FYI.

This story is over 5 years old.

Motherboard

A busca pelo laptop mais fino está ferrando com nosso trabalho

Na sede por computadores portáteis mais leves e estreitos, a indústria criou uma geração de hardware meia bomba sem espaço pro ar dispersar.
Foto: Apple

Ao longo dos últimos dias temos visto protestos sobre o novo MacBook Pro da Apple, que oferece um processador i9 top de linha opcional, e como seu desempenho é reduzido conforme o laptop aquece com o tempo.

Inspirado por um vídeo do youtuber Dave Lee, que demonstra que o único jeito de obter o desempenho prometido pela Apple para o MacBook Pro é mantendo-o na geladeira, o protesto tem sido brutal.

Milhares de comentários no vídeo dizem coisas como “Wow se não consegue manter nem a velocidade básica é realmente triste” e “A Apple deveria oferecer uma geladeira pra acompanhar o Macbook i9” , mas a realidade é que essa característica é normal em laptops – a gente só está começando a ver isso com mais frequência.

Publicidade

À medida que nossas expectativas mudaram com a forma que trabalhamos com computadores, se tornou comum tentar e impor até as mais exigentes tarefas como renderização de vídeo, desenvolvimento de software e jogos de alta qualidade, em laptops. Tem sido divertido fazer parte dessa mudança, e as coisas que você pode fazer com um laptop hoje são fodas: VR em movimento, ou renderização de gráficos em um trem, mas no dia-a-dia, essa mudança mexeu com nossa percepção do que significa “desempenho”.

Computadores de mesa caíram na popularidade durante a última década, mas muitas das tarefas que estamos exigindo de nossos laptops simplesmente não podem competir com a potência de um desktop pelas restrições físicas de seu fator de forma. O problema, quase sempre, é o calor: esquenta muito, mas não tem espaço suficiente pra dispersar o ar.

A mudança dos desktops para os laptops pode ser atribuída às empresas e ao movimento “traga seu próprio dispositivo” que foi projetado para economizar dinheiro. Em vez de fornecer um computador em cada mesa para os funcionários, o empregador pode oferecer um laptop que também possa ser usado fora da empresa ou até mesmo exigir que você leve o seu próprio aparelho. Na VICE Media, por exemplo, a maioria dos funcionários recebe laptops da Apple.

A empresa economiza dinheiro, e sua mesa vira uma estação de ancoragem, então você fica feliz sabendo que pode usar aquele confortável e familiar dispositivo. Mas a desvantagem é que até mesmo um laptop de ponta vai sofrer pra competir com as especificações de um desktop razoável.

Publicidade

A busca por laptops mais finos e leves, uma tendência impulsionada pela Apple, significa que sempre nos decepcionamos com o desempenho – e isso não vai melhorar tão cedo.

O que está acontecendo?

Controle térmico não é algo exclusivo da Apple: todos os laptops por aí enfrentarão restrições térmicas em algum momento, mas se isso é ou não perceptível depende de diversas variáveis como o fator de forma e a capacidade de resfriamento.

Quando você vai comprar um notebook, você pode notar que marcas como a Apple usam frases como “Turbo Boost” e “Up to 4.8 GHz” sem realmente explicar o que aquilo significa. A velocidade do clock do processador de 4.8 GHz, citada pela Apple sobre o MacBook Pro de 15 polegadas, é a melhor velocidade atingida pelo processador, que é obtida apenas em alguns curtos momentos quando o computador solicita, sujeita à várias condições.

Se você está jogando um jogo tipo Fortnite, por exemplo, o jogo vai exigir do seu processador um desempenho mais rápido, e o processador vai tentar melhorar sua frequência de operação gradualmente para oferecer o desempenho máximo disponível dentro das condições térmicas de sua máquina.

Esse desempenho máximo é definido por ambos, potência e limite térmico, que é onde nos deparamos com o problema: laptops tendem a ficar quentes porque são mais finos, com espaço limitado para dissipar o calor através do uso de ventiladores e heatsinks.

