Histórias de pessoas que têm animais de estimação pouco convencionais

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Histórias de pessoas que têm animais de estimação pouco convencionais

Galos, pombos, ratos de laboratório, pombas e uma simpática porquinha são alguns dos bichos adotados por gente preocupada com o bem-estar dos animais.

Uma figura atípica onde quase nada é estranho, Stalone manteve um olhar estoico, por mais de nove meses, de dentro da Associação Natureza em Forma em direção ao centrão de São Paulo. Numa gaiola que não chegava a ter dois metros quadrados colocada junto à vitrine da ONG que se presta a cuidar e fazer a ponte com quem deseja adotar animais, o Gallus gallus domesticos , um galo de fazenda, daqueles que canta cedinho na madruga boladona, esperava ansioso sua vez de ganhar um novo lar. Enquanto cachorros, gatos, porquinhos da índia, chinchilas, coelhos e pombas iam e vinham (com periodicidades bem distintas), Stalone se alternava entre fazer pose de galã e divertir uma meninada que aparecia por ali.

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Stalone enquanto ainda esperava pela adoção. Foto: Caio Porto/VICE

Na primeira semana de outubro, porém, ele se mudou junto com outro galo, o Tomate, para a casa onde Fernanda Machado e sua companheira moram em Piracicaba, no interior de São Paulo. Donas de nove cães e três gatos, o casal decidiu recondicionar um espaço grande que tinham em uma espécie de viveiro para galinhas, galos e por aí vai. Os bichos tiraram a sorte grande: cada um ficou numa área de cerca de 150 metros quadrados, separadas por uma cerca, e já deu tempo de se amigarem com a galinhada. Também ganharam sobrenomes, Stalone Balboa e Tomate Rocky. "Rolou uma química forte e eles já são da família, agora estamos tentando acostuma-los a conviver um com o outro", conta Fernanda.

"A consciência em torno do cuidado com os animais está crescendo e com isso as preferências de animais de estimação tem se diversificado." — Lito Fernandez

A animosidade tem explicação. Ainda que o fim da história seja feliz, o começo é bem triste. Tanto Stalone quanto Tomate vieram de um grupo de 70 galos apreendidos pela Polícia Ambiental numa rinha em São Paulo, ou seja, eles foram criados para brigar entre si. Da época, Stalone traz como cicatrizes uns buracos entre as penas e o olho esquerdo morto. Antes de serem postos para adoção, os animais passaram por tratamento VIP para acalmar os ânimos, com direito a acupuntura e reiki.

"A consciência em torno do cuidado com os animais está crescendo, é só ver o número de aumento [do número] de vegetarianos, e com isso as preferências de animais de estimação tem se diversificado", conta Lito Fernandez, biólogo e fundador da Natureza em Forma. "Claro, cada animal precisa de um local que supra suas necessidades e mais alguns detalhes. Para ter um galo, por exemplo, é preciso ser vegetariano" diz ele.

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Em nome do já comemorado Dia Internacional dos Animais, fomos atrás de outras pessoas que adotaram bichinhos inusitados. Se liga.

Do laboratório para casa

Érika e um dos twisters que adotou. Foto: Caio Porto/VICE

Dona de uma lanchonete na Vila Matilde, zona leste de São Paulo, Érika Souza já havia criado camundongos, coelhos e iguanas quando decidiu criar dois ratinhos twisters no começo de maio. Depois de ver os bichos, chamados Jefferson e Obama, na internet, foi até a sede da Natureza em Forma para adotá-los, mas tomou um susto. "Eu levei uma gaiola bem pequenininha, mas eles são grandões! Tive que prometer para a menina que colocaria num espaço maior quando chegasse em casa", conta ela. No caminho, o primeiro contratempo, Jefferson mordeu o dedo do sobrinho de Érika no carro. Logo que chegou em casa, o segundo: o mesmo ratinho, rebatizado Barack, mordeu o dedo da mãe dela, Silvana. (A título de informação: Barak também tentou morder o MEU dedo.)

