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Sexo

Trump deveria ter medo de Stormy Daniels

Em entrevista para a TV, a atriz e diretora pornô mostrou que conhece bem a imprensa e não parece intimidada em enfrentar o homem mais poderoso do mundo.
À esquerda, Stormy Daniels. Foto por Ethan Miller/Getty Images. O presidente Trump à direita. Foto por Mark Wilson/Getty Images.

Donald Trump já foi acusado de coisas bem piores do que a atriz e diretora pornô Stormy Daniels o está acusando agora. Outras mulheres, como Summer Zervos, ex-participante do programa televisivo O Aprendiz – que está processando o presidente americano por difamação –, disseram que ele as assediou e atacou, enquanto Daniels diz já ter feito sexo consensual com Trump uma vez.

A Organização Trump já se envolveu em negócios com sócios estrangeiros escusos e foi acusada de lucrar com a atual presidência, mas a suposta atividade ilegal no caso de Daniels é uma violação da lei financeira de campanha – isso se os US$ 130 mil que ela recebeu do advogado de Trump, Michael Cohen, logo antes da eleição de 2016 contarem como contribuição. E, claro, considerando que a noção de que a campanha de Trump estava em conluio com a Rússia ainda paira sobre a presidência, Daniels não está alegando nada tão sombrio quanto alguns teóricos da conspiração afirmam.

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Ainda assim, Stormy Daniels (cujo nome real é Stephanie Clifford) tornou-se a antagonista do presidente e as atenções estão voltadas para ela. Na noite de domingo, o programa jornalístico 60 Minutes, da CBS News, apresentou sua entrevista tão esperada, onde Daniels alega que não só teve um caso com Trump em 2006, mas que foi ameaçada por um homem num estacionamento depois de falar com um tabloide sobre o encontro em 2011. A ameaça, ela acrescentou, a fez aceitar o aparentemente modesto pagamento por seu silêncio nos últimos dias da campanha de 2016.

Claro, a base do apelo da história de Daniels é fofoca clássica de tabloide – semana passada, rumores de que ela teria fotos do pinto de Trump incendiaram a internet. A ideia de que o presidente americano transou com uma atriz pornô seria notícia – não importando quem fosse o presidente ou a atriz. Só que Daniels não é qualquer atriz pornô mas, como Trump, uma ótima vendedora. Até agora, nenhum dos muitos, muitos escândalos que surgiram chegou perto de ameaçar a vida política dele. Se o caso Daniels acabar sendo a gota d'água que transborda o copo do presidente, é porque Daniels provavelmente é melhor em manipular a mídia de massa que qualquer um que Trump encarou na política presidencial até agora.

Stormy Daniels, como documentado por um perfil recente no New York Times, ascendeu de um clube de strip-tease obscuro de Baton Rouge, capital do estado de Luisiana, para o topo da indústria pornô – não só como atriz, mas como diretora. Ela é muito respeitada por pessoas da indústria. “Stormy vai te comer vivo”, disse um ator que trabalhou com ela ao Daily Beast.

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“Isso não é o #MeToo”, ela falou ao jornalista Anderson Cooper. “Eu nunca disse que era uma vítima.”

Em 60 Minutes, Daniels disse que sua motivação para comentar sobre seu suposto caso e subsequente encobrimento foi deixar as coisas claras. “Eu não tinha problemas em não dizer nada, mas tenho um problema em ser chamada de mentirosa”, disse. Ela acrescentou que mesmo não realmente querendo ficar com Trump naquela vez em 2006 (afinal de contas, ele tinha 60 e ela tinha 27 na época), o encontro foi consensual. “Foi culpa minha tomar uma má decisão”, menciona, referindo-se a ir para o quarto de hotel dele depois de um evento de caridade de golfe. “Isso não é o #MeToo”, ela falou ao jornalista Anderson Cooper. “Eu nunca disse que era uma vítima.”

Apesar de Daniels ter negado que estava falando sobre o caso por fama ou dinheiro, ela admitiu lucrar, até um ponto, com sua nova proeminência. “As pessoas dizem 'Ah, você é uma oportunista. Você está tirando vantagem disso'. Sim, estou recebendo mais ofertas de trabalho agora”, declarou. “Mas quem recusaria uma proposta para ganhar mais do que estava ganhando, fazendo a mesma coisa que sempre fez?"

