Por que tatuei o rosto do Chorão
Na imagem, a tatuagem com o rosto de Chorão na perna da estudante Alessandra Camila. Crédito: arquivo pessoal.

FYI.

This story is over 5 years old.

Noisey

Por que tatuei o rosto do Chorão

Nesta segunda (6), completam-se quatro anos da morte de Chorão, vocalista do CBJr. Por isso, entrevistamos fãs saudosos que marcaram na própria pele o amor pelo ídolo.

Era uma quarta-feira normal. Enquanto tomava café da manhã no trabalho, o som da televisão chamou a atenção do analista de processos Germano Mendes, 30. Ouvir as notícias proferidas pelo jornalista em questão doeu: seu ídolo, Alexandre Magno Abrão, o cara que cantava "Rubão, Rubão, pagou pra ver tcharroladrão!", havia sido encontrado morto. Era 6 de março de 2013 quando Chorão, fundador e vocalista do Charlie Brown Jr., deixou os palcos em definitivo.

Publicidade

Tempos depois, Germano, fã incondicional da banda e de tatuagens, abriu o Google e começou a caçar inspirações para uma reverência post mortem. A escolha parecia radical, e, sim, era: decidiu tatuar em seu braço o rosto de Chorão. Escolheu como base uma foto em que ele estava de fones de ouvido, vestindo uma camiseta extra G e seu usual e ralo bigodinho de malandro. "Foram vários corres pra ir em shows, altas histórias. É uma forma de homenagem por todos os anos que pude acompanhar a banda", explica.

Germano não é o único. Estudante de pedagogia, Alessandra Camilla, 26, foi acordada com cautela pela irmã naquela manhã de março. Todos na família sabiam o quão fã da banda ela era. Quando ouviu que seu ídolo de infância havia morrido, caiu em lágrimas. "Passei o dia chocada, querendo saber mais informações sobre a morte dele", relembra. Próximo à sua casa, numa pracinha, acontecia uma triste e típica cena do rock'n'roll enlutado por seus mais hormonais e verdadeiros entusiastas: trajados em camisetas pretas e tênis All Star, jovens fãs empunhavam violões e relembravam hits do CBJr.

O tempo passou e Alessandra começou a trabalhar em um estúdio de tatuagem. Ao papear com a equipe sobre a possibilidade de macular em sua pele uma frase da banda, recebeu como sugestão a pergunta: "por que você não tatua o rosto dele?". Sem considerar qualquer hipótese de isso parecer absurdo, ela topou. E no dia 6 de março de 2014, quando completou-se um ano exato da morte do músico, sucumbiu às agulhas. "Pensei que seria uma grande homenagem ao meu ídolo", justifica.

Publicidade

Na faculdade, acabou virando atração. "As pessoas sempre comentam: uau, você tem o rosto do Chorão. Que foda!", fala. Mas já presenciou alguns narizes sendo torcidos e foi chamada de louca. Coisa para qual dá de ombros, pois "só quem é fã entende".

A foto original e a perna da estudante de pedagogia Alessandra Camila. Crédito: arquivo pessoal

O garoto pobre que cresceu na cidade paulistana de Santos realizou seu maior sonho ao se consagrar como um working class hero do rock nacional (você pode discordar, mas vou insistir que isso é verdade). Apesar de tomar as telas da MTV Brasil com seu primeiro clipe, "O coro vai comê!", em 1997, o jovem Chorão sobrevivia graças ao ticket refeição da namorada, com quem morava num apartamento antigo. Com o pouco dinheiro, os dois comiam esfirras e tomavam Coca-Cola.

Maloqueiro, vagabundo, não uso sapato, cantava, rebelde, em suas letras o skatista. E, assim, o Charlie Brown Jr. conquistou uma legião de fãs e detratores (principalmente depois que o músico desferiu um soco no rosto de Marcelo Camelo, na época, vocalista dos Los Hermanos). Foram 12 discos, seis DVDs, dois Grammys latinos.

Desbocado e sempre com o discurso humildão, Chorão foi ganhando peso, tatuagens — tinha "Marginal alado" e "Skate por toda vida" nos antebraços —, amigos e inimigos ao longo da carreira. Em 2013, manchetou os principais jornais do país: a um mês de completar 43 anos, foi encontrado morto na cozinha de seu apartamento em São Paulo depois de uma overdose.

A história não parou por aí. O baixista, parceiro de banda e amigo Champignon, com quem Chorão havia brigado a ponto de lançar ofensas em dia de show, se matou com um tiro na boca dentro da própria casa meses depois. Sua esposa estava grávida. Os fãs de Charlie Brown Jr., já inconsoláveis à época, não podiam acreditar.

Publicidade

Até hoje, mesmo com o fim da banda, grupos e mais grupos de Facebook proliferam memes, fotos e vídeos da banda. No Spotify, o CBJr soma mais de um milhão de ouvintes mensais. Mas, entre os mais jovens, o foco é sempre o mesmo: Chorão, a quem chamam de herói e poeta.

A estudante de moda Agatha Mendes, que tatuou o rosto de Chorão na coxa. Crédito: arquivo pessoal

"O cara era foda como pessoa e como artista. Suas letras e sua voz foram minhas melhores conselheiras ao longo desses anos. Ele era único", emociona-se a estudante de moda Agatha Mendes, 24, que tem cinco tatuagens em homenagem ao vocalista. Uma de suas coxas traz um Chorão de boné na cabeça e microfone na mão.

Quem escolheu a foto que serviria de base para o desenho foi o tatuador. Direta, Agatha fez somente uma imposição: "Pedi que não fosse uma foto recente, pois ele parecia estar muito triste." No dia em que a morte do músico foi anunciada, ela reuniu todos os discos do CBJr e passou a tarde ouvindo as músicas que marcaram sua adolescência.

A estudante de moda Agatha Mendes, que tatuou o rosto de Chorão na coxa. Crédito: arquivo pessoal

Assim como os outros fãs, também ouviu críticas e comentários desagradáveis. "Mas nunca liguei. Tenho orgulho do que o Chorão foi, então, consequentemente tenho muito orgulho da tattoo também."

@DéboraLopes

Leia mais no Noisey, o canal de música da VICE.
Siga o Noisey no Facebook e Twitter.
Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.