Na Norte o Chicote Estrala

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Na Norte o Chicote Estrala

Moradores da zona norte de São Paulo estão protestando há três dias.

Se você estava dormindo há três dias, talvez não saiba, mas desde a noite de domingo a zona norte de São Paulo está bem agitada. Tudo começou no domingo (27 de outubro), quando a PM recebeu uma denúncia de "perturbação de sossego": um carro tocava funk com volume alto na Rua Bacurizinho. Quando os policiais se aproximaram do local, o jovem Douglas Rodrigues, de 17 anos, passava em frente a um bar com seu irmão mais novo, de 13 anos. Nesse momento, o soldado Luciano Pinheiro, de 31 anos, atirou no peito do garoto. Segundo a PM, o disparo aconteceu por volta das 14h e “foi acidental: a porta da viatura bateu na arma do policial militar”, declarou o advogado Fernando Capano. A abordagem padrão é com a arma travada e apontada para o chão. Segundo testemunhas, Douglas, que estudava e trabalhava numa lanchonete, ainda teve tempo de perguntar ao policial “Por que o senhor atirou em mim?” antes de morrer. Naquela noite, muitos moradores da região saíram às ruas: três ônibus e um carro foram incendiados, muitos depredados, e várias lojas foram saqueadas.

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Ontem, isso se repetiu e, enquanto escrevemos este texto, outros protestos similares acontecem na zona norte, já que hoje, outro adolescente (também de 17 anos) foi morto por outro policial, que declarou ter reagido a um assalto.

Nosso fotógrafo Raphael Tognini foi até lá ontem e conta que, diferentemente do que vimos nas manifestações de junho em São Paulo, o protesto não marchava pelo bairro — a galera estava dispersa nas ruas e nas esquinas. Com medo, a maioria das lojas baixou as grades. Um número maior de gente vinha da Avenida Roland Garros fazendo barricadas, quebrando coisas e jogando pedras na polícia. Das casas, garrafas eram arremessadas em direção a quem estivesse na rua, fosse manifestante ou policial. Enquanto uma agência do banco Itaú era destruída, o Rapha foi gentilmente convidado a dar o fora. Com a câmera dentro da mochila, ele atravessou becos e vielas, e chegou até a Rodovia Fernão Dias, onde a Força Tática se encontrava aos montes e o bicho pegava. Uma pista estava bloqueada pelos manifestantes, que incendiavam caminhões; a outra, bloqueada pela Tática. Agências bancárias, caminhões e ônibus foram depredados. Oficialmente, 77 pessoas foram presas. A PM afirma que enquanto uma loja era saqueada na Avenida Milton Rocha, alguns dos manifestantes portavam armas de fogo e faziam disparos. Pelo menos uma equipe de TV flagrou um tiroteio, que deve ir ao ar ainda hoje.

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A polícia nos informou por e-mail que o soldado Luciano Pinheiro vai responder a processo por homicídio culposo. O outro policial está em liberdade.