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Noisey

RIP Walter Becker, cofundador do Steely Dan

O falecimento do músico, aos 67 anos, foi confirmado neste domingo (3) pela manhã.
Foto: James Leynse / Getty Images

Artigo originalmente publicado no Noisey US .

Walter Becker, cofundador da lenda do jazz-rock Steely Dan, morreu neste último domingo (3), aos 67 anos de idade. A morte foi confirmada pelo site de Becker. Não foram divulgados maiores detalhes nem a causa do falecimento até a publicação desta matéria. Becker havia passado recentemente por uma cirurgia que o impediu de sair em turnê com seu parceiro do Steely Dan, Donald Fagen.

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"Walter Becker era meu amigo, meu parceiro de composições e colega de banda desde que nos conhecemos ainda estudantes no Bard College em 1967" escreveu Fagen em uma homenagem a Becker publicada na Rolling Stone. "Era afiadíssimo, excelente guitarrista e grande compositor. Cínico quanto à natureza humana, incluindo a própria, e engraçado de um jeito que beirava a histeria."

Becker nasceu no Queens, em Nova York, e cresceu entre Forest Hills e Westchester County. Após ter começado a tocar guitarra no ensino médio, ele aprendeu técnicas de blues com seu vizinho, que tocou com Jimi Hendrix e fundou o Spirit, Randy California. Becker estudou no Bard College, onde conheceu Fagen em 1967, na cafeteria Red Balloon do campus. Os dois fizeram amizade por conta do amor em comum pelo jazz e rock e logo começaram a tocar juntos, mais conhecidamente como Leather Canary, acompanhados pelo colega de faculdade e futuro comediante Chevy Chase na bateria.

Os dois retornaram à Nova York logo após se formarem, em 1969. Apesar das tentativas da dupla de conseguir trabalho de forma regular, as coisas não deram muito certo lá no Brooklyn. Eles gravaram a trilha do agora esquecido de filme de Richard Pryor You've Got to Walk It Like You Talk It or You'll Lose That Beat, além de terem tido um sucesso fugaz em 1971 quando Barbra Streisand gravou um cover de "I Mean to Shine". A coisa não engrenou até que Becker e Fagen se mudaram para Los Angeles em 1971 a pedido do produtor Gary Katz, da ABC Records. Eles formaram o Steely Dan — batizado assim em referência ao consolo a vapor de Almoço Nu de William Burroughs — junto de Denny Dias, Jeff Baxter, Jim Hodder, formação completada pelo vocalista David Palmer.

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O primeiro single da banda, "Dallas", foi lançado pela ABC em 1972, e teve um desempenho horroroso. O Steely Dan só foi ter bons resultados críticos e comerciais com o disco de estreia Can't Buy a Thrill. "Do It Again" e "Reelin' In the Years" ficaram entre as 20 primeiras da Billboard após o lançamento ("Quem diria?" escreveu Robert Christgau em sua resenha do disco para a Creem em 1973. "Um single de sucesso com um disco bom na rabeta. Letras oblíquas, até mesmo filosóficas, o que faz sentido para uma banda cujo nome veio de um consolo de um romance de Burroughs").

Seu segundo disco, Countdown to Ecstasy, foi lançado em 1973, com Fagen assumindo os vocais após a saída de Palmer. Por mais que o disco não tenha superado as vendas do disco de estreia — …Ecstasy começou no 35o lugar das paradas e não teve um único single de sucesso — a recepção positiva dos críticos foi quase que universal.

"Quando começamos a fazer esse tipo de coisa, quando Donald e eu estávamos compondo canções e mostrando elas às pessoas, eu cantava muitas delas pois minha voz era muito mais alta", disse Becker em entrevista à Time Out em 2008. "Eu gostava de cantar. Donald meio que ficava ali encolhido tocando piano e não cantava tão alto assim. Foi só quando entramos em estúdio que percebi que ele era um puta vocalista e eu era um cantor fudidamente desafinado."

Pretzel Logic de 1974 rendeu o maior single da banda, "Ricki Don't Lose That Number". Foi o primeiro disco do Steely Dan com Becker na guitarra e não no baixo. O grupo sairia em turnê com o cofundador dos Doobie Brothers, Michael Macdonald, nos teclados, mas logo a banda começou a ruir: Becker e Fagen queriam se concentrar em discos de estúdio, enquanto Baxter, Dias e Hodder queriam cair na estrada. Becker e Fagen seguiram adiante sem eles — agora voltados ao trabalho em estúdio, com a participação de Macdonald em Katy Lied, de 1975.

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Algumas das melhores obras do Steely Dan nasceram ao final dos anos 70, com os agora clássicos The Royal Scam e Aja sendo lançados em 1976 e 1977, respectivamente, mas Becker passava por problemas físicos e mentais nesta época, por conta do uso de entorpecentes, hábito adquirido ao longo da carreira com a banda. A namorada de Becker, Karen Roberta Stanley, morreu de overdose no Upper West Side pouco após o Steely Dan voltar à Nova York em 1978. Dois anos depois, em 1980, Becker sofreu um acidente, tendo sido atropelado por um carro em Manhattan. A banda lançou Graucho em 1980, que contou com o hit "Hey Nineteen", mas se separaram pouco depois.

Becker mudou-se para Maui em 1981, largou as drogas e deu início à carreira de produtor. Ele ainda compunha e gravava com Fagen esporadicamente ao final dos anos 80 até que a dupla anunciou o retorno e uma turnê para o Steely Dan em 1993.

Em entrevista à JAZZIZ Magazine em 1993, Becker dizia estar "bastante confortável" com os louros do sucesso nos anos 70. "Abre portas", ele disse. "Quando conheço pessoas, elas já sabem quem eu sou. Tem sido uma influência muito boa e positiva nas pessoas com quem conheço e trabalho… Sempre arranco um sorriso do pessoal em Paea. Distribuo CDs de graça como se eles estivessem pra sair de moda e lucro com o que posso. Tivemos sorte de ter aquela década horrível. Parece que os anos 70 foram muito menos curto que algumas outras décadas."

Becker e Fagen produziram discos solo um para o outro no começo dos anos 90 — 11 Tracks of Whack de Becker foi lançado em 1994. O oitavo disco de estúdio do Steely Dan, T wo Against Nature, saiu em 2000 e foi Disco do Ano no Grammy, superando Kid A do Radiohead. Becker entrou para o Rock and Roll Hall of Fame em 2001 junto de Fagen antes do Steely Dan lançar seu último álbum, Everything Must Go, em 2003.

O último trabalho solo de Becker, Circus Money, com influências do reggae, saiu em 2008.

Em conversa com a Time Out, Becker revelou parte de sua filosofia de composição. "O sonho, é claro, é de uma relação estável, intrauterina", disse. "Mas mesmo essa relação acaba da mesma forma, sabe? Você é chutado e é essa a zona do impacto. É aí que mora a diversão, é sobre isso que se compõe".