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A internet pagou a fiança do supremacista branco Chris Cantwell

Cantwell foi figura central nas manifestações da extrema-direita em Charlottesville. Ele pode pegar de cinco a 20 anos de prisão caso seja condenado.

Matéria originalmente publicada na VICE News.

Um júri nos EUA indiciou Christopher Cantwell no começo de dezembro por seu papel numa marcha à luz de tochas no campus da Universidade da Virgínia em agosto, a noite antes da manifestação supremacista branca “Unite the Rigth” em Charlottesville, que noticiamos aqui.

A acusação contra Cantwell é de usar gás lacrimogêneo. Um juiz estabeleceu, então, a fiança em US$ 25 mil. Cantwell, 37 anos, teve apoio de outros supremacistas brancos. Nacionalistas brancos, supremacistas brancos e neonazis de todos os tipos se organizaram na internet em torno de um financiamento coletivo capaz de juntar dinheiro para pagar fianças de seus aliados e organizar manifestações.

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A VICE entrou em contato com Cantwell no último sábado (9), um dia depois que ele foi solto. Cantwell ganhou o apelido de “nazi chorão” depois de postar um vídeo em que aparece entre lágrimas ao ser indiciado. Desde então, segundo ele, seu movimento conseguiu levantar mais de US$40 mil para o processo legal ligado aos eventos violentos em Charlottesville, onde ele teria dado uma palestra.

Há links no site de Cantwell para páginas de financiamento do Hatreon e GoyFundMe, e ele também convida as pessoas a mandar dinheiro para ele usando bitcoin. Sua lista no Hatreon conta com 43 contribuintes que levantaram por volta de US$500 por mês especialmente para ele, apesar de a plataforma conter uma mensagem de que passa por manutenção e não está recebendo doações no momento. E o GoyFundMe tem uma página chamada “Fundo da Justiça 1433”, que levantou US$29.628 arrecadados de 453 pessoas.

O número “1433” é associado a “nacional capitalismo” ou “anarco capitalismo com tendência nacionalista branca”, segundo várias postagens online que também descrevem Cantwell como um defensor importante dessa filosofia. Esses posts também apontam que “14” é uma referência a um slogan popular entre supremacistas brancos, enquanto “33” vale por “CC”, ou Chris Cantwell.

As condições da fiança de Cantwell são severas. Ele está em prisão domiciliar num local secreto na Virgínia. Ele precisa usar uma tornozeleira e está proibido de lidar com armas de fogo.

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“Não posso nem tirar a porcaria do lixo”, ele disse.

O morador de New Hampshire disse que teve muito tempo para pensar no seu “ativismo” enquanto estava preso. Agora que está solto, ele se sente especialmente motivado, e vê a “esquerda” como uma ameaça ao seu estilo de vida.

“Quero subir o volume para 11”, disse Cantwell. “Na minha observação da paisagem política, a esquerda está sempre dobrando. E a razão para a direita estar perdendo é porque fazemos exatamente o oposto.”

Ele também disse que agora tem acesso à internet pela primeira vez desde o final de agosto, e planeja revisar as filmagens da marcha Unite the Right.

As atividades de financiamento coletivo de nacionalistas brancos estão sob escrutínio pesado depois do acontecido em Charlottesville, e em resposta, empresas de crowdfunding como GoFundMe, Patreon e Kickstarter bloquearam eventos de financiamento de causas nacionalistas brancas.

Empresas que fornecem transferência de dinheiro online como PayPal e ApplePay também estão trabalhando para cortar laços com supremacistas depois de Charlottesville, quando o Southern Poverty Law Center divulgou um relatório dizendo que o PayPal foi “fundamental para levantar o dinheiro para orquestrar o evento”. O SPLC também apontou que figuras-chave do movimento supremacista branco tiveram permissão para utilizar os serviços do PayPal antes de Charlottesville, apesar da Política de Uso da empresa proibir explicitamente “a promoção de ódio, violência, [e] intolerância racial”.

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Mas a chamada “comunidade alt-tech” trabalhou rápido para forjar suas próprias plataformas de financiamento coletivo fora do mainstream.

Sites como o Hatreon e GoyFundMe — “goy” sendo uma palavra do hebreu que quer dizer “não-judeu” — emergiram para lutar pelo que a alt-right vê como censura online e proteger a liberdade de expressão.

“O novo tipo de financiamento mais significativo para o movimentos supremacista branco é o crowdfunding ou crowdsourcing”, apontou um relatório recente da Liga Antidifamação. “Supremacistas quase sempre adotam novas tecnologias para transferir dinheiro, do crowdfunding ao bitcoin.”

Cantwell diz que é muito grato pelo “apoio carinhoso” que recebeu online, mas que não é o único a se beneficiar da rede de financiamento coletivo.

Tony Hovater, um fundador do Partido Tradicionalista dos Trabalhadores, perdeu o emprego depois que teve seu perfil publicado pelo New York Times. Segundo uma página no GoyFundMe, mais de 200 pessoas doaram cerca de US$8.500 para Hovater e sua esposa. Outra página levantou mais de US$3 mil para a defesa legal do organizador do Unite the Right Jason Kessler. Kessler foi indiciado em outubro por perjúrio, uma acusação que pode render no máximo 10 anos de prisão.

O surgimento de plataformas de financiamento coletivo online é um desenvolvimento problemático segundo observadores da extrema-direita. No passado, falta de financiamento era um obstáculo para grupos supremacistas brancos, que muitas vezes estavam bloqueados de levantar e transferir dinheiro através de meios tradicionais. Mas com o financiamento coletivo, isso não é mais um problema tão grande para a extrema-direita. “Isso levanta a possibilidade perturbadora de que supremacistas brancos se tornem mais bem financiados no futuro”, diz o relatório da LAD.

Cantwell pode pegar de cinco a 20 anos de prisão, se condenado, e ter que pagar uma multa de mais de US$100 mil. Sua primeira audiência está marcada para 31 de janeiro, e o julgamento para 12 de fevereiro.

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