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'Fish' é o game inspirado na novela 'Kubanacan' que você sempre quis jogar

Conversamos com criador do jogo de tiro que mistura 'Doom' com os ritmos caribenhos da novela global.
Pescador é o nome do protagonista de 'Fish'. Imagem: Arthur Zeferino/Divulgação.

As novelas brasileiras sofrem de uma má fama de exagerarem no drama e no absurdo, mas a verdade é que nenhuma delas chega aos pés de Kubacanan nesses quesitos. Com uma história que contava com um protagonista com múltipla personalidade, viagens no tempo e ditadores caribenhos, a novela da Globo exibida em 2003 era esquisita demais comparada aos clássicos de época ou as epopéias urbanas com que o público global estava acostumado.

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Anos depois, Kubanacan se tornou cult. Fãs ressuscitaram os capítulos da novela no YouTube e várias listas do Buzzfeed foram dedicadas aos personagens de Marcos Pasquim (o protagonista Esteban), Adriana Esteves (o seu par romântico Lola), Danielle Winits (o outro par romântico Marisol) e Marcos Pasquim de novo (em todas as outras versões de Esteban).

"Kubanacan é o nosso Lost", disse Arthur "Tuba" Zeferino, fã latente de Kubanacan e criador do game Fish, um jogo de tiro inspirado na novela das sete. Arthur é desenvolvedor há anos e contou que a ideia nasceu de frustrações anteriores. "Já tentei fazer um monte de jogo e nenhum foi pra frente", explicou, "então resolvi fazer um que realmente queria fazer, sem ficar pensando se vai fazer dinheiro ou não".

Além de criar mapas customizados de Duke Nukem quando era mais novo, Arthur curte muito jogos de tiro como Wolfenstein 3D e Doom. Apesar de sempre querer desenvolver um game do tipo, ele queria "um cenário que fosse diferente, que não fosse segunda guerra nem demônio", contou. "Pensei em uma ilha tropical, com uma ditadura e tal, e na hora pensei em Kubanacan."

Arthur confessou que a última novela que acompanhou na TV foi O Clone, de 2001, então teve que rever Kubanacan no YouTube para pegar as referências, mas garante que o seu jogo não copia a novela, apenas presta homenagem a ela. "Não é uma adaptação. Não é um jogo de Kubanacan", disse. "Na verdade, tem vários Easter Eggs, nomes de personagens e tal. Talvez, as influências puxem até mais de One Piece do que Kubacanan."

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"Os inimigos, por exemplo, são piratas, homens-peixe, e One Piece tem uma parte que tem personagens parecidos", explicou. Mesmo assim, quem é fã da novela vai encontrar boas referências em Fish.

As várias personalidades do protagonista Esteban Maroto, vulgo Pescador Parrudo, devem aparecer na forma de power-ups que o jogador coleta. "No jogo ele é só o Pescador, apesar de também sempre andar sem camisa, que nem o [personagem do] Marcos Pasquim", Arthur explicou. "Mas temos os power-ups, com que você vai poder mudar [pros poderes] do Dark Esteban e tudo mais. Os poderes são tipo invencibilidade e tal, bem baseado em Doom mesmo."

Na sanha de manter a fidelidade do personagem no qual se inspirou, Arthur está tentando chamar a atenção do ator Marcos Pasquim nas redes sociais para que ele faça a voz em português do protagonista de Fish. "Não tem muito diálogo no jogo, mas vai ter uma coisa meio Duke Nukem, com umas frases de vez em quando. É difícil conversar com [o Marcos Pasquim], mas aceitando, a gente conversa com o pessoal que está fazendo o som do jogo, eles que cuidariam disso."

Além do Pescador, outras personagens também são inspiradas na novela. "Tem uma personagem que se chama Lola, que não tem nada a ver com [a personagem interpretada pela Adriana Esteves], mas tem esse nome. Ela é a chefe da resistência da ilha que tá lutando contra os piratas e ela te dá instruções." Já a Marisol da novela, interpretada por Danielle Winits, é representada por uma cientista de mesmo nome que se alia aos vilões do jogo.

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O desenvolvedor também quer encaixar a trama de viagem no tempo de Kubanacan no seu game, mas de um jeito diferente: "Um dos lances do jogo é coletar as escamas dos homens-peixe", contou. "Na hora de salvar o jogo, você tem que usar essas escamas para criar um 'save point'. É igual a Ori and the Blind Forest, em que você pode criar um checkpoint em qualquer lugar da fase."

Fish é bem parecido com os clássicos do próprio gênero, como Doom e Quake, mas com uma novidade: um gancho com uma corda. "Em Fish, você pode usar o gancho para puxar coisas, mas também pode grudar no cenário para se movimentar." A inspiração veio do gancho dos jogos de Zelda no Nintendo 64, Ocarina of Time e Majora's Mask.

A parte mais original de Fish está na sua trilha sonora. Arthur encomendou uma trilha "meio samba-rock, meio Cowboy Bebop" pro estúdio carioca Cafofo, responsável pelo som de Distortions, jogo brasileiro independente premiado no último BIG Festival. "Essa foi a referência que eu dei. Eu nunca vi um jogo com samba-rock, então pedi uma trilha que pudesse ser tanto de Hermes e Renato quanto de Cowboy Bebop."

O criador faz questão de reforçar as referências brasileiras de Fish, porque sente que tanto o público quanto outros desenvolvedores não sabem aproveitar direito a cultura local. "A gente deveria se inspirar em mais coisas brasileiras, não só nas novelas, mas nos filmes também, tem muito filme bom, e também na música. O samba-rock é uma coisa só nossa e você não vê sendo usado nos games. O samba também não", completou Arthur. "Tem muita coisa boa aqui para ser usada e o pessoal tá bobeando."

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