Publicidade

Os limites da temperatura e quando o throttling começa, varia, mas a Intel se refere a esse limite como “TCC Activation Temperature.” Essas configurações não podem ser alteradas e são ocultadas do usuário por uma razão: elas são confusas e os grandes números fornecidos pelo Turbo Boost parecem melhores se você deixar isso de lado. As especificações detalhadas da Intel no ARK que abrangem tudo, desde o tamanho da CPU até a temperatura máxima que pode alcançar, intencionalmente excluem essa medida.

Dependendo do tipo de laptop que você tem, essa medida pode ser diferente. Com uma ferramenta como a HWInfo for Windows, você pode ver onde a TCC Activation começa: em muitos laptops essa medida fica entre 80-90 graus Celsius durante um bom tempo. Também pode ser bem menor, o que significa que sua máquina fica mais lenta à medida que fica mais quente.

Quem tem um MacBook Pro pode usar uma ferramenta gratuita para monitorar e deduzir o aquecimento chamada Intel Power Gadget. O canal Linus Tech Tips usou a ferramenta para descobrir o superaquecimento do dispositivo por volta de 90 graus Celsius, apenas 20 minutos depois de sair da caixa. Isso provavelmente não vai acontecer enquanto você navega na internet, mas se você sobrecarregar a máquina mesmo que por pouco tempo, provavelmente atingirá esse teto também.

Controle termal ou thermal throttling é algo normal na indústria de laptops, mas é difícil entender devido ao marketing não muito claro da Intel que esconde a real velocidade do clock de um processador atrás de números grandes como ‘turbo boost’ ou “quad core.” 4.2GHz parece rápido, e com certeza é melhor que 4.0GHz, mas quando você está superaquecido o tempo todo isso não significa muito, sem falar do fato de que o processador só atinge essa velocidade em alguns momentos.

Publicidade

Da perspectiva do usuário, o superaquecimento geralmente acontece assim: no começo seu computador é incrivelmente rápido, mas quanto mais tempo você passa fazendo seu trabalho, mais alta a temperatura fica. Uma vez que a máquina atinge uma temperatura nos limites da TCASE, o laptop vai silenciosamente começar a superaquecer, e os jogos vão ter dificuldades em manter o FPS, ou trabalhos mais pesados como renderização de vídeo vão demorar mais.
Essa, inclusive, é a razão pela qual laptops de games parecem enormes quase sempre: eles são enormes para acomodar mais hardwares de resfriamento que qualquer outra coisa. Mesmo os laptops de games considerados finos e leves são grandões, porque um hardware focado em desempenho precisa de espaço pro ar dispersar tanto quanto for possível.

A busca pelo mais fino

A insaciável sede da Apple pelo ‘mais fino’, que podemos ver por meio do iPhone e do Mac, parece ter finalmente alcançado o fundo do poço. Seu novo hardware é o mais potente até agora, mas a sua forma não condiz com o desempenho descrito na embalagem porque a falta de espaço interno do laptop significa que ele é termicamente restrito.

Foto: Divulgação

A desmontagem que o iFixIt fez do MacBook Pro 2018, acima, revela o problema: cada centímetro dessa máquina é preenchido com hardware, o que compete com os ventiladores e diminui o espaço do heatsink que fica na borda superior da máquina para resfriá-la. Embora essa quantidade de resfriamento seja adequada para a maioria das cargas de trabalho, ferramentas profissionais como Blender 3D ou Xcode vão rapidamente atingir o teto térmico e o desempenho vai cair.

Publicidade

Além de deixar o MacBook mais espesso - o que é inédito na Apple -, há pouco que a empresa pode fazer para resolver isso. Esta não é a única peça termicamente restrita que a Apple fabrica. Depois de anos de silêncio, a Apple admitiu em 2017 que o Mac Pro de ponta estava estagnado porque “[…] nós projetamos para um ponto térmico específico.”

Em laptops mais espessos com o mesmo peso/desempenho que o MacBook 2018, como o Dell XPS 15, a dissipação térmica é um pouco melhor devido ao espaço a mais disponível – mas mesmo essa máquina eventualmente sofre com o mesmo problema de superaquecimento.

