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Drogas

Falamos com a Repórter do Alasca que se Demitiu ao Vivo na TV Para Comandar um Dispensário de Maconha

Charlo disse à audiência do Alasca, ao vivo na TV, que ela era dona do único clube de cannabis do Estado e que estava deixando o mundo das notícias para se dedicar inteiramente ao movimento de defesa da legalização da maconha.

Domingo à noite, depois de apresentar um seguimento sobre o movimento de legalização da maconha no Alasca, Charlo Green, âncora do canal local KTVA, se demitiu no melhor estilo “foda-se, foda-se, você é legal”. Charlo saiu do roteiro e disse à audiência do Alasca, ao vivo na TV, que ela era dona do único clube de cannabis do Estado norte-americano e que estava deixando o mundo das notícias para se dedicar inteiramente ao movimento de defesa da legalização da maconha. Charlo imediatamente se tornou a nova heroína do movimento, sendo a única pessoa a comandar um dispensário de maconha no Estado natal da Sarah Palin. Antes de se mandar, ela também acrescentou: “Foda-se, eu me demito”.

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Sem surpresa, a mistura de maconha, palavrões inesperados no telejornal local e a emoção de ver alguém largar o trabalho de um jeito muito foda viralizou a transmissão de Charlo. Então ligamos para ela anteontem a fim de falar sobre sua decisão de largar a vida glamourosa de repórter, seu clube de cannabis e o movimento de legalização no Alasca.

VICE: Quando você começou o clube de cannabis?
Charlo Greene: Adquirimos a licença para o negócio no dia 20/04/2014!

E como vão os negócios?
Ótimos! Bem o suficiente para que eu largasse a carreira que passei minha vida adulta toda construindo.

Por que você decidiu se demitir de um jeito tão extravagante?
[Risos] Para chamar atenção para a questão. Você, como jornalista, sabe que todos nós somos substituíveis. As pessoas não vão sentir a sua falta, a minha ou de qualquer outro repórter aleatório. Então por que não usar a posição em que eu estava para abrir o próximo capítulo da minha vida?

Qual foi a resposta no estúdio?
Graças a Deus era domingo à noite, quando a maioria do pessoal fica no estúdio no térreo. Eu estava fazendo a transmissão ao vivo no primeiro andar, então não vi o que aconteceu na redação do jornal. Mas alguns chefões que estavam no meu andar piraram – entraram em pânico mesmo. Todos os telefones estavam tocando ao mesmo tempo, e eu fui escoltada pra fora. Foi isso.

E você teve problemas depois disso?
A estação tirou minha bio do ar e tudo mais, mas ninguém entrou em contato comigo ainda.

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Viewers, we sincerely apologize for the inappropriate language used by a KTVA reporter on the air tonight. The employee has been terminated.

— KTVA 11 News (@ktva) September 22, 2014

Telespectadores, pedimos desculpas pela linguagem inapropriada usada por uma repórter da KTVA no ar hoje. A funcionária foi demitida.

Que bom. Você viu o tuíte deles dizendo que você tinha sido demitida?
[Risos] Sim. [Mais risos] Vi. Foi muito idiota.

Foi sensacional na minha opinião.
[Risos] É, e eu recebi tanto apoio… se você for até o tuíte deles, as respostas são, tipo, “Não, gente, vocês entenderam errado. Foi ela quem se demitiu. Eu vi”.

Foi muito legal ver quanta gente está apoiando isso. Fiz o que todo mundo, em algum ponto da vida, já quis fazer. Tipo: “Foda-se, pra mim chega. Isso é idiotice. Vou fazer outra coisa da vida. Vou ser meu próprio chefe. Vou fazer a diferença, porque tenho a oportunidade pra isso”.

Então vamos falar dessa oportunidade. Como você se envolveu com cannabis em primeiro lugar?
Sou do Alasca. Os alascanos fumam maconha, mas a primeira vez em que fumei foi no colegial. E não gostei, então nunca mais usei, e só bebia, tipo, muito – o que também é um problema aqui do Alasca. Cheguei num ponto, na faculdade, em que eu bebia tanto que nunca aparecia nas aulas, então reprovei um semestre inteiro. Das sete matérias, reprovei em seis – menos ginástica, mas só porque o professor ficou com pena de mim.