Barack ou Obama camuflado. Foto: Caio Porto/VICE

Ainda assim, os dois twisters se deram bem na casa (e com a família) da Érika. Dormem numa gaiola antes usada por uma calopsita no quarto dela e acordam cedinho ansiosos pelo café da manhã de frutas e biscoito maizena. Na hora do relax, deitam com a dona na cama. Quando vacilam, levam umas broncas piores do as que minha mãe dava em mim. Assim como no caso dos galos, a vida pregressa dos twisters é triste: eles são os famosos ratos de laboratório — o Barack não tem três dedinhos em uma das patas e o rabo dele é detonado. "Não sei exatamente pelo que passaram antes, mas estão bem melhor aqui", diz Érika.

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O refúgio dos animais

Clelia e o Jorge, um dos seus bichos de estimação. Foto: Caio Porto/VICE

Quem vê a casa de Clelia Angelon do lado de fora, nem imagina o refúgio animal que há lá dentro. Sócia de uma empresa de cosméticos orgânicos e veganos, Clelia tem nove cachorros, um galo, meia dúzia de galinhas, um casal de pombos, quatro porquinhos da índia, duas chinchilas, dois coelhos, um ratinho, dois canários australianos e, ufa, um canadense num imóvel localizado no bairro paulistano da Vila Madelena.

Os pombos que não têm nome ficam num espaço fechado junto ao canteiro do galo e das galinhas. Foram resgatados machucados e não têm condições de voltar à vida loka nas ruas da cidade, então vivem ali. "Uma vez tirei um deles para levar ao veterinário e o outro ficou louquinho sozinho, procurando [o amigo], ainda bem que voltou no mesmo dia", conta Clelia. O galo Jorge, por sua vez, nasceu e cresceu ali, acompahado das fêmeas batizadas em homenagem à família da empresária (inclusive ela própria) e sua entourage.

Um dos pombinhos que foi resgatado com machucados. Foto: Caio Porto/VICE

Já no viveiro onde ficam os demais animais, o que manda é a desconfiança. Um tanto dispostos a se aproximar de Clelia, os roedores somem ao sinal de qualquer estranho — problema maior é o canário canadense, uma fêmea, que fica dando rasantes nos bichinhos. "Para mim é uma delícia conviver com eles. Eu sempre paro nos domingos para descansar e venho um pouco aqui. Acaba que a gente aprende muito com os animais, em relação ao comportamento e afeto", diz ela.

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A porquinha da Aclimação

Juliana passeia com a porquinha Bisteca e a dog Mary Jane. Foto: Caio Porto/VICE

Bisteca é um capítulo à parte nessa história. Ao contrário dos twister e das pombas, a porquinha não foi adotada, mas comprada pela publicitária Juliana Akemi. "Eu e meu namorado queríamos uma companhia para nossa cachorra, a Mary Jane, e decidimos fugir da ideia inicial de outro cão ou um gato", conta. No parque paulistano da Aclimação, onde a porca é habitué, ela desfila como uma semicelebridade.

Apesar do aspecto que pode parecer agressivo à primeira vista — os pelos ouriçados, por exemplo —, Bisteca (Bibi para os chegados) é um amor. Ela chega na manha, olha para você com olho de gente e se joga de barriga para cima pedindo um carinho. Ainda assim, Juliana, que é vegana, ouve uns absurdos na rua do tipo 'tá criando para comer, é?'. "Ou então perguntam o que vamos fazer depois com ela. Como assim 'fazer depois'? Eu vou cuidar para sempre, ué", diz.

Um close na Bisteca. Foto: Caio Porto/VICE

Vale lembrar que o Stalone e o Tomate estão numa boa agora, mas ainda há cerca de 20 galos da mesma apreensão esperando para serem adotados na Natureza em Forma — além de outros tantos bichos convencionais ou nem tanto. Quem sabe você não se anima.

Mais fotos do Caio Porto aqui.

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