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É a Choque!

Na semana passada, a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro convocou alguns jornalistas para acompanhar uma demonstração do “Curso de Controle de Distúrbios Civis”.

Na semana passada, a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro convocou alguns jornalistas, a maioria da imprensa internacional, para acompanhar na sede do Batalhão de Polícia de Choque da PMERJ, em uma demonstração do “Curso de Controle de Distúrbios Civis”, fruto de um convênio da Subsecretaria de Educação, Valorização e Prevenção da Seseg com a embaixada dos EUA. Agentes do FBI, do Departamento de Polícia de Los Angeles e o Departamento de Polícia de Chicago ministram um curso de cinco dias para 40 alunos, sendo 27 da Choque e os demais policiais civis da CORE, guardas municipais e bombeiros.

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O Regimento Marechal Caetano de Farias é um dos quartéis mais antigos da bicentenária PM carioca, localizado no bairro do Estácio, a poucos metros da Praça da Apoteose, a imponente construção foi inaugurada em 1913 como sede do Regimento de cavalaria, o 5º Batalhão de Infantaria e o corpo de serviços auxiliares.

Em 1808, a corte e Família Real Portuguesa chegaram ao país, fugindo das invasões Napoleônicas, para defender seus interesses. No ano seguinte, o Príncipe Regente D. João VI criou a Divisão Militar da Guarda Real da Polícia da Corte, a primeira polícia militar do país. Até tornar-se a PMERJ, essa corporação foi rebatizada várias vezes e teve envolvimento em vários episódios chave da história do país, como a Independência, a Proclamação a República, o Estado Novo, o Golpe de 64 e até a Guerra do Paraguai. Não é de ser surpreender, então, que há menos de um mês do maior evento esportivo do mundo, sob eminência de protestos e confusões, a maior potência militar do mundo esteja trocando figurinhas com nossa tropa de choque.

Uma vez lá, a imprensa foi direcionada ao Salão Nobre, adornado por pinturas a óleo que retratavam senhores de patente alta e bigode grosso com suas fardas e espadas. Sob a guarda de um policial de armadura e escudo completo, uma mesa exibia toda a variedade de armamento pouco letal, de fabricação fluminense, à disposição do batalhão. Os alunos do curso se enfileiravam do lado esquerdo, enquanto os gringos e o comandante da choque ocupavam o lado direito.

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O Tenente Coronel André Luiz Vidal, comandante da choque começou a cerimônia pedindo desculpas, uma vez que sob a eminência de uma manifestação, grande parte do efetivo estaria voltado para esta, o que acabou deixando a demonstração a desejar. Era o dia 15 de maio, e uma galera em todo o país saiu às ruas para reclamar da Copa do Mundo, no Rio de Janeiro, a situação era agravada pela greve dos rodoviários e dos professores, mas sobre isso a gente vai falar mais adiante.

“É sabido que nos Estados Unidos já ocorreram Olimpíadas e Copa do Mundo, e essa troca de experiências é fundamental para a gente aumentar e melhorar essa nossa expertise. O importante é saber que todas as forças de segurança estão se preparando para esse grande evento, que é um orgulho para o Brasil.” Após esse papo reto, o comandante convidou a imprensa para assistir à demonstração no pátio principal.

Eu já tinha visto esses brinquedos expostos numa vitrine na feira de armas LAAD, num contexto totalmente publicitário. No entanto, ver os lances na mesa num contexto Imperial foi uma onda totalmente diferente.

Eu tenho um amigo viciado em telejornais policiais vespertinos que dizia que, numa cena de apreensão, sempre tinha alguém trajando Ecko.

Na demonstração, um soldado fazendo as vezes de manifestante provoca a tropa que avança devagar na formação de tartaruga (déjà vu do Império Romano, tipo Asterix, tá ligado?).

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Cansado de xingar os homens de camuflagem cinza, o manifestante se desespera e arremessa primeiro sua camiseta e, por fim, seus tênis sobre a tropa. Frente a esse ultraje, não demorou para a tropa cercar, imobilizar e rebocar o meliante.

Aí a tropa arremessou umas bombas de gás que ficaram bonitonas na foto e parou por aí. Para quem tava esperando tipo uma super técnica para lidar com molotovs ou rojões, aquilo foi uma tremenda decepção. Então, o vento virou e a fumaça foi toda pra cima de uns fotógrafos coxinhas que passaram mal geral.

O Comandante reuniu e deu mais umas declarações à la “Existe no Brasil o direito de manifestação, então nós temos de agir contra as pessoas que infringirem a lei, essas pessoas que infringirem a lei, serão presas!”. Era pra rolar mais uns depoimentos mas aí um helicóptero pousou, e em seguida começou uma demonstração do Grupamento Tático de Motociclistas. O barulho era tanto que eu desencanei de prestar atenção no blá blá blá e aproveitei a ocasião pra dar um rolé no quartel centenário.

Ao mesmo tempo em que eu nunca imaginei estar dentro de um quartel da PM, muito menos da Choque, as semelhanças com a também centenária escola católica que frequentei em alguns tenros anos de minha adolescência me deixaram bem à vontade em dar o rolé. A arquitetura e o clima eram bem parecidos, e fiquei com dúvida de que, se esses caras me reconhecessem como “aquele cara folgado da VICE”, suas reações podiam ir do muito ódio às muitas selfies. Eu sei lá!

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Quando eles construíram este regimento, ali era para ser ser os estábulos, e os cavaleiros eram tipo a tropa de elite da época. Hoje, eles não tem mais cavalos, mas tem o caveirão.

Como em qualquer outra base militar do mundo, frases de incentivo como essas ilustram algumas paredes.

Então o pessoal da Seseg começou a convidar a imprensa a se retirar, tipo, “a excursão acabou galera!”. Antes que passassem o rodo geral, eu ainda consegui clicar esse painel, que dentre mais frases de incentivo mostravam um breve clipping da Choque, incluindo uma curiosa foto de uma manifestante sendo detida.

De lá, segui meu caminho a pé até a Central do Brasil, onde a manifestação contra a Copa estava marcada dali a uma hora. Naquele momento, havia poucos manifestantes, um tanto de jornalistas e muito mais policiais. Ainda assim, o Tatudoerrado, mascote do #nãovaitercopa, já estava lá.

A manifestação reuniu uma boa fauna de indignados, dos professores grevistas ao Black Bloc, passando pelo Batman de Marechal Hermes, o Batman pobre, o cara da camisa do Brasil e outros personagens dos protestos.

O grande momento fotográfico foi quando queimaram uns álbuns de figurinhas da Copa.

A Tropa de Choque acompanhou o protesto mantendo distância a maior parte do tempo. Quando a marcha chegou ao prédio da Prefeitura do Rio, houve um pouco de spray de pimenta no ar, mas nada suficiente pra chapar ninguém. Após alguns minutos em frente à prefeitura manifestantes voltaram à Central pela contramão, tentaram realizar um catracaço na estação mas acabaram se dissipando sem confronto. Nesse rolé, as melhores fotos que eu consegui foram dos pesados relógios de pulso destes PMs. Tipo Polícia Ostentação.

Até o próximo capítulo.