez anos antes.

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Cabe mencionar que algumas das melhores faixas mais leves da bandas não estão em seus discos de estúdio. A chorosa “Home at Dawn” saiu em um compacto lançado em 1994 junto de uma edição da Speed Kills , sem contar os vários lados-B que merecem sua atenção, como “Sexy Ankles” de Hello Hawk, “The Length of Las Ramblas” de Late Century Dream e “Small Definition” do EP Laughter Guns, só pra citar alguns. Felizmente, todos estes foram lançados em coletâneas ao longo dos anos.

E claro, pra quem interessar, tem tudo que McCaughan já fez sob a alcunha Portastatic.

Playlist: “Driveway to Driveway” / “In a Stage Whisper” / “Silverleaf and Snowy Tears” / “Green Flowers, Blue Fish” / “Under Our Feet” / “Every Single Instinct” / “Tiny Bombs” / “You Can Always Count on Me (In the Worst Way)” / “Florida´s On Fire” / “Drool Collection” / “Home At Dawn” / “Sexy Ankles” / “The Length of Las Ramblas” / “Small Definition”

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PUNKS

Por mais que o Superchunk seja celebrado como ícone do indie rock, suas raízes estão no punk. Um dos primeiros shows frequentados por Ballance foi uma apresentação do Bad Brains em Atlanta, onde ficou dando rolê com skinheads e hardcoreanos. Nesta mesma época, McCaughan era straight edge, tocando em bandas como Wwax e os Slushpuppies, que abriram pro Fugazi em seu primeiro show em Washington, em 1987.

Então quando eles formaram o Chunk ( o “Super” só veio depois, antes da banda completar um ano) com o guitarrista original Jack McCook e o baterista Chuck Garrison, havia uma inegável influência de nomes como Hüsker Dü, Minutemen e Buzzcocks. Seu single de estreia, “What Do I”, de 1989, chega mostrando a que veio — acordes engordurados, solos furiosos e um Mac frustrado ao fim de um relacionamento ruim. Logo após veio o hino “Slack Motherfucker” e um disco de estreia autointitulado e barulhento, começando com a hardcoreana “Sick to Move”, fechando com “Not Tomorrow”, com jeitão de Ramones.

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Seu segundo álbum, No Pocky for Kitty, com Jim Wilbur substituindo McCook, não só refinou a produção, como veio ainda mais porrada, só parando ali pelo meio do disco pra dar uma respirada, ao longo de faixas como “Skip Steps 1 & 3”, “Punch Me Harder”e “Creek”, com pouco menos de dois minutos. On The Mouth foi ainda melhor, misturando velocidade com melodias incríveis em “Flawless”, “New Low”, e a acachapante “Precision Auto”, esta última considerada um clássico punk pela galera do Fucked Up e Tom Scharpling.

Já em meados dos anos 90, o Superchunck trocaria a barulheira por uma sonoridade mais reflexiva. Estranhamente, sua música mais rápida viria quando seus integrantes chegassem na casa dos 40, com seus 75 segundos “Staying Home”, de I Hate Music, é uma boa lembrança da brevidade hardcoreana, que acabou sendo superada por “Cloude of Hate” de What a Time to Be Alive, que também conta com uma homenagem ao Reagan Youth. Sem contar que eles também homenagearam os Misfits nestes últimos tempos. Temos também esta foto que merece sempre ser celebrada, mas não esqueçamos dos covers de “ Children In Heat ”, “ Where Eagles Dare ” e “ Horror Business ”, lançados em split com o Coliseum para o Record Store Day de 2011.

Playlist: “What Do I” / “Slack Motherfucker” / “Sick To Move” / “Not Tomorrow” / Skip Steps 1 & 3” / “Creek” / “New Low” / “Precision Auto” / “Staying Home” / “Cloude of Hate” / “Horror Business”

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CRISE DOS 90

Assim que a banda encontrou o espaço que precisava com Foolish, a coisa se expandiu mesmo em termos de composição. Em 1997, com Indoor Living, a porta estava escancarada para experimentar: ao escolher gravar no Echo Park em Bloomington, Indiana, o Superchunk se viu em meio a um monte de brinquedos novos. “Lembro bem de Mac querendo experimentar com sintetizadores, tocando e aparecendo com novas ideias”, comentou o produtor Plymale em Our Noise. A empolgação de McCaughan em acomodar todas estas novas texturas na base roqueira do Superchunk é perceptível ao longo do disco, dos sintetizadores que conduzem “Watery Hands” às cordas que imitam órgãos ao final de “European Medicine”, sem esquecer do vibraphone que aparece no refrão de “Martinis on the Roof”.

