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Música

DJ PV é o David Guetta do EDM cristão

O maior DJ evangélico do Brasil tem apenas 26 anos e dois CDs lançados, mas já acumula shows lotados por todo país (e fora), além de milhões de views e seguidores nas redes sociais.

A escuridão toma conta do ginásio Goiânia Arena, na capital de Goiás, que está abarrotado de gente — aproximadamente 13 mil pessoas preenchem quase todo o espaço, que tem capacidade para 15 mil. Um feixe de luz ilumina o palco, quatro serelepes dançarinos (três minas e um cara) aparecem e iniciam passos de dança no melhor estilo robozinho. Em suas camisetas, é possível ler, em letras divertidas, a frase "Me leva mais alto, mais alto eu quero ir".

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Os dançarinos são, na verdade, uma preparação para a estrela do espetáculo, o cara que dá nome àquele show. As pickups são reveladas bem no centro do palco, em um ponto mais elevado. Entra em cena o DJ PV. Ele aparece correndo e sobe alguns degraus até ocupar seu espaço junto aos CDJs. Antes de sequer tocar nos botões e comandos do equipamento (a primeira coisa que um DJ faz é mexer naquele pininho do volume, já reparou?), ele primeiro olha para o alto, levanta as duas mãos abertas para cima e, ainda olhando, eleva agora apenas uma das mãos, apontando com o dedo indicador. Ele mira o céu.

Com agenda em praticamente todos os finais de semana, o músico costuma estar no Brasil inteiro. Apenas em agosto ele tocou em Aracaju (SE), Salvador (BA), Campo Grande (MS) e Matinhos (PR). Com apenas dois CDs lançados (o segundo, teve também um DVD), já levou seu trabalho para o exterior, em turnês em Portugal, Bélgica, Espanha, Paraguai, Estados Unidos, França e Inglaterra.

A música gospel, nas mãos de DJ PV, ganha uma nova roupagem. As características da EDM, que mescla as principais vertentes da música eletrônica no seu som, fazem dele uma espécie de David Guetta evangélico. Alguns artistas do gênero não medem as palavras ao afirmar: é o "maior DJ cristão" do Brasil.

Apresentação ao vivo para mais de 50 mil pessoas na conferência Radicais Livres, realizada em Goiânia, em 2015

Dentro da igreja

Nascido em Goiânia, PV, apelido que abrevia seu nome, Pedro Victor, contou ao THUMP que a música gospel chegou antes da eletrônica na sua vida. Aos 26 anos, frequenta, desde a sua fundação, a Igreja Videira, templo cristão pentecostal que surgiu em Goiânia em 1997 e que se espalhou para outros locais no país.

"Ouço música gospel desde a infância e nunca andei por outros caminhos", conta o músico, que integrava os grupos de dança e teatro da igreja. "Eu era a pessoa responsável pela edição das músicas do meu grupo, na época fui me aprofundando em edição e produção musical, daí a galera me apelidou de DJ, porque eu fazia esses trabalhos", lembra.

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Em uma evolução que PV chama de "natural e orgânica", passou a compor suas músicas, algumas sozinho, outras ao lado de amigos. Em 2012, lançava o seu primeiro álbum, O Som da Liberdade.

Num trecho de um documentário sobre sua carreira, o DJ afirma que foi durante um retiro espiritual que percebeu que deveria transmitir uma mensagem maior. "Deus me chamou, me deu o encargo de fazer algo diferente nessa geração", ele comenta no vídeo, momento em que também ficou questionando suas limitações. "Eu pensava, como posso pregar se seu não tenho o domínio da palavra?"

De fato, ele usou outro talento para emitir suas mensagens. No entanto, apesar de compor, tocar e remixar, sempre acompanhado de outros cantores, no meio de suas apresentações, ele costuma pegar o microfone e fazer algumas pregações – e se sai muito bem.

Entre os gigantes

O sucesso do primeiro disco foi muito grande e estruturou sua carreira como músico. O estilo foi inovador na cena musical e a excelente repercussão em rádios do gênero e redes sociais proporcionaram um fenômeno ainda mais forte em sua trajetória no segundo disco, O Som da Liberdade 2.0 (2015): grandes nomes da música gospel brasileira passaram a procurá-lo ou a topar parcerias em composições ou remixes de suas canções.

Nesse grupo de artistas estão nomes como Fernandinho, que faz sucesso no gênero desde 2001 e acumula impressionantes 4,1 milhões de seguidores no Facebook, a banda Som & Louvor, Daniela Araújo, Mauro Henrique, integrante do Oficina G3 (esses são das antigas, hein?), André e Felipe, nomes do sertanejo gospel e Priscilla Alcântara.

