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Tecnologia

Como a NASA Está Democratizando a Missão para Controlar um Asteroide

A NASA está criando um movimento para devolver a cultura espacial ao povo.
Créditos: NASA

Quando o filme Gravidade ganhou diversas estatuetas na cerimônia do Oscar do ano passado, nenhuma pessoa que subiu ao palco se deu ao trabalho de agradecer os astronautas da vida real, que passeiam de fato na Estação Espacial Internacional. Foi um mero sintoma de uma tendência cultural maior – quando se trata de ciência espacial de fato, a cultura mainstream americana se mostra bem apática. Então o que a NASA pode fazer para nos animar? Eles têm algumas ideias, e começaram a promover esforços para trazer o poder espacial de volta ao povo.

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Ciente de uma "lacuna democrática" entre pessoas comuns e mais uma agência governamental, a NASA, sob a liderança do tecnólogo-chefe Jason Kessler, está revitalizando sua abordagem do que podemos chamar de "ciência cidadã". Fóruns públicos contemporâneos (tanto online quanto da vida real) têm focado, em primeiro lugar, na Iniciativa Asteroide da NASA, um projeto em curso para controlar um NEA (acrônimo para a expressão inglesa "Near Earth Asteroid", isto é, "Asteroide Próximo da Terra") perto da nossa órbita, numa tentativa de aprender mais sobre os corpos rochosos e reforçar a proteção planetária.

No ano passado, em outubro, numa apresentação pública, Kessler falou dos objetivos da Iniciativa Asteroide, contando que era algo "maior do que a capacidade da NASA de trabalhar por conta própria", e enfatizou a necessidade da NASA de "se engajar com comunidades, com quem normalmente não conversa".

Um exemplo específico que Kessler citou foi quando glaciologistas avançaram em pesquisas sobre matéria escura, tema relevante ao estudo de asteroides. Alguém que sabe bastante sobre geleiras aconselhando a NASA sobre asteroides talvez soe como um especialista em queijos ajudando a guiar os astronautas das missões Apollo à Lua. Mas, agora, a NASA não enxerga a colaboração assim. Se um especialista em queijos por acaso souber algo sobre a Lua ou asteroides, a NASA está disposta a escutar.

o fato da NASA querer consultar amadores e pagá-los é significativo, e talvez sem precedentes

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Estava na hora. Numa extensa pesquisa conduzida pela NASA em 2007, foi que 50 por cento das pessoas ouviram falar da NASA nos noticiários principalmente por conta do escândalo infame do triângulo amoroso. Outros 22 por cento disseram que sabiam "informações gerais sobre missões", enquanto 7 por cento usaram a palavra "problemas". E embora o robô Curiosity tenha deixado bastante gente empolgada em 2012, uma grande quantidade de notícias pareceu focar no moicano estelar do diretor de vôo Bobak Ferdowsi.

Então, será que a NASA deveria começar a focar em cortes de cabelo para ganhar apoio popular? Em outras palavras, se ninguém se importa com a NASA, mas a agência cumpre suas tarefas, será que o problema é nossa apatia?

Historicamente, parece haver uma correlação entre uma esperança geral e um programa espacial saudável. Um documento de pesquisa de 1986, da NSS (aberviação inglesa para a Sociedade Espacial dos Estados Unidos), oferece uma amostra bem difernete da postura popular frente a viagens espaciais, em oposição ao que sentimos hoje. Numa espécie de assembleia, astrônomos exprimiram otimismo para alcançar uma unidade global através de viagens espaciais, e o prospecto de "homens e mulheres livres pisando em Marte em 2010". Ultimamente, esse tipo de otimismo em larga escala encontra-se, em maior parte, no setor privado.

NASA

Qualquer um poderia argumentar que a ficção científica exerce um papel importante no envio de pessoas ao espaço, e que 1986 foi um tapa na cara da velha guarda de Star Trek, quando a ficção científica era mais sobre a exploração do espaço do que batalhas contra vilões. Mas não podemos culpar os filmes atuais de Star Trek, mais bobos, pela apatia espacial, ao menos não só eles. E a NASA concorda. É por isso que estão se abrindo de uma maneira que nunca tentaram antes.

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Se os primeiros fóruns públicos sobre o controle do asteroide podem ser considerados um aquecimento, a NASA está mudando para valer, literalmente praticando o que prega aos céus. Semana passada, pouco antes do Dia do Trabalho nos Estados Unidos, a NASA anunciou uma colaboração com a organização não governamental ECAST (abreviação inglesa para Avaliação Especialista e Cidadã de Ciência e Tecnologia). Para ser justo, de relance, esses tipos de fóruns públicos não parecem novidade, mas a NASA e a ECAST nunca uniram esforços oficialmente assim.

Se a NASA e a ECAST fossem crianças da mesma fileira que você na sala da 4ª série e lhe passassem um bilhete com a pergunta "Você gosta de asteroides? Marque 'sim' ou 'não'", o que você diria? É que é justamente isso que estão fazendo agora em relação à Iniciativa Asteroide. Haverá duas conferências, uma em Phoenix, dia 8 de novembro, outra em Boston, dia 15 de novembro.

Não são eventos para pessoas aleatórias subirem no palco. Em vez disso, há um processo de inscrição envolvido, e quem for aprovado receberá um pagamento. Será que existe uma versão Walter White da NASA, trabalhando como escravo em salas de aula, com uma ótima ideia para pegar asteróides? Se existir, as duas conferências serão sua chance de mudar a exploração espacial. Claro, são apenas 100 dólares, mas só o fato da NASA querer consultar "amadores" e pagá-los já é siginficativo, e talvez sem precedentes.

Conforme o release da NASA e ECAST diz, isto "Soa como material próprio para gênios da astronomia. Mas você não gostaria de fazer parte da discussão?" Se ficarmos empolgados com o espaço de novo, de uma forma que não dependa de moicanos ou Star Trek (ambos são maravilhosos, diga-se de passagem), então o caminho certo provavelmente será trilhado pela NASA e por pessoas comuns também.

Tradução: Stephanie Fernandes