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Eu sabia que o álcool, como vício, não ia me deixar ser a pessoa que eu queria ser. Então eu precisava de outra coisa que talvez não fosse tão prejudicial e escolhi fumar maconha. E assim eu fui de um semestre inteiro de reprovações para a lista de melhores alunos do reitor em todos os semestres seguintes. Me formei com honras… E tudo porque eu estava fumando maconha! Eu sentava a bunda em casa e fazia o que precisava fazer. Nunca acordei de ressaca ou atropelei uma família inteira (ou algo assim) por causa disso.

Charlo cercada de verde. Foto via Facebook. 

Você tem uma razão medicinal para fumar ou é só uso recreativo mesmo?
Acho recreativo um termo engraçado; por que sentar em casa e fumar um beck, para ter o efeito relaxante disso, é tão diferente de tomar um Zoloft? Você não diz que faz uso recreativo de Zoloft – bom, até poderia dizer…

Entendi o que você quis dizer.
Então meu uso é medicinal. Acho que todo mundo que fuma maconha faz isso medicinalmente.

Para quem não sabe o que está acontecendo no Alasca, como está o movimento para legalizar a maconha lá?
As pesquisas mostravam que o apoio estava caindo, foi por isso que larguei minha carreira. Ou eu estaria só nos bastidores [da mídia] o tempo todo, disseminando a tática de pânico e os não fatos que os jornalistas nunca vão atrás para checar por si mesmos – eu teria ficado lá para ter certeza de que a briga fosse justa. Mas as pesquisas mostram que essa tática do medo está funcionando, então tive que me pronunciar e garantir que os alascanos saibam o que realmente está em jogo. E a oportunidade que está diante de nós.

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Você está otimista?
Ah, sim. Se você visse as mensagens no nosso Facebook, os comentários e os e-mails que estamos recebendo. São pessoas que nem estavam interessadas em votar. Tipo: “Você teve muita coragem. Vou me registrar para votar agora. Vamos conseguir, vamos fazer isso!”. Já sabemos que estamos colocando as coisas de volta onde elas deveriam estar e conseguindo apoio para a legalização da maconha no Alasca no dia quatro de novembro.

Ótimo! Você tem uma cepa favorita?
Uma cepa favorita… Vou de Jack. Jack Herer. É um clássico.

Com certeza. Presumo que seu clube de cannabis seja só para membros no momento.
Sim. Por enquanto, até votarmos a legalização. O lado médico sempre vai estar funcionando. Estamos planejando expandir e chegar até o varejo, claro. Mas temos que garantir que nossos pacientes do uso medicinal não sejam prejudicados se a lei for aprovada. Essa iniciativa não diferencia entre maconha medicinal e recreativa.

Os eleitores do Alasca decidiram legalizar a maconha medicinal já em 1998; 16 anos depois, o Estado ainda não tem um sistema estabelecido para que eles consigam seu remédio: não permitiu nenhum dispensário. O Estado fodeu com quem usa maconha medicinal. Esse movimento, esse plebiscito não pode prejudicá-los mais uma vez. Não vou deixar isso acontecer.

Muito bem. Você tem alguma dica para quem quer se demitir de um jeito espetacular?
Pense grande. Se você vai largar o seu trabalho, pense grande. Por que não? Seu emprego provavelmente é um saco mesmo, então vai fundo e leve o que puder disso. Se seu trabalho te dá acesso à informação que pode te ajudar no seu próximo passo, leve isso com você! Se você é só uma engrenagem nessa máquina enorme, se você sabe que é substituível e é tratado assim, então substitua-os primeiro. Tenha coragem. Tenha colhões. E tenha certeza de que você vá ficar bem depois disso.

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Tradução: Marina Schnoor