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Spike Jonze: Agora, isso é apenas o primeiro milímetro de uma mídia totalmente nova. Não é o que queremos que ela seja - é sobre as possibilidades.
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Milk: Há uma pureza de estar naquele momento que não é atrapalhada por todas as coisas que vêm com a realidade. Você pode existir ali sem nenhum ego. Pode ver todas as nuances e respirar toda emoção. Outro dia, mostrei o filme para pessoas que estavam no protesto [contra a brutalidade policial], que acharam isso bastante poderoso, mas não choraram. Depois, elas assistiram à versão em realidade virtual e saíram chorando muito.
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Jonze: Sim, claro. Cem anos atrás, o cinema era uma tecnologia nova, e a linguagem do filme tem sido inventada e reinventada incontáveis vezes, e regras são criadas e quebradas infinitamente. Quando estávamos editando essas matérias da VICE, estávamos inventando regras e brincando que, em cinco anos, ou um ano, toda regra que inventamos vai ser quebrada e reinventada. Então, sim: narrativa, arte, animação, documentário, qualquer coisa. Você sabe que isso vai ser usado para pornô. Provavelmente, é aí que a tecnologia vai avançar mais, porque há muito dinheiro na indústria.
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Jonze: É. Havia essa ideia de vídeo na internet, e levou um tempo para isso se tornar o que é o YouTube hoje. Tipo uns seis anos. Espero que não leve tanto tempo com a RV, que todo mundo tenha uma câmera 360º e possa filmar e postar coisas. Imagine o Vimeo e o YouTube com realidade virtual.Milk: Isso. Aí você tem histórias que podemos contar. Você tem intimidade com um tema. E as pessoas estão se abrindo, porque são as autoras disso. E também [podem] apenas registrar momentos e vivê-los de novo. Eu tive essa experiência quando estávamos fazendo testes alguns meses atrás: num dos testes, eu estava com a minha agora ex-namorada, e estávamos de mãos dadas e sendo felizes juntos. Aí terminamos alguns meses depois, e essa filmagem foi costurada junto. Eu coloquei o headset, e foi como se eu tivesse sido transportado por uma máquina do tempo e estivesse ali de novo com a minha ex-namorada. E todos aqueles sentimentos voltaram. Não foi como olhar uma foto ou um vídeo. Eu estava ali de novo, experimentando isso como um fantasma viajante do tempo.Como vocês se sentem sobre os outros grupos que estão começando a investir mais em realidade virtual agora?
Milk: Há, definitivamente, uma corrida do ouro da RV no momento. É incrível. A comunidade precisa de estímulo para criar trabalho. Meu único medo é que muita gente faça coisas não muito boas. O que você precisa é de um conteúdo muito bom para atrair o público. Quero que todo mundo faça coisas ótimas. Vamos produzir filmes em RV com diferentes roteiristas, diretores e produtores, mas também há um esforço maior para expandir a linguagem da narrativa em RV, experimentar e publicar os resultados. Se você também quer fazer RV, queremos te ajudar. Há um aplicativo da VRSE para distribuir conteúdo em RV: VRSE.works, onde fazemos conteúdo, e VRSE.farm, nossa incubadora de conteúdo em RV com a Megan [Elison], onde cultivamos o conteúdo e a linguagem.Jonze: É um laboratório para explorar o que o meio poderia ser em diferentes áreas.Milk: Tudo que aprendemos a respeito disso deveria ser compartilhado abertamente. Se eu descobrir uma maneira atraente de fazer uma cena num carro entre duas pessoas, eu deveria compartilhar o que aprendemos sobre a linguagem com todo mundo, porque isso ajuda a todos nós. Quanto mais as pessoas fizerem conteúdo bom e atraente em realidade virtual, mais isso ajuda a comunidade. Não há limite para quanto conteúdo bom podemos ter. Nunca atingimos um ponto de saturação em qualquer outro meio, no qual simplesmente haja muita coisa boa para continuar. Ninguém diz: "Não quero assistir a esse filme incrível, porque já vi muitos filmes incríveis".Tradução: Marina Schnoor