Apreensão de cocaína nos EUA mostra proximidade entre deep web e crime nas ruas
Sabe quem são as pessoas que mais compram drogas na deep web? Traficantes que revendem as mercadorias nas ruas. Crédito: Shutterstock

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Apreensão de cocaína nos EUA mostra proximidade entre deep web e crime nas ruas

Sabe quem são as pessoas que mais compram drogas na deep web? Traficantes que revendem as mercadorias nas ruas.

Quando a polícia prendeu Benjamin Bricker em sua casa na cidade de Lubbock, no Texas, nos EUA, em junho, encontraram cocaína, uma pistola 9mm semiautomática, uma espingarda, dinheiro falso e indícios de uma modesta operação de tráfico de drogas.

Tais descobertas talvez não chamassem tanta atenção por si só. O que diferenciou o caso é que os investigadores suspeitavam que Bricker comprava drogas da tal deep web para revender nas ruas.

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Por mais que pesquisas acadêmicas indiquem que muito do que rola de tráfico na deep web é entre traficantes e não usuários, é raro um caso que sirva de exemplo da relação entre e-commerces nas profundezas da internet e o crime mais tradicional.

A investigação ocorreu como em qualquer outra apreensão: a polícia equipou um informante com um grampo e 450 paus em notas marcadas para que ele comprasse cocaína do suspeito, de acordo com um mandato de busca deste caso. O documento foi compartilhado com o Motherboard por Gabriel Monte, jornalista do Lubbock Avalanche-Journal, primeiro veículo a publicar notícias sobre a acusação contra Bricker na quarta-feira da semana passada.

Pouco após a compra armada, o Departamento de Polícia de Lubbock, junto de uma equipe da SWAT, vasculharam a causa de Brick, com base na suspeita de que ele vendia narcóticos. De acordo com o mandato de busca, a casa tinha quatro câmeras de segurança. Presume-se que servia para monitorar a possível entrada de intrusos.

Após darem uma olhada na casa de Bricker, os investigadores também analisaram seu celular. "A análise forense obteve históricos de navegação e arquivos salvos que indicam que Benjamin Bricker estava usando a 'deep web' ou 'onion web' para comprar cocaína de fornecedores estrangeiros", de acordo com o texto do mandato de busca. (O documento afirma ainda que os investigadores encontraram dois iPhones, mas não menciona modelos ou versão de iOS.)

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"O declarante observou ainda fotos de páginas da 'deep web' com anúncios de cocaína que aceitavam bitcoins como forma de pagamento", continua o texto. "O declarante viu também registros de vendas em bitcoins na posse de Benjamin Bricker. O declarante sabe, por experiência e por conta de seu treinamento, que é normal que traficantes de narcóticos usem a 'deep web' ou 'onion web' comprem drogas usando bitcoins como moeda." Um cão farejador também encontrou drogas em um pacote que o senhorio de Bricker tinha apreendido depois de suspeitar que o inquilino vendia drogas.

O agente que escreveu a declaração está certo: boa parte do comércio na deep web vem de traficantes que buscam fornecedores para o seu negócio. Uma pesquisa publicada em maio de 2014 de autoria de Judith Aldridge da Universidade de Manchester, na Inglaterra, e David Décary-Hétu da Universidade de Montreal, no Canadá, afirma: "Descobrimos que grande parte das transações no Silk Road são melhor caracterizadas como 'business-to-business', com vendas em quantidades e preços típicos de traficantes em busca de produto para revenda".

"Com os principais clientes do Silk Road sendo na verdade traficantes atrás de material para venda em operações nas ruas, acabamos testemunhando um novo tipo de traficante, equipado com uma série de habilidades tecnológicas subculturais para obtenção de material", complementaram.

A criação de e-commerces na deep web em que usuários e traficantes podem comercializar uma ampla gama de narcóticos com um grau de anonimato relativamente alto é uma quebra de paradigma no mundo do tráfico. Não podemos esquecer, porém, que não está tão distante do esquema das ruas, das antigas.

Tradução: Thiago "Índio" Silva