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A história do jogador que descobriu alienígenas em 'Elite: Dangerous'

Era uma noite normal, até deixar de ser.

Esta matéria foi originalmente publicada no Waypoint.

"Desculpe a demora", disse pesaroso Robert Bettig, o DP Sayre. "A vida anda agitada." Bettig está ocupado porque, no começo de janeiro, totalmente por acaso, tornou-se o primeiro jogador de Elite: Dangerous a encontrar vida extraterrestre.

Ao longo de dois anos, Bettig investiu mais de duas mil horas — mais de 12 semanas seguidas — em um jogo que o interessava porque ele curte simuladores de voo. (O fato de se passar no espaço era só um bônus bacana.) Até recentemente, Bettig era só mais um viajante especial em Elite: Dangerous, um homem percorrendo rotas de comércio, explorando planetas e atacando naves piratas. Agora, ele é famoso.

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"Eu não estava em uma busca ativa por alienígenas", contou. […] "A experiência toda foi intensa, parecia que eu tinha entrado em um filme do Ridley Scott."

Por mais de dois anos, os fãs de Elite: Dangerous pensaram estar sozinhos. Embora a série Elite sempre tenha trazido encontros com Thargoids perigosos, os insectoides não estavam presentes nesta versão do jogo. Mas nos últimos 18 meses, os desenvolvedores foram lentamente insinuando a existência de vida inteligente, deixando dicas que os jogadores tinham que descobrir pelo caminho. Geralmente, os jogadores que se dedicam ao trabalho de detetives são recompensados com o prêmio máximo — neste caso, alienígenas. Em vez disso, desta vez, o jogo foi atualizado na surdina e os desenvolvedores esperaram alguém cair na armadilha. Pode ter levado dias, semanas ou meses, mas o risco maior valeu a maior recompensa.

(Os desenvolvedores recusaram meu pedido para falar sobre o que aconteceu, provavelmente porque é só o começo do que ainda está por vir. Vamos procurá-los de novo mais para frente.)

Mas o que Bettig encontrou não foi sutil. Foi simplesmente apavorante.

Em Elite: Dangerous, os jogadores podem ser tirados do supercruzeiro, método de viagem mais rápida que a luz, por outros players e elementos perigosos. É a chamada interdição. Você é colocado em um minijogo e, se não passar, sua nave é danificada por calor e depois fica sujeita a um demorado resfriamento, situação perfeita para qualquer um que queira se aproveitar de você. O que aconteceu com Bettig foi muito mais preocupante: hiperdição. A nave dele foi arrancada de um salto para um hiperespaço.

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No vídeo, todos os sistemas dele travam. Há uma nave inimiga por perto, sugerindo que seu fim está próximo. Ele se prepara para o pior.

"Quando aquela nave estranha sobrevoou e chegou para me enfrentar, e eu estando completamente incapacitado, pensei que estava prestes a entrar em um mundo de angústia", conta. "Ia ter que recomprar tudo — 40 milhões de créditos pela nave, o trabalho não ia ser pouco. Fiquei lá resignado a assistir, morto no espaço enquanto o caçador de recompensas de NPCs se abria diante da minha nave."

Mas aí, quando tudo parecia tomar uma direção ruim, piorou. A música sinistra aumentou e um objeto estranho passou pelo alto. Uma nave de aparência orgânica que pulsa e gira — não era obra de seres humanos. Aquela coisa, seja lá o que fosse, fez uma varredura da nave de Bettig e foi embora na mesma velocidade em que chegou. Estava brincando com ele, estudando-o.

"Fiquei em choque, as mãos tremendo, só tive a clareza de ficar apertando o botão de gravar", contou. […] "Demorei um momento para me recompor. Eu estava na comunicação contando para todo mundo o que vi e não acreditavam em mim."

Bettig joga Elite no Xbox One, com o qual viaja pelo espaço enquanto conversa com jogadores do 75 th Ranger Regiment da Ryder Rangers, organização de que faz parte. (Você precisa se candidatar para entrar para esse grupo, que está sempre entrevistando novos recrutas.) Como em um apelo de Mulder a Scully, Bettig insistia no que tinha visto. O grupo começou a buscar informações, mas não encontrou nada. Seja lá o que tenha acontecido, Bettig foi o primeiro a ter a experiência.

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"Tive que esperar cerca de meia hora para compartilhar o primeiro vídeo enquanto renderizava antes que pudessem ver no meu perfil", contou. "Eu podia assistir, mas queria refutar qualquer chance de dano cerebral — acho que alguém [brincando] sugeriu essa possibilidade no chat."

"Fiquei em choque, as mãos tremendo, só tive a clareza de ficar apertando o botão de gravar."

Quando o vídeo foi publicado, estourou. Foram quase 200 mil visualizações e as imagens foram compartilhadas por toda a internet. Mesmo o desenvolvedor do jogo, Frontier, reconheceu a descoberta, que chamou de "estranha".

A resposta foi absurda, ao ponto que o irmão de Bettig, Matt, foi trazido para ajudar a responder a todas as solicitações, porque o jogador foi "inundado com todo tipo de atenção inesperada". Na real, é por causa do irmão que sabemos mais sobre o que aconteceu. Bettig mesmo só queria sumir.

"Quando o encontro aconteceu, meu irmão estava indo para a minha casa para, entre outros motivos, se gabar por ter me vencido no centro galáctico", contou. "Se ele não estivesse lá, eu teria me enfiado embaixo da terra até a comoção passar. Não sou a pessoa mais sociável, então quase que na mesma hora pedi para ele ser meu 'agente'."

(Você está fazendo um excelente trabalho, Matt.)

"Foi estressante naquele dia, quando finalmente saí da cama depois de uma noite longa", afirmou. "Meu irmão colocou o laptop na minha mesa de jantar e disse: 'Senta aí e escreve.' Eu não tinha noção do tamanho da coisa — era muita gente em muitas redes sociais. Fiquei muito feliz de me limitar ao e-mail. Mais tarde naquele dia, comecei a repassar as primeiras cem mensagens na minha conta no Xbox Live. Foi cansativo de verdade. Até hoje ainda recebo mensagens."

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Em um jogo cheio de usuários em sua maioria anônimos, por um breve momento, Bettig se tornou o centro das atenções. Embora não se sinta confortável com os holofotes, ele está fazendo um esforço.

"Prefiro explorar", afirmou, "mas agora, principalmente com essa nova fama, vou ficar um pouco no 'espaço ocupado' para ajudar outros jogadores e, com sorte, continuar a inspirar a comunidade."

Se as últimas notas de atualização de Elite: Dangerous servem de indicativo, parece que uma guerra se aproxima. Se Bettig e os outros quiserem sobreviver ao que vem por aí, vão precisar de toda a ajuda que conseguirem encontrar.

Tradução: Aline Scatola

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