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Essa última, que iniciou sua carreira ainda criança, nos palcos da TV, apresentando ao lado do hoje Mamona Assassina, Yudi Tamashiro, o infantil Bom Dia & Cia, contou em entrevista no documentário Som da Liberdade 2.0 que a música de PV "se assemelha ao som secular, mas com a mensagem de Cristo e isso é uma grande ferramenta para alcancar aqueles que não são cristãos".

O DJ afirma que sua influência no estilo também vem do grupo gospel australiano Hillsong Young and Free. "Eles trabalham com música eletrônica ministerial", diz.

Outro aspecto elogiado pelo músico é a presença de um "ministério" por trás dos artistas. "Admiro muito cantores, como o Fernandinho e o Hillsong Young and Free, que tenham uma igreja local, um trabalho que é reflexo da visão dessa igreja. Isso é muito bacana", cita.

Como o próprio nome lembra, o Young and Free faz parte da igreja Hillsong. Fernandinho é membro da Segunda Igreja Batista de Campos.

Mundo das raves

Quando o assunto é a cena eletrônica brasileira, tenho muito presente em minha mente algumas imagens sobre o tema. Uma delas, é a da atriz Nathalia Dill doidona nas falésias da praia do Gunga, em Maceió (AL), no filme Paraísos Artificiais, em que ela ia numas raves danadas. Por outro lado, também é muito comum recordar-se do noticiário policial, com Fantástico, Datena e Marcelo Rezende anunciando blitze da polícia e apreensões de entorpecentes em festas realizadas em fazendas, sítios e chácaras por aí.

Sob essa possível roupagem negativa que o estilo pode carregar junto à sociedade, pergunto ao PV se em algum momento rolou algum preconceito por sua música ser, justamente, eletrônica.

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"Realmente a música é rotulada, pelas raves e pela questão das drogas. Mas qualquer outro segmento musical no meio secular tem droga, tem promiscuidade, não é [só] a musica eletrônica que carrega isso na sua bagagem", afirma o DJ. "No meio cristão é totalmente diferente, o propósito é outro, não é, enfim, bebida, droga,… O foco ali é amizade, amor, alegria, celebração ao evangelho", diz.

Apesar de, no início, o público ser um pouco mais fechado sobre o tema, o artista afirma que o feedback foi positivo já na sua igreja, em Goiânia, onde as pessoas conheciam o seu trabalho com o grupo de dança e teatro. Ainda que o DJ PV faça apresentações em baladas cristãs, ele afirma que "90% dos convites são para tocar dentro das igrejas e em festivais de louvor e adoração."

O músico solta uma base eletrônica que inicia a sua próxima canção, mas antes, anuncia no microfone: "eu quero chamar aqui um convidado iluminado"… O público, que parece já saber do que se trata, começa a gritar freneticamente. Enquanto o som rola, ao melhor estilo Daft Punk, um sujeito vestido de robô (bem alto, parece até que está sobre pernas de pau), começa a atravessar o palco todo aceso, revestido com luzes de led no capacete e corpo.

O amigo robótico (chamado Robô Led) não é a única atração das apresentações. PV também utiliza iPad, uma "Guitarra Nintendo Wii" e a exibição de vídeos 3D nos shows.

Aliás, segundo o músico, são essas performances as principais fontes de renda para sua carreira e de sua equipe. "A gente vive dos shows, além dos CDs, DVDs, também temos camisetas com mensagens do nosso trabalho, bonés, pulseiras, colares e a gente vê isso como uma forma das pessoas nos ajudarem a manter nossa música, poder produzir novos clipes, fazer com excelência", conta.

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Assim tem sido a vida do DJ PV, com agendas lotadas e várias parcerias de peso firmadas, com singles de um futuro novo trabalho já em divulgação, com seus shows cheios de luz e efeitos especiais. Até agora, o tema "liberdade" esteve presente em todos os seus trabalhos. Essa insistência no assunto parece até dizer aos jovens que, com sua música, eles podem sim, dançar e curtir nesse estilo. "Som da Liberdade é esse tempo em que os jovens estão livres para expressar o amor de Jesus, a alegria dele", afirma.

E se vocês acharam que eu não iria encaixar um versículo bíblico nessa matéria, caíram do cavalo. PV arremata o tema de sua música com um trecho de João, capítulo 8, versículo 32: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará".

Assista ao documentário O Som da Liberdade 2.0:

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