A Primeira Escola Estadual Ocupada Fica em Diadema
Foto: Felipe Larozza

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Educação Ocupada

A Primeira Escola Estadual Ocupada Fica em Diadema

Na quebrada, policiais entraram de metralhadoras em punho no pátio da escola estadual.

A viela de uma grande avenida do centro esconde a Escola Estadual Diadema, primeiro colégio a ser ocupado por alunos contrários à reestruturação proposta pelo Governo do Estado. Do lado de fora do portão trancado, alguns jornalistas estavam posicionados esperando algo acontecer. Na internet, circulavam boatos de que a PM havia cercado o prédio como em Pinheiros, na Escola Estadual Fernão Dias – o que não aconteceu. Aqui, diferentemente da EE do centro expandido, policiais entraram no pátio interno da escola segurando metralhadoras na noite de quarta-feira, dia 11/11. Ao chegar, um dos dois policiais que vieram se juntar ao grupo já dentro da EE disse: "A gente não veio matar ninguém , pode deixar a gente entrar".

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Foto: Felipe Larozza/VICE

Em pouco tempo, os alunos saíram para tirar uma foto na frente da escola, sorrindo e brincando antes da pose – e dando uma boa zoada com os que ficaram tímidos. Até que alguém chegou com os instrumentos e a imagem foi eternizada. Depois de ser o fotógrafo da turma fui convidado a conhecer a ocupação. Duas senhoras guardavam a porta e não foi difícil entrar junto com o bolo de jovens que carregavam a percussão e me escondiam embaixo de uma blusa do uniforme.

Foto: Felipe Larozza/VICE

A proposta de reestruturação para a escola de Diadema é o fechamento do Ensino Médio noturno e transferência dos alunos para outra escola. A alegação, segundo os estudantes, é ociosidade. Sem muita explicação, existem quatro salas fechadas no período. O prédio da escola já abrigou o CEFAM, Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério; por isso, tem salas menores.

"Um dia eu cheguei à escola e recebi a noticia de que o Ensino Médio seria fechado. Eu comecei a chorar", contou Fernanda, de 17 anos, aluna do segundo ano do ensino médio e uma das porta-vozes do grupo. "Entrei no ano passado aqui. Eu estudava em uma escola péssima. Na mesma hora pensei: 'Não vou sair'."

A insatisfação da estudante se juntou com a de outros alunos, que iniciaram a organização de protestos e uma página no Facebook, Diadema Contra A DESorganização Escolar, uma espécie de diário.

Alunos da E.E. Diadema na Câmara dos Vereadores. Foto: Reprodução Facebook/Diadema Contra A DESorganização Escolar.

Tudo isso rendeu um acordo com a diretoria de ensino, garantindo que os alunos que já haviam iniciado o Ensino Médio poderiam concluir a etapa sem mudar de escola e um documento assinado pelos vereadores que se colocaram contrários à reestruturação. A proposta foi insuficiente para a galera, que decidiu tomar uma medida diferente: ocupar o prédio. "A nossa proposta é o não fechamento do Ensino Médio e não o fechamento gradativo. Pensamos: 'Quem são os alunos que têm mais perfil de liderança e que os pais são mais compreensivos e entenderiam?'.", explica Fernanda. "Reunimos 20 alunos no início e fizemos uma pergunta simples: 'Vamos lutar pelo CEFAM?'. Todos toparam."

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Foto: Felipe Larozza/VICE

Uma cartilha escrita por alunos secundaristas da Argentina e do Chile explicando como ocupar um colégio chegou até os secundaristas brasileiros através de uma publicação no site Mal-Educado. Reuniões fora da escola formaram a organização necessária e, de forma autônoma, os alunos iniciaram o ato. "Eu não faço parte do grêmio, sou só uma aluna inconformada que se juntou com outros alunos inconformados", resume a estudante. "Antes da ocupação, a direção do colégio já estava ligando para os pais e pedindo para que eles matriculassem seus filhos na outra escola. Quando ficamos sabendo disso, adiantamos tudo. A ideia era ocupar no dia 14, quando o Estado vai anunciar oficialmente os dados da reestruturação."

Foto: Felipe Larozza/VICE

O plano era entrar no horário de funcionamento do colégio, cancelar as aulas e começar a ocupação. Foi isso que rolou. "Todo mundo ficou chocado. Começou um escarcéu e chamaram a diretora", acrescenta Fernanda.

Nos dias normais, a diretora não fica na escola no período noturno e, ainda por cima, estava de férias. Ela veio até a escola para ouvir: "Não tem papo, estamos apenas comunicando que queremos proteger nosso Ensino Médio e por isso ocupamos o CEFAM".

Todos os alunos que estão na ocupação até hoje têm autorização dos pais para permanecer e dormir lá. Tudo por escrito.

Foto: Felipe Larozza/VICE

Desde segunda feira (9), o refeitório do CEFAM permanece ocupado por barracas de acampamento, colchões infláveis, uma cozinha improvisada e uma caixa de som que dá o clima de moradia provisória desses jovens.

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Lanches de presunto e queijo são servidos de tarde, acompanhado de refrigerante – a escolha do freguês. Tem almoço, água e pessoas indo e vindo naquele pequeno espaço.

Foto: Felipe Larozza/VICE

A APEOESP, Sindicato dos Professores Oficiais do Estado de São Paulo, e a Associação Oeste de Moradores apoiam fornecendo barracas, comida, carro de som e transporte quando necessário.

De vez em quando, um dos garotos coloca uma música nova que tira gritos de quem gosta do som e arranca passos de dança de quem quer passar o tempo. De vez em quando, rola um truco. Um projetor serve de cinema na parede e a meninada está programando colar com um videogame por lá.

Foto: Felipe Larozza/VICE

As aulas continuam normalmente na escola. Os portões, apesar de controlados por funcionários da escola, continuam abertos. Os que não se sentem confortáveis em aderir ao movimento continuam com a rotina normal.

Foto: Felipe Larozza/VICE

Tudo vai bem por lá. No final do dia que estive na escola, representantes do CEFAM partiram em direção ao colégio Estadual Adonias Filho para conversar com alunos que estão pensando em repetir o ato.

A conversa não foi nada fácil. Os estudantes do Centro de Diadema tiveram dificuldades para serem aceitos entre os alunos da periferia. Muitos se reuniram em frente ao Adonias, mas apenas alguns ficaram até o final para o debate.

Foto: Felipe Larozza/VICE

As ocupações de escolas continuam crescendo a cada dia. Atualmente, sete delas estão ocupadas no Estado de São Paulo.

"Queremos apenas que o nosso Ensino Médio não seja fechado", conclui Fernanda, que pretende se formar em Jornalismo ou Publicidade quando terminar o colegial (sabe-se lá onde).

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