Como o novo MacBook é tão fino, simplesmente não tem lugar para o calor transitar, e existem poucas maneiras de melhorar a dissipação dos ventiladores – como resultado a temperatura aumenta mais rápido já que o calor não pode ser dissipado.

Algumas pessoas usam ferramentas como a ThrottleStop em seus laptops para desligar a CPU, o que permite ao usuários baixar a voltagem da CPU, reduzindo o calor e potencialmente conseguindo desempenho extra das máquinas. Fazer isso, no entanto, não é o ponto: eu e você não temos tempo pra isso e essas restrições deveriam ser informadas antes da compra.

O problema não é o superaquecimento

Embora a galera do marketing da indústria dos laptops precise de chacoalhão pra tornar essas informações mais claras para os consumidores, esse não é realmente o grande problema: as expectativas da indústria ‘pro’ são. De desenvolvedores a videomakers, todos nós estamos, todos os anos, forçando workflows cada vez mais exigentes em laptops menores e mais finos, quando deveríamos estar usando desktops. Essas pessoas são uma minoria, com necessidades específicas, e eu não acho que elas ficarão satisfeitas.

Desktops saíram de moda conforme os consumidores se voltaram mais para os tablets e smartphones, e se tornou mais incômodo do que nunca manter várias máquinas em sincronia. Parece quase absurdo ter uma caixa gigante debaixo da mesa pra conseguir trabalhar, afinal você tem um supercomputador no seu bolso, então por que um laptop não pode fazer o mesmo? Para usuários de Windows e Linux, você pode atualizar as peças do seu PC caso precise de uma potência maior, o que sai razoavelmente barato. Já os fãs do sistema macOS, no entanto, ficam à mercê da Apple.

Publicidade

A vendas da Apple, porém, já não são mais voltadas à essas pessoas: seus laptops são pacotes completos projetados para as massas, não para os profissionais. O fato de ainda estarmos usando esses produtos profissionalmente é um efeito colateral de seu sucesso e da qualidade da marca Mac, mas na realidade eles nem sempre são a melhor máquina para trabalhar.

Isso prejudica os usuários mais exigentes da Apple, mais do que qualquer outra pessoa, porque basicamente eles ficam sem opções como resultado da limitada linha de desktops Mac. Na ausência da próxima atualização do Mac Pro, a única opção de alta qualidade que não sofre com o superaquecimento disponível para os usuários é o iMac Pro, são as que custam caro.

Existe outra saída: laptops maiores.

Se os usuários profissionais fossem o público alvo das vendas da Apple, a companhia poderia redesenhar esses laptops para usar a forma do bom e velho MacBook Pro de 2015. Com aquele espaço disponível, e algumas melhorias no design do processador, seria possível resfriar o mesmo hardware e melhorar bastante o desempenho – mas isso nunca vai acontecer. Laptops mais grossos significariam admitir falhas.

Mais finos e mais leves é ótimo, honestamente, somos todos atraídos pelo desafio de deixar tudo cada vez mais compacto. A triste realidade para aqueles que precisam dessas máquinas para trabalhar é que elas não são boas o suficiente, e gostaríamos de ter opções de máquinas maiores em troca de um hardware que não seja limitado pelo calor. A Apple insiste que esse novo MacBook é para os ‘usuários profissionais’, e apesar de ter um dos melhores designs de hardware da atualidade, o computador simplesmente não aguenta o tranco.

O MacBook Pro não é projetado para usuários profissionais de jeito nenhum, é uma máquina de marketing feita para ser vendida ao ‘prosumidor’ rico que não notaria as falhas de qualquer maneira. Isso está bem claro desde a introdução da Touch Bar e a morte do SD slot – e a empresa continua fazendo toneladas de dinheiro de qualquer maneira.

Leia mais matérias de ciência e tecnologia no canal MOTHERBOARD .
Siga o Motherboard Brasil no Facebook e no Twitter .
Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter , no Instagram e no YouTube .