Do Megane ao Coringa: 13 Clipes para a Entender a Linguagem do Funk Pós-Ostentação
Renato Martins

FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Do Megane ao Coringa: 13 Clipes para a Entender a Linguagem do Funk Pós-Ostentação

​Depois de milhões e mais milhões de views no YouTube, paramos um pouco para respirar e analisar os videoclipes que compõem a trajetória estilística do tal baile funk paulistano.

Não é de hoje que os funkeiros gostam de aparecer na telinha usando artigos de luxo. Mas só mais recentemente eles acertaram a mão em conseguir se autorretratar. No auge da ostentação, carrões, mansões, helicópteros, eram itens quase obrigatórios nos videoclipes. Agora, o negócio mudou de figura e cada vídeo tem um tema melhor definido e menos copiado do modelo hip-hop norte-americano.

O Mc Livinho, por exemplo, curte contar umas histórias, já fez videoclipe falando da namorada que voltou e sobre a máxima do pegar geral. O MC Bin Laden, por sua vez, gosta mesmo de umas fantasias e faz vídeos caseiros, tendo sempre a KL Produtora como cenário de vários clipes.

Publicidade

Quando assisti ao vídeo de "Baile de Favela", do Mc João, pensei "cara, cadê a ostentação?". O MC chega de carro nos fluxos, abre o som do porta-malas e canta sua música com a galera. No fim do clipe, ela ainda arrisca um 'mosh', mostrando o rolê da juventude periférica.

O movimento do funk ostentação continua crescendo — e o mais impressionante é observar como havia um cenário totalmente fértil para trabalhos de audiovisual. A partir de 2010, sem apoio de grandes marcas, sem grandes planos de marketing, sem ações gigantescas, a galera das comunidades paulistanas viu seus vídeos viralizarem na internet. Kondzilla, o mais prolífico arrebanhador de views, está na dianteira da turma dos produtores com mais de meio BILHÃO de visualizações.

Para entender melhor como o funk paulistano chegou nesse formato de videoclipe — com menos influência externa e mais a carinha da curtição da comunidade —, separamos 13 clipes que contam a evolução desse subgênero do funk paulistano, do começo da ostentação até agora.

Ah sim, você também pode ver como eram os videoclipes de funk antes da ostentação.

1

Megane – Boy do Charme
Kondzilla, 2011 – 7 milhões de view

O trabalho que deu o ponta pé inicial para a enxurrada de videoclipes de funk ostentação veio do Mc Boy do Charme, da Baixada Santista. Junto do parceiro Kondzilla, também da Baixada, subiram pra capital e no esquema um ajudando o outro, gravaram o vídeo que iria influenciar o movimento do funk paulistano.

Publicidade

2

Nego Blue – As minas do Kit
2011, 5 milhões de views

Correndo por fora, Nego Blue mostrou que o lance não era só ter imagens em HD, o importante era mostrar uma música boa e imagens legais. Gravado em Cidade Tiradentes, bairro na zona leste de São Paulo, o clipe mostra a galera na rua ostentando carros de luxo e uma mulherada bonita. Nessa época, Nego acertou na letra, promovendo as mulheres. Além da "As minas do kit' ele também lançou 'Deixa elas passar'

3

Mc Guimê – Ta Patrão
Direção, Kondzilla, 2011, 27 milhões de views

Aqui é o ponto em que a produção de videoclipes no funk paulistano vira. O MC Guimê acerta com uma letra boa, um clipe mais arrojado e chega na casa dos 27 milhões de views. Antes de fechar 2011, KondZilla já começava a acertar na fórmula visual pras músicas de funk, e esse era apenas o primeiro trabalho visual do MC.

4

Mc Rodolfinho - Como é bom ser vida Loka
Kondzilla, 2012, 21 milhões de views

O Kondzilla já sabia o caminho das pedras, e abriu 2012 com o clipe do novinho Rodolfinho que emplacou um baita sucesso. O ano começava bem pro diretor que já começava a definir a linguagem do movimento ostentação.

5

Mc Guimê - Plaque de 100
Kondzilla, 2012, 62 milhões de views

Com o caminho livre, o diretor chamou o MC Guimê de lado pra fazer um modelo novo de videoclipe. Ao invés de só retratar os produtos de luxo, o diretor teve a ideia de produzir um trabalho no estúdio, com modelos, figurinos e outros elementos. Num bate-papo, o diretor me contou: "Eu queria ter feito o clipe todo no estúdio, mas fiquei com medo de fazer e a galera não entender, achar que era uma coisa mais simples, sendo que seria uma coisa mais complexa".

