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Tecnologia

​A Busca do Exército dos EUA pela Cuequinha Inteligente

É só o começo dessa história de sensores em nossas roupas de baixo.
Crédito: Shutterstock

Esqueça os exoesqueletos monstrões que muitos afirmam ser o futuro dos trajes militares. Para compreender o potencial da próxima geração de roupas de guerra, temos que pensar uma ou duas camadas abaixo: sim, nas cuecas.

Ou melhor, é preciso examinar uma cuequinha em específico: a que aparece no periódico Analyst e que, apesar da aparência inofensiva de Zorba branca, poderia muito bem salvar muitas vidas. Não é um pano qualquer, afinal. Trata-se de uma cueca inteligente. Um Apple Watch para os genitais.

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A história da smartcueca começou com uma bolsa US$ 1,6 milhões vinda do Escritória de Pesquisa Naval em 2008. O vencedor foi Joseph Wang, professor de nanoengenharia da UC San Diego, que queria projetar um "hospital de campanha em um chip". Em outras palavras: um chip que armazenasse e analisasse vários dados de saúde dos combatente. O sistema vestível contaria com sensores para monitorar o sangue, o suor e as lágrimas de um soldado. Também teria reservas de medicamentos para tratar os ferimentos do indivíduo.

Dois anos depois, o Analyst publicou um artigo que mostrou a possibilidade de aplicar a tecnologia nas cuecas de cada dia. Pesquisadores imprimiram sensores químicos dentro do elástico da peça para que ela seguisse na mesma posição mesmo durante movimentos bruscos e para manter um fluxo constante de suor. Nada de nada de desconforto, cofres à mostra e umidade excessiva, portanto.

Apesar da pesquisa promissora, o futuro das cuequinhas de guerra de Wang não está claro. O professor me disse que o projeto "não é mais uma prioridade". Mas a pesquisa no campo de demais vestimentas abaixo do uniforme, de tiras peitorais a adesivos, segue recebendo financiamento do Departamento de Defesa.

"Muitas vezes uma empresa percebe os benefícios de um produto, segue adiante e o lança sem pensar direito nas implicações ligadas à privacidade."

Um grande exemplo são os "biosensores de alimentação própria" desenvolvidos pela Agência de Saúde da Defesa. Eles monitoram os sinais vitais, sono e atividade do usuário. De acordo com o Tenente-Coronel Mark Mellott, o protótipo se assemelha a uma faixa e fica melhor se aplicado mais próximo do peito do que da cueca.

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A empresa de impressão de eletrônicos FlexTech Alliance também está envolvida nas tecnologias para roupas de baixo militares. A companhia recebeu US$ 75 milhões do Departamento de Defesa em agosto para desenvolver biomarcadores que serão acoplados debaixo das roupas dos soldados. Os pesquisadores também desenvolvem uma espécie de emplastro para suor, que, de acordo com o responsável técnico central Malcolm Thompson, é especialmente eficiente quando posicionado na porção inferior das costas.

Diferentemente da ideia do hospital-em-um-chip, ambos os dispositivos foram projetados com cuidados preventivos em mente. Mellott afirma que, já que as tiras peitorais registra o sono, poderia ser útil para determinar quem pode ir a campo – ou ao ar – com segurança.

Thompson reafirma a declaração.

"O Departamento de Defesa tem isolado certos biomarcadores que se correlacionam, não só com fadiga e estresse, mas também com a habilidade de medir capacidades cognitivas", afirma. "Eles estão muito interessados em aplicar isso a um piloto de drone para se certificar de que estão pensando claramente."

As cuecas. Crédito: Yang-Li Yang, Min-Chieh Chuang, Shyh-Liang Loub e Joseph Wang/Analyst

E isso – medir as habilidades cognitivas de um piloto – é uma bela transição à amedrontadora faceta do monitoramento por biomarcadores. Seja coletado por um emplastro ou cueca, seu suor é convertido em dado e, como mencionado pela consultora de segurança Rebecca Herold, a pergunta se torna: quem terá acesso a estes dados?

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"Uma seguradora poderia obter os dados coletados de um soldado durante o dever?" pergunta. "Isso poderia afetar o tipo de seguro e preço que eles conseguiriam? E se mais a frente um empregador obtivesse esses dados?"

Estas preocupações não passam em branco para Mellott.

"Estamos nos certificando de que nossos usuários finais fiquem cientes das responsabilidades dos aparelhos específicos do Departamento de Defesa", afirma, comentando ainda que, para testar, pesquisar e adquirir estes, o departamento precisa atender a questões muito específicas sobre informações de saúde protegidas, de identificação pessoal e de segurança de dados no geral.

Rebbeca também alerta a respeito de um padrão que ela vê se repetir em roupas inteligentes no setor privado. "Muitas vezes uma empresa percebe os benefícios de um produto e segue adiante e o lança sem pensar direito nas implicações ligadas à privacidade", afirma.

Isso seria problemático se seu aparelho biométrico estivesse no seu pulso. Pior ainda se fosse na sua cueca.

Tradução: Thiago "Índio" Silva