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Entretenimento

O comovente caso da lesma que arriscou a vida para fumar

Uma investigação biológica de um dos melhores vídeos do YouTube de todos os tempos.

A web é imensa. Nem todo grande vídeo se torna viral. Isso explica por que, até o momento da publicação deste texto, somente 70 mil pessoas pessoas deram uma boa olhada nessa peça de arte contemporânea, postada em 2013:

A cena abre com uma lesma, coberta pela escuridão, curtindo um spliff (mistura de tabaco e maconha, também chamado de x-salada em algumas rodas pelo Brasil) ao som de uma batida. Quatro anos atrás, não tínhamos muito contexto para incluir esse vídeo em uma matéria, mas, agora, queremos dissecar o que está acontecendo,

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De acordo com dois especialistas em invertebrados com quem conversei, essa lesma pertence à família Arionidae. A partir disso, podemos chegar até a Arion vulgaris por sua cor amarronzada e sua base laranja brilhante.

Enquanto o cinegrafista manobra habilmente seu iPhone 5S, ou seja lá o que as pessoas usavam para filmar em 2013, temos uma ideia melhor do que esse belo lesmão está fazendo. Ele parece roer mesmo o papel. Lesmas gostam de papel.

Nunca vimos um meme sobre oferecer maconha para lesmas e caracóis vingar. Fazer uma lesma fumar maconha, como o Reddit quer que todos saibam, não é uma invenção. Esses caras sem noção, por exemplo, colocaram um isqueiro bem perto de uma lesma enquanto tentam fazê-la fumar um baseado. A outra lesma disse não.

As lesmas também gostam de arruinar plantações de maconha, e mastigam, felizes da vida, as folhas, talos e caules, botando ovos por toda a plantação. Eles são um aborrecimento recorrente para os produtores a ponto de ganhar menção na Cannabis Encyclopedia, um guia de cultivo e consumo.

Contudo, apesar de tudo o que pudemos esclarecer nesse vídeo, há muitas questões não resolvidas: será que as lesmas têm esse apetite pela maconha porque são capazes de sentir os efeitos do THC? Ou elas apenas comem indiscriminadamente plantas verdes e folhosas? Será que a erva seca e enrolada tem o mesmo fascínio de uma folha viva repleta de clorofila? Será que o consumo de maconha prejudica as lesmas?

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Como não tem fumaça saindo do sistema respiratório da lesma do vídeo, podemos afirmar que ela não está inalando.

Os especialistas em invertebrados com quem conversei foram gentis ao responder minhas perguntas, mas também ficaram muito perplexos.

"As lesmas são herbívoros no general e comerão a maioria das plantas que encontrarem, acredito que incluindo os baseados…" me contou Morgan Jackson, um aluno de pós-graduação em Entomologia na Universidade de Guelph em Ontario, no Canadá. "Não tenho ideia dos efeitos, ou mesmo se é possível distingui-los do comportamento naturalmente chapadão das lesmas." Bem pontuado.

O Dr. Menno Schilthuizen, pesquisador de caracóis e lesmas do Centro de Biodiversidade Natural de Leiden, na Holanda, também aponta que nosso herói está atrás do papel do baseado. "Muitas lesmas se alimentam geralmente de detritos", ele me contou. "Elas definitivamente comeriam a parte de fora do baseado, pois caracóis e lesmas têm preferência por papel, mas não tenho muita certeza do conteúdo."

E é aqui que acontece uma reviravolta. Pó de tabaco, fumo ou rapé, Schilthuizen observa, é utilizado para controlar as pragas de lesmas e caracóis. Estudos mostram que o tabaco é um exterminador de lesmas bastante eficiente e que o extrato de tabaco misturado com álcool etílico os leva à morte. Assim, se a lesma tiver ido além do papel, e se o cara que subiu o vídeo chamou de spliff porque é erva misturada com o tabaco (em geral, é o significado do termo), então a lesma certamente se deu muito mal ou morreu.

"Ainda não sabemos se elas são afetadas pelo cannabidiol da maconha, e, se a resposta for positiva, não sabemos até que ponto", afirmou Schilthuizen. Parece haver uma lacuna científica na pesquisa sobre os efeitos da maconha nos invertebrados.

Vamos torcer para que a lesma do vídeo tenha comido um pouco de erva antes de ter chegado no tabaco. De qualquer forma, considerando a longevidade média de uma lesma, 12 anos, esse trabalho é considerado póstumo. Descanse em paz, lesminha.

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