6-Shico Menegat as Pedro (HARD PAINT)
Foto: Divulgação

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Identidade

Filme premiado conta história de gay tímido que faz shows sensuais na webcam

O longa nacional 'Tinta Bruta' une arte e política em narrativa sobre angústias e desafios de um jovem homossexual.

Um jovem que responde a um processo criminal se vê diante da despedida da irmã, sua única amiga, e do desafio de lidar com as descobertas da própria sexualidade. Com direção de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, o filme Tinta Bruta será exibido hoje em diversos cinemas do país a preços populares.

Pedro mora com sua irmã em Porto Alegre e pouco sai de casa. Para ganhar dinheiro, faz shows sensuais na webcam. Sua vida muda quando sua irmã muda para Salvador e ele descobre que um outro jovem está imitando suas apresentações. Nessa jornada, ele passa por diversos dilemas.

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Mistura de política e poesia, Tinta Bruta é, segundo os diretores Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, um filme sobre coragem e despedidas. “Tinta Bruta surgiu de uma vontade nossa de falar sobre despedida, abandono e uma conexão que tínhamos com Porto Alegre, pois percebemos que a cidade estava se tornando uma cidade hostil, violenta e que estava isolando os cidadãos do espaço público,quase uma cidade fantasma”, diz Filipe.

Pedro (Shico Menegat) / Foto: Divulgação

Personagem Pedro (Shico Menegat) / Foto: Divulgação

Pedro é ser um personagem reativo. Sofre diversas violências, mas está sempre disposto a reagir. Não à toa o nome Pedro significa "pedra, aquele que afunda", revela Marcio: “É uma simbologia que achamos relevante na hora de escolher o nome do personagem”.

Os diretores contaram que, quando criaram Pedro, um personagem quase que apartado da sociedade, perceberam que a internet seria uma maneira dele se comunicar. Ao pesquisar sobre indústria pornô, encontram os sites de performances eróticas. "Nos pareceu muito interessante, pois é um espaço onde as relações são muito próximas de uma rede social”, conta Marcio.

Sobre as questões simbólicas em Tinta Bruta, há a intensa presença da água, que percorre toda a trajetória de Pedro. “A água foi um elemento que conectamos com o Pedro desde muito cedo", explica . "Ela está presente em vários momentos, acompanhando os clímax emocionais dele, até chegar no que podemos chamar de renascimento dele.” Diversas são as formas de água, como chuva, banho e a torneira quebrada na cozinha.

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A tinta neon, indumentária quase símbolo da comunidade gay e queer, possui a característica de brilhar no escuro. Faz com que o despercebido e invisível chame a atenção. “Quando decidimos que ele seria performer de webcam, queríamos que ele tivesse uma característica peculiar, algo que destacasse ele e dentro das possibilidades escolhemos a tinta neon, porque ela se relaciona muito com a existência queer", diz Márcio. "É performática e obrigatoriamente destaca o personagem numa multidão cinza heteronormativa. Eu e o Filipe temos uma tendência, desde nossos trabalhos anteriores, de trabalhar com o naturalismo e com o cruísmo, mas em Tinta Bruta, decidimos quebrar um pouco isso. Trazer alguns elementos mágicos, estilizados, a questão da tinta e o próprio final.”

Pedro (Shico-Menegat) em performance sensual na webcam

Pedro (Shico-Menegat) em performance sensual na webcam / Foto: Divulgação

Ao longo de Tinta Bruta, as falas dos personagens dão muitas respostas que por vezes soam como insistentes ao próprio Pedro. “Os personagens ao redor do Pedro têm uma consciência maior até que o próprio Pedro, é uma jornada dele ter essa consciência da importância do grupo de afeto ao seu redor, a coragem de estar presente, de estar na rua”, explica Filipe.

Os atores também são responsáveis pelo sucesso da estética do filme. Os dois protagonistas, Shico e Bruno, estão em seu primeiros trabalhos e surpreendem pela maturidade nos papéis. “Eles foram pilares muito fortes. Nós trabalhamos muito a atuação em nossos filmes. O Shico Menegat (Pedro) nunca tinha atuado antes e o Bruno Fernandes, que apesar de ser de um grupo de teatro, nunca tinha feito cinema", afirma Márcio.

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Atores Shico Menegat (Pedro) e Bruno Fernandes (Leo) / Foto: Divulgação

Atores Shico Menegat (Pedro) e Bruno Fernandes (Leo) / Foto: Divulgação

Logo em sua estreia na Mostra Panorâmica do Festival de Berlim, Tinta Bruta levou o prêmio Teddy Awards, prêmio destinado a obras LGBTQs do Festival. Entre as diversas premiações, o longa levou de Melhor filme, Melhor Ator com Shico Menegat e Melhor Ator Coadjuvante com Bruno Fernandes no Festival do Rio 2018 e pelo Teddy Awards no 68º Festival de Berlim.

Ao citar os prêmios, Márcio comenta que se trata de um filme muito político e artístico. "Uma coisa que aconteceu e que nos deixa muito felizes é ver que a maioria dos prêmios foram por motivações artísticas, estéticas, narrativas e isso é muito legal”, diz.

Filipe, por sua vez, atenta para a questão sobre serem cineastas gays: "É uma felicidade muito grande, pois uma vez que a gente faz cinema LGBTQ+, muitas vezes isso é ignorado. Quando se é um realizador que pertence a um grupo socialmente marginalizado, as pessoas não te permitem falar sobre cinema, você vai cair sempre na questão política e só um grupo muito privilegiado tem o direito de discutir arte. E fico muito feliz que as duas coisas estejam sendo discutidas em Tinta Bruta”.

Tinta Bruta estreia hoje, 6 de dezembro, com ingressos a preços populares de até R$ 12, nas cidades de Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Caxias do Sul, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Indaiatuba, Juiz de Fora, Londrina, Maceió, Manaus, Natal, Niterói, Palmas, Pelotas, Porto Alegre, Rio Branco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Salvador, Santa Maria, Santos, São Bernardo do Campo, São Paulo, São Leopoldo, São Luís, Teresina e Vitória.

Assista ao nosso documentário sobre modelos de webcam no Brasil:

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