Criminosos espalharam cartazes ordenando para que comerciantes de Fortaleza (CE) mantenham suas empresas fechadas entre segunda e esta terça-feira (8). Segundo o "salve", atribuído ao "crime do estado" (e anexado em postes e portas de escolas), quem descumprir às ordens "terá sua punição merecida”. Leia o documento na íntegra no final da reportagem.O Ceará sofre, há sete dias, ataques de facções criminosas. Até o momento, foram registradas ao menos 153 ações criminosas, como incendiar ônibus, comércios, agências bancárias e prédios públicos.
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A reação ocorreu, segundo o secretário de segurança do estado, André Costa, após a divulgação do nome de Luís Mauro Albuquerque para a pasta da Administração Penitenciária. "Só a indicação dele já causou essa reação dos criminosos. O Governo do Estado do Ceará já conhecia o trabalho do secretário no Rio Grande do Norte. Obviamente, também a criminalidade já conhecia, já que é um estado vizinho e próximo", afirmou ao G1.https://twitter.com/VICEBRASIL…O "salve" é usado para tornar pública uma ordem e também, nos bastidores do crime, para repassar informações e encaminhar ordens de superiores de dentro dos presídios (para execução de desafetos, inimigos, para que situações sejam resolvidas). A forma "clássica" do salve é feita mediante papel, mas os criminosos usam também o WhatsApp para alguns tipos de mensagem.
O que diz o salve
Ainda segundo o documento, na quarta-feira (9) as empresas e serviços “podem voltar a funcionar normalmente”.
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“Estamos apenas lutando por nossos companheiros e irmãos, onde [sic] vem sofrendo opressão e maus tratos no sistema e até mesmo nas ruas”, diz trecho do salve atribuído à criminalidade cearense.O documento ainda convoca aos “cidadãos de bem” para que lutem pela saída do secretário de administração penitenciária e promete que “enquanto ele (Albuquerque) não sair (da Administração Penitenciária), não vamos parar os ataques".Segundo um policial civil de Fortaleza, ouvido em sigilo pela VICE, a população também está sendo obrigada pelas facções a participar direta ou indiretamente das ações de vandalismo. "O cidadão tem duas escolhas: ou faz o que os bandidos mandam, ou morre", afirmou.Ele acrescentou que o poder público "não tem sensibilidade e habilidade para tratar disso. Então, não consegue fazer distinção [entre criminosos e cidadãos obrigados a realizar ações de vandalismo]".A VICE recebeu a foto de uma menor de 14 anos que, nitidamente com medo, segura uma cópia do "salve" dos bandidos.Até a publicação desta reportagem, o governo do Ceará não havia se manifestado sobre o teor do salve que circula por Fortaleza.