O longa-metragem Memórias da Boca não será um sucesso retumbante de público. Nem irá ser exibido no grande circuito de shopping centers. Nem deve ser a opção mais certa dos festivais de cinema. Mas o filme tem tudo para entrar para a história, inclusive porque é história: entre atores, diretores e técnicos, a produção reúne veteranos que ajudaram a construir o cinema brasileiro.Memórias é composto por oito episódios que misturam ficção e documentário evocando a Rua do Triunfo, polo da produção cinematográfica entre os anos 1960 e 1980. "Nossa ideia foi fazer algo que mantivesse o pessoal da antiga ativo e levasse uma mensagem", resume o cineasta Diomedio Piskator, presidente do Instituto Ozualdo Candeias, entidade que reúne remanescentes da Boca do Lixo paulista. A organização bancou a produção sem qualquer ajuda governamental. "Não entramos em concurso nenhum. É um filme completamente independente."
Publicidade
Piskator e seus companheiros tiveram uma empreitada complicada. Memórias começou a ser filmado em 2012 e só ficou pronto três anos depois. Muitos nomes de destaque da Boca acabaram morrendo durante a realização do longa-metragem. Isso aconteceu com realizadores como Carlos Reichenbach, Francisco Cavalcanti, Luiz Castillini e Pio Zamuner. Todos são homenageados no início do filme. "Alguns deles iriam participar do Memórias", conta.O longa-metragem estreia na próxima semana (na quinta, dia 10), no Caixa Belas Artes, em São Paulo. A ideia é levar o filme para espaços alternativos, cineclubes e institutos culturais Brasil afora. "Queremos divulgar o filme para o maior número de pessoas. Sem nenhum tipo de preconceito", revela Diomedio.
A atriz Mel Lisboa (a direita) está presente em um dos episódios.
São seis episódios do gênero documentário. Os destaques ficam para Bangue-bangue, de Valdir Baptista, filme que evoca os faroestes rodados na Rua do Triunfo, e Autofilmagem, direção mais recente do cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Entre os episódios de ficção, os destaques ficam para Amigas para Sempre, divertida comédia do veterano Alfredo Sternheim, e Mil Cinemas, do próprio Diomedio. "É um curta metalinguístico com linguagem fragmentada. Esse foi o motivo de tudo ter sido filmado em preto e branco."
José Mojica Marins também está em Memórias da Boca.
O Instituto Ozualdo Candeias possui diversos projetos para o futuro, como Quadrilátero do Pecado (episódios de ficção que se passam no bairro da Luz) e São Paulo Zero 15 (longa de episódios com diretores de diversas gerações sobre a capital paulista). Tudo feito de maneira independente. "Estamos dando a chance de os antigos trabalharem e também dando a chance para surgirem novos", explica Diomedio. "Acredito que o Memórias seja uma espécie de manifesto de amor ao cinema."Siga a VICE Brasil noFacebook,TwittereInstagram.