Publicidade

Simples ou complexo, "Plaquê de 100" divide o movimento funk paulistano em dois momentos: antes, um retrato fiel dos MC's gravando em carros na sua comunidade, e agora um momento de magia, onde se criava um modelo nacional de ostentação.

6

Mc Lon – Novinha vem que tem
Máximo, 2012, 46 milhões de views

Com cada vez mais videoclipes passando a marca de 10 milhões de views, o movimento ostentação começou a chamar a atenção de outras produtoras. A Máximo, já vinha conversando com o Guimê e Rodolfinho — dois grandes nomes do movimento, e abraçou o Mc Lon.

Com uma linguagem parecida com a do KondZilla, Lon crava 46 milhões de views.

7

Mc Nego do Borel — Os caras do momento
Tom Produções, 2012, 42 milhões de views

Além da Máximo, o Tom Produções já trabalhava com videoclipes de funk. Com alguns sucessos como Mc Fininho – Amor Proibido, (20 milhões de views) o diretor ainda não tinha acertado em nenhum roteiro de sucesso, até aparecer o Nego do Borel.

Como bom carioca, o videoclipe já abre com os meninos do passinho, e em seguida mostra a linguagem da ostentação numa narrativa carioca. É parecido, mas não é igual, ainda assim Tom registra seu nome no movimento.

8

Bonde das Maravilhas - Aquecimento das Maravilhas
Tom Produções, 2013, 20 milhões de views

De 2013 pra frente, o cenário abriu de tal forma que tinha espaço para todo mundo. Era uma enxurrada de videoclipes. É nesse momento que os diretores começavam a mudar (de novo) o formato dos videoclipes. Se antes eram sempre mostrando artigos de luxo, mansões, dinheiro e símbolos de poder, agora o importante era entreter.

Publicidade

As meninas do bonde das Maravilhas mostram todo seu rebolado e ajudam a abrir caminho para novas narrativas.

9

Mc Guimê - Na pista eu Arraso
Fred Ouro Preto, 2013, 55 milhões

O então formato estabelecido de videoclipes de funk, começa a cair. O modo PIMP, com garotas, carrões e ostentação, começava a ser adaptado a cada novo clipe. Guimê já estava em outro patamar, com apoio de marcas e patrocínio para videoclipes. Neste trabalho, a cor do clipe é quase dourada, transformando tudo em ouro – até as modelos.

10

Valesca Popozuda - Beijinho no Ombro
Map Style, 2013, 50 milhões de views

O auge, e também momento de declínio, da ostentação veio com a Valesca Popozuda. A diva grava o videoclipe da sua música "Beijinho no Ombro", num castelo, com direito a tigre, coruja e sacerdotes. Ela se apresenta como uma rainha, ostentando joias e um trono.

Depois disso estava difícil imaginar outra forma de demonstrar mais poder.

11

Mc Bin Laden - Lança de Coco / Passinho do Romano
KL Produtora, 2014, 1,5 milhões de views

O ano de 2014 abre com a novidade da rasterinha. Os fluxos começam a se popularizar em São Paulo, junto do passinho romano. A putaria começa a tomar espaço, deixando a ostentação de lado.

Artistas como Bin Laden procuram entreter nos vídeos caseiros, do que em mega produções. O Lança de Côco teve mais sucesso, que seu outro clipe em formato de ostentação. E neste trabalho, mascaras tomam o lugar de modelos. Mansões perdem espaço para a comunidade. A KL mostrava a sua cara.

Publicidade

12

Mc Crash, Sarrada no Ar (Passinho do Romano)
Kondzilla, 2014, 6,5 milhões de views

O passinho do romano explodiu em São Paulo. Mais e mais vídeos caseiros começam a surgir no YouTube - Fezinho Patatty cravou 13 milhões de view no seu vídeo dançando essa música. Kondzilla não perdeu o posto de "Diretor de Clipes de Funk" e começa a mostrar novas narrativas.

13

MC Livinho, Mulher Kama Sutra
Tom Produções,2014, 28 milhões de views

Bin Laden era um cara novo em 2014, junto dele Mc Pedrinho, DJ Perera, DJ R7 e o bom moço Mc Livinho começam a mostrar a nova direção do funk paulistano. Junto de Tom Produções, o MC mostra que não tem mais uma regra pros videoclipes. Com um roteiro incomum para os padrões da ostentação, é fácil perceber o novo momento da estética do funk. O modelo PIMP ficou no passado.

Siga o THUMP nas redes Facebook //Soundcloud // Twitter.