Milo Yiannopoulos

FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Como a extrema direita reagiu à queda de Milo Yiannopoulos

Os alt-right estão indo longe para explicar os comentários “pró-pedofilia” do ex-editor do Breitbart.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Canadá.

Parece que Nero finalmente foi consumido pelo fogo que ateou.

O provocador de extrema-direita Milo Yiannopoulos, que renunciou à sua posição como editor de tecnologia do site Breitbart na tarde da última terça (21), está tendo uma semana difícil, depois te ser desconvidado para palestrar na CPAC e ter seu contrato para um livro de mais de $250 mil cancelado. Yiannopoulos, o @nero do Twitter antes de ser uma das raras personalidades da mídia realmente expulsas da rede, viu seu império troll finalmente ruir depois do surgimento de vídeos dele fazendo comentários aparentemente "pró-pedofilia".

Publicidade

"Nos prendemos a essa coisa de abuso infantil, até o ponto onde policiamos até mesmo relacionamentos entre adultos responsáveis", ele disse num podcast chamado The Drunken Peasants em janeiro de 2016. Mais tarde, na mesma conversa, ele disse que relacionamentos "entre garotos e homens mais velhos… podem ser experiências incrivelmente positivas".

Leia também: "Ex-neonazistas explicam o que impulsiona a direita alternativa"

Num episódio no podcast de Joe Rogan em julho do mesmo ano, Yiannopoulos fez comentários similares e também deu a entender que viu menores sofrendo abuso numa festa e não denunciou.

Yiannopoulos, de sua parte, negou veementemente as alegações, dizendo que seus comentários foram tirados do contexto e que estava brincando. Yiannopoulos se desculpou durante uma entrevista coletiva na mesma terça (21), dizendo que se arrepende dos comentários, mas que "como uma vítima de abuso sexual" seu conceito em apoiar a pedofilia era "absurdo". Ele continuou dizendo que o caso era uma conspiração da mídia para derrubá-lo.

"Vamos ser claros sobre o que aconteceu aqui", disse Yiannopoulos. "Essa é uma caça às bruxas cínica da mídia, vinda de pessoas que não se importam com crianças, só com me destruir e destruir minha carreira, e por extensão meus aliados. Eles sabem que apesar de eu ter feito algumas declarações ultrajantes, nunca fiz realmente nada de errado."

"Eles guardaram essa história, guardaram as filmagens, filmagens que estão por aí há mais de um ano, porque não se importam com as vítimas, não se importam com as crianças, só se importam com me derrubar. Mas vão fracassar."

Publicidade

Como já era de se esperar, os heróis derp da direita alternativa, ou nova direita (seja lá como neofascistas se chamam hoje em dia), ficaram do lado dele… até certo ponto.

Por mais estranho que pareça, alguns dos jogadores mais conhecidos da direita alternativa avançaram contra Yiannopoulos. Richard Spencer e Tim Treadstone (Baked Alaska), o último firmando ser ex-empresário de Yiannopoulos, cagaram na cabeça de seu antigo rei britânico.

"O cara acabou", Spencer disse no Twitter. "Nenhuma pessoa sã vai defendê-lo." Mas se parece que nem Richard Spencer (um supremacista branco assumido) vai defender Yiannopoulos, os pizzagaters vão.

Cernovich durante seu programa online. Foto via screenshot.

Mike Cernovich, mais conhecido como o cara do pizzagate, usou seu programa de rádio online para defender Yiannopoulos. Seu principal argumento era que Yiannopoulos estava brincando naqueles comentários, mas ele também tinha opiniões fortes sobre como o vídeo surgiu. No final do programa, Cernovisch começa e espiralar numa teoria de que tudo isso é um golpe sistemático do "estado profundo" — membros influentes mas desconhecidos de agências militares e do governo (CIA, FBI) — porque "jornalistas cidadãos" estavam se aproximando de seus cartéis de pedofilia. Olha, não é fácil resumir algo tão cristalizadamente idiota, então aqui vai a coisa na íntegra:

"Um terço do estado profundo é pedófilo, para chegar nesse nível eles passam por todo tipo de iniciação que muita gente não acreditaria ser possível, mas é assim que eles te controlam", disse Cernovich.