Foi uma admissão crua e realista que você imaginaria o próprio Trump fazendo – mas com menos simpatia, claro. E Daniels não fica atrás de Trump na hora de se gabar sobre dinheiro, chamando o pagamento de 130 mil dólares por seu silêncio de um “valor extremamente baixo”.

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Na maior parte, Daniels saiu da entrevista parecendo segura e inteiramente no controle, o que faz sentido para uma mulher que, desde que vazou a notícia do caso, já apareceu no Jimmy Kimmel (onde ela se esquivou divertidamente de perguntas sobre transar com Trump), embarcou numa turnê de strip-tease que rendeu inúmeras manchetes, e passou um tempo no Twitter zoando seus muitos detratores. O advogado dela, Michael Avenatti, tem sido tão ousado quanto ela, usando muito a hashtag #basta (“chega” em italiano) e insinuando que a dupla tem algum tipo de prova do caso, o que Trump nega.

“Isso é sobre eles tentarem encobrir essa história”, Avenatti declarou ao 60 Minutes. Ele também falou sobre a suposta ameaça de violência física feita a ela em 2011 por um homem misterioso em Las Vegas, e sobre a possibilidade de as declarações de Daniels sobre transar com Trump violarem o acordo confidencial, significando que ela poderia ter que pagar até 20 milhões de dólares por danos. “É comportamento de bandido de pessoas no poder. E isso não tem lugar na democracia americana”, Avenatti disse a Cooper.

(Avenatti e Daniels afirmam que o acordo confidencial nunca foi válido porque Trump não assinou. Eles também sugerem que as declarações que ela fez antes, negando ter feito sexo com Trump foram feitas essencialmente sob coação.)

muitas perguntas ainda pairando sobre o caso Daniels. Isso vai render uma batalha nos tribunais? Trump vai ser deposto ou obrigado a testemunhar? Aquele pagamento de 130 mil dólares conta como contribuição de campanha? A Comissão Eleitoral Federal se importa com essa história? Daniels foi ameaçada por um associado de Trump? (Essa última pode não ser tão improvável quanto parece.)

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O que não pode ser debatido é a experiência de Daniels – ela e Avenatti conseguiram fazer notícias reais com a acusação de ameaça (ah, e aquela coisa dela ter batido em Trump com uma revista). Eles também conseguiram ligar o escândalo a uma ideia maior de que Trump é corrupto. E Daniels praticamente desafiou Trump a atacar as afirmações dela como “fake news”, sabendo, sem dúvida, que um piti no Twitter sobre ela só bombaria seu perfil e amplificaria o assunto.

A cada passo, Daniels vem conseguindo gerar mais interesse em sua história e criar mais especulações sobre que tipo de prova ela tem, muitas vezes usando a mesma tática “fique ligado para saber mais” que Trump usou para manter a mídia correndo atrás dele na campanha presidencial.

Daniels, diferente dos outros, não se intimida com o fogo e a fúria de Trump.

Durante a campanha de 2016, os políticos que foram contra Trump pareciam sempre perder quando as coisas ficavam muito cruas ou absurdas – lembre-se, esse é um cara que falou sobre seu pinto durante um debate nas primárias. Outros detratores de Trump preferiram ficar longe dos holofotes, provavelmente porque não gostam desse tipo de publicidade (apesar da ex-modelo da Playboy Karen McDougal, que também disse ter tido um caso consensual com Trump e assinado um acordo confidencial, recentemente ter dado uma entrevista para a CNN).

Daniels, diferente dos outros, não se intimida com o fogo e a fúria de Trump. Mais que isso, ela parece não ter o menor medo de entrar numa briga pública com o homem mais poderoso do mundo. Na verdade, sua entrevista para o 60 Minutes rendeu o maior ibope do programa desde a entrevista de Barack Obama depois de sua primeira eleição em 2008. As acusações dela podem não derrubar o presidente, mas ela é uma das poucas pessoas no planeta que podem fazer Trump perder as estribeiras.

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