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Eleições 2018

Em meio à onda ultraconservadora, mulheres e negros aumentam participação na política

Maiorias minorizadas conseguem mais cadeiras na Câmara, no Senado e nas Assembleias. Influência de Marielle Franco se concretizou em quatro deputadas eleitas.
Foto: Talíria Petrone/Facebook

No fim do primeiro turno das eleições de 2018, muitos acadêmicos apontaram para uma onda ultra-conservadora no país devido ao grande número de cadeiras para policiais, militares e simpatizantes de Jair Bolsonaro (PSL). Por outro lado, ainda que em menor escala, houve também maior inclusão e representatividade nos espaços de poder.

Retrato disso foram os crescimentos de negros e de mulheres nos cargos legislativos. Neste pleito, houve a eleição de 39 negros para deputado estadual, 21 para deputado federal, 3 para senador e 2 para deputado distrital. No total, os negros ocupam 65 das 1.626 vagas. É pouco, apenas 4%, mas ainda assim uma evolução em relação a 2014 quando havia 52 negros em cargos legislativos: 22 deputados federais, 29 estaduais, um negro para deputado estadual e nenhum afrodescendente no Senado.

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Entre as mulheres, os destaques ficam para as novas deputadas federais: 77 mulheres foram eleitas para o cargo, um aumento de 51% em relação a 2014. Dessas, treze são negras. O crescimento fez com que houvesse menos 48 homens brancos na função, mas, ainda assim, eles são maioria: possuem 321 cadeiras.

O número de deputadas estaduais também aumentou: 161 foram eleitas este ano, um crescimento de 35% em comparação com quatro anos atrás, quando 119 se elegeram. No Senado, porém, a presença feminina se manteve com 54 cargos, 16% do total. Das treze mulheres em meio a 81 senadores, não há a presença de nenhuma preta, amarela ou indígena.

Parte do aumento de mulheres em cargos legislativos se deve à lei de cotas, implementada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que decretou o direcionamento de 30% do financiamento público de campanha para as mulheres. Outros fatores foram a popularização da bandeira feminista e a influência de Marielle Franco, assassinada em março deste ano.

No Rio de Janeiro, por sinal, houve a eleição de quatro mulheres amigas de Marielle. Uma delas é Talíria Petrone, amiga da ex-vereadora por meio da ONG Redes da Maré, e que ocupará o cargo de deputada federal em 2019. Talíria ficou conhecida por seu discurso intenso na manifestação em frente à Cinelândia, logo após a morte de Marielle. Segundo ela, este foi o resultado de uma indignação coletiva diante do crime político contra Marielle e as pautas que ela defendia. “Acredito que é uma resposta e abre uma janela pra gente avançar com força nas questões dos direitos humanos”, afirmou a VICE. Ela também cita que percebe um “desejo de que a política se pareça com a maioria do povo.”

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As outras três amigas de Marielle se elegeram como deputadas estaduais pelo PSOL: a ex-chefe de gabinete Renata Souza, eleita por 63.937 votos, e as ex-assessoras Mônica Francisco, com 40.631 de votos, e Dani Monteiro com 27.9982.

Segundo Daniela, o papel que é atribuído a ela e suas companheiras é de principalmente derrotar o fascismo e a repressão internamente. “Temos o grande desafio de organizar a resistência para derrotá-lo, e essa luta será protagonizada por esses corpos ameaçados, que tomarão as ruas em defesa da democracia”, completa.

Ela também destaca a força coletiva dentro da campanha para eleger mulheres negras no campo federal e estadual. “Saímos desse processo vitoriosas em muitos aspectos, pois mostramos a força da mobilização coletiva e de seu potencial para ocupar uma posição que sempre foi negada ao povo: a de protagonista da vida política”.

Além de mais mulheres e negros, a representatividade na política foi muito discutida por meio das candidaturas coletivas, fato inédito das eleições de deputados. Um exemplo disso foi a eleição da Bancada Ativista, que conta com nove co-candidatas que atuam em pautas e territórios diferentes, formando uma representação coletiva a partir da candidatura de sua representante Mônica. “Enquanto cresce a ameaça à democracia e a violência representadas pelo Bolsonaro, estamos vendo o surgimento de uma outra forma de fazer política, com diversidade, inovação e coletividade. São movimentos de esperança e resistência”, pontua a Bancada, que prefere não manifestar sua fala com só um nome.

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