Publicidade

"O que eles fazem, se você quer estar no mais alto nível — o mais alto nível de poder — eles fazem os novos membros molestarem crianças e gravam tudo. Eles conseguem duas coisas, material de chantagem para sempre sobre a vida deles mas, ainda maior, eles sabem que se você machucar uma criança, você vai fazer qualquer coisa por eles."

"É por isso que eles ficam tão nervosos quando jornalistas cidadãos começam a investigar cartéis de pedofilia em DC, eles ficam perturbados. A mídia das fake news surta e agora eles querem enterrar todos que puderem para tentar distrair de seus verdadeiros crimes, é isso que está realmente acontecendo aqui, 100% do que está acontecendo aqui."

A teoria de que isso é uma operação secreta do estado profundo se estabeleceu em vários círculos da direita alternativa. Jack Posobiec, outra figura conhecida dos alt-right, tuitou que uma fonte disse a ele que $250 mil foram gastos em pesquisas contra Yiannopoulos, para as quais "eles" contrataram "investigadores particulares e editores de vídeo" — o ex-candidato independente à presidência Evan McMullin também estaria envolvido. Lauren Southern, a personalidade da mídia de 21 anos do equivalente canadense do Breitbart, também tinha tuitado que o caso era um golpe, mas depois deletou sua declaração.

Muitas, muitas postagens de blog foram escritas apoiando a ideia de que Yiannopoulos é vítima de um golpe conduzido pelo estado profundo e a mídia mainstream. Mas esses vídeos estavam disponíveis no YouTube há bastante tempo, o que quer dizer que esses "agentes do estado profundo" tinham um puta orçamento para voltar no tempo e obrigar Milo a fazer esses comentários em podcasts públicos.

Publicidade

Dito isso, a conversa explodindo na internet agora é que outros ataques podem acontecer contra membros da panelinha de Yiannopoulos. Cernovich mais tarde tuitou que "o Estado Profundo está indo atrás de qualquer um com muitos seguidores nas redes sociais", ao que Paul Joseph Watson, um teórico da conspiração do Infowars, respondeu "posso confirmar".

Alex Jones. Foto via screenshot.

O que nos leva ao fundador do Infowars (e aparentemente um conselheiro semirregular de Trump) Alex Jones, que postou um vídeo estranho intitulado "Milo É Uma Vítima de Abuso Sexual, Não Promove Pedofilia" noite passada. O vídeo é basicamente ele gritando no escuro sobre Yiannopoulos, e ainda assim é a defesa mais sã de todas.

No vídeo, Jones chama Yiannopoulos de um "cara gay beta" e parece sugerir que ele é gay por causa do abuso e tem síndrome de Estocolmo. Ele chama as matérias sobre Yiannopoulos de "caças às bruxas" e parte para um ataque contra quem defende direitos trans. No vídeo sugere que os jornalistas deveriam ir atrás dos grandes pedófilos de Hollywood e DC em vez de Yiannopoulos.

"Numa escala de um a dez — zero sendo uma pessoa realmente boa com seus filhos e uma boa vida, quando você defende o que é certo. No compêndio, nesse espectro, a maioria de nós é um ou alguma coisa", disse Jones. "Então você tem Sandusky e esses tipos de pessoas que são nove ou dez.

"Milo é três ou quatro, então se vocês vão fritar Milo, é melhor irmos em frente e fritar todo mundo envolvido nisso."

Publicidade

Jones conclui que o caso "com certeza são os republicanos tentando acabar com o apoio de base do movimento nacionalista e populista", depois compara Yiannopoulos a PewDiePie.

A situação inteira parece ter acontecido no Mundo Invertido. Há anos os membros da direita alternativa nunca tinham topado com uma conspiração de pedofilia em que não pudessem enfiar os dentes. Em certo momento, Cernovich chamou Vic Berger de pedófilo várias vezes e atiçou seus trolls contra ele.

Então é interessante observar essas pessoas, que veem pedófilos em cada esquina e que, como Yiannopoulos, usaram a pedofilia como arma de acusação, suando para explicar os comentários do próprio Yiannopoulos.

Às vezes é difícil dizer quando a ligação está vindo de dentro da sua própria casa.

Primeira foto via Facebook e YouTube

Siga o Mack Lamoureux no Twitter .

Tradução: Marina Schnoor

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.