A mesma curiosidade dominou a banda ao entrarem no Electrical Audio junto de Jim O’Rourke. Ballance admite que o produtor os fez sair da zona de conforto, e por mais que notemos isso em “Pulled Muscle” e “Tiny Bombs”, o que O’Rourke fez mesmo foi tirar o melhor da sonoridade do Superchunk. A ambição experimental viria mesmo em Here’s to Shutting Up, um disco que soa como sua canção do cisne em diversos momentos e uma bem esquisita, inclusive. O flerte com o alt-country em “Phone Sex”, o pop orquestrado de “The Animal Has Left It's Shell” e “What Do You Look Forward To?” cheia de teclados Farfisa mostrava uma banda muito diferente daquela que outrora havia gravado “Slack Motherfucker”. Para McCaughan, o objetivo era “dar cabo das expectativas em relação ao Superchunk”, mas Ballance crê que “McCaughan, mais do que qualquer de nós, queria fazer coisas diferentes com outros instrumentos. Ele estava de saco cheio de fazer a mesma coisa."

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Playlist: “Watery Hands” / “European Medicine” / “Martinis on the Roof” / “Pulled Muscle” / “Tiny Bombs” / “Phone Sex” / “The Animal Has Left It's Shell” / “What Do You Look Forward To?”

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LADOS B

O Superchunk sempre teve material que ficava de fora dos álbuns: desde o início eles lançam compactos e particpam de coletâneas, além de reunir material para ser lançado como coletânea mesmo. A primeira delas, Tossing Seeds (Singles 89-91), saiu no mesmo ano que seu segundo disco, reunindo tudo que não saiu em seus dois primeiros álbuns, possivelmente melhor que seu disco de estreia, graças à músicas como “Seed Toss”, a incrível “My Noise” e seus covers do Sebadoh: “It's So Hard to Fall in Love” e “Brand New Love”.

De todas as bandas na trilha de Dois Malas Sem Alça, o Superchunk se destacava em meio a nomes como Coolio & the 40 Thevz, Collective Soul e Tom Jones. Por mais que alguns dos artistas tenham colaborado com covers meia-bomba, o Superchunk apareceu com uma música original chamada “Shallow End”, que poderia muito bem ser o single de um novo disco. Felizmente, foram espertos o bastante em reciclá-la para sua segunda coletânea Incidental Music 1991-95, lançada em 1995 e um bom quebra-galho entre Foolish e Here’s Where the Strings Come In. Com 19 faixas, a coletânea oferece uma série de grandes músicas do Superchunk que passaram batido, caso da revoltosa “Makeout Bench”, da fervilhante “On The Mouth” e seu excelente cover “100,000 Fireflies” do Magnetic Fields.

Passados oito anos, veio Cup of Sand, em 2003, com impressionantes 28 faixas. Há muito pra se ouvir ali, mas a coletânea delineia bem o período mais aventureiro da banda, com banjos em “1,000 Pounds (Duck Kee style)”, frequências bizarras em “The Length of Las Ramblas”, apresentando uma de suas melhores canções com “Does Your Hometown Care?” em meio à trilha cheia de bandas indies de subUrbia de Richard Linklater e apresentando uma de suas melhores composições no compacto Laughter Guns: “Her Royal Fisticuffs”.

Restam ainda outras faixas a serem compiladas, caso de singles como “February Punk” (de “Digging For Something”), “Sunset Arcade” (de “Me & You & Jackie Mittoo”), e a springsteeniana “Up Against The Wall” (de “I Got Cut”), além de singles como “This Summer” e “I Hate History”. Bicho, essa próxima coletânea vai ser foda.

Playlist: “Seed Toss” / “My Noise” / “Brand New Love” / “Shallow End” / “Makeout Bench” / “On The Mouth” / “100,000 Fireflies” / “1,000 Pounds (Duck Kee style)” / “The Length of Las Ramblas” / “Does Your Hometown Care?” / “Her Royal Fisticuffs” / “February Punk” / “Up Against The Wall” / “This Summer” / “I